Capítulo 85

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— Por que está rindo? — Perguntou com a testa franzida sem entender. — É um assunto muito sério!

— Desculpe, filho. — Conseguiu se controlar. — Mas isso é karma, certeza. 

— Para de brincar, eu estou mal com isso, não sei o que fazer! — Jorge voltou a dar risada. — Foi uma péssima ideia ter vindo aqui falar com o senhor, né? Esquece o assunto, eu me viro. — Se levantou pra sair da sala. 

— Senta aí, meu filho! — Apontou de volta pra cadeira novamente controlando as risadas. — Desculpa, mas é engraçado. Você não precisa ficar com essa cara, isso não é o fim do mundo. 

— Como não é o fim do mundo, a minha esposa está grávida de outro homem! 

— Sua esposa engravidou de outro homem enquanto vocês não estavam juntos! Ela não te traiu, não tem nada de errado nessa situação, acontece por aí muito mais do que você imagina. — Deu de ombros e Micael o encarou. — Você mesmo tem um filho com outra mulher. 

— Que ela levou meses pra me perdoar por ele e até hoje eu não sei se perdoou totalmente, já que joga na minha cara toda hora. — Cruzou os braços com um bico. 

— E você quer o quê? Fazer que nem ela? Vai terminar e ficar com outras pessoas pra deixar ela mal por causa de um filho que ela não planejou? Imagina como está a cabeça dela em relação a essa criança?!

— Não tive tempo de imaginar como está a cabeça dela, no momento ainda estou tentando colocar a minha no lugar. — Jorge balançou a cabeça. — E é claro que eu não vou ficar com ninguém, não quero que ela fique mal, eu nunca quis isso. Acontece que é um filho, ela aceitou o Miguel, mas ele fica comigo um final de semana a cada quinze dias e olhe lá. 

— Está dizendo que porque você é um pai relapso pode ter um filho fora do casamento? — Ergueu uma sobrancelha pro filho que soltou um suspiro. 

— Eu não sou relapso! — Se defendeu e Jorge prendeu outra risada. — Estou dizendo que por mais que eu tenha um filho com outra pessoa, ele tem mãe, não cabe a Sophia fazer esse papel. Diferente do que vai acontecer com o filho dela, afinal, a criança vai morar com a gente, eu vou ter que ser pai de um filho que não é meu! 

— É tão absurdo assim dar amor à uma criança só porque ela não tem seu sangue? — Balançou a cabeça negativamente enquanto observava o filho. — Uma criança da mulher que você diz que ama? 

— O senhor fala e parece que viveu isso. — Questionou e viu o pai se recostar na confortável cadeira. 

— Vou te contar algo que eu e sua mãe guardamos em segredo há mais de trinta anos. — Micael ficou receoso, em silêncio, ouvindo com atenção. — Quando eu a conheci ela namorava com um outro rapaz da escola, muito mais popular e promissor do que eu parecia ser. Eu sempre amei a sua mãe, desde que bati os olhos nela. Acho que você pode imaginar o que aconteceu. 

— Ela engravidou? — Perguntou pensando naquele absurdo e em seus irmãos. — O que aconteceu, perdeu a criança? 

— Perdeu? — Ele deu risada. — É o Marcelo, Micael. 

— Está de brincadeira. — Abriu a boca em surpresa. — Não é verdade. 

— É verdade sim, o garanhão abandonou sua mãe grávida e foi aí que a gente se aproximou, no último ano do ensino médio. — Deu de ombros. — Ninguém diz que Marcelo não é meu filho, ele tem meu nome e meu amor, e eu sei que ele me ama de volta. A questão é, você acha que essa verdade importa? 

— Acho! 

— Você acha que eu o amo menos ou que ele deixaria de me amar por conta de questões biológicas? — Questionou e obteve silêncio. — Isso não é nada, o sentimento é o que importa, se você ama a Sophia, não faz a besteira de terminar com ela por conta de um filho que pode apenas trazer alegria pra vocês. 

— E o que eu faço se o cara quiser ser presente? Vou ter que aturar aquele cidadão do lado dela em tudo? Imagina só, ele do lado dela na mesa de parto e eu do lado de fora? 

— Mas filho, ou você quer que ele assuma o filho dele para que essa responsabilidade não caia pra você, ou então quer que suma e você vive tudo, as duas coisas não da pra ser. 

— Eu amo a Sophia, é lógico que não quero terminar, mas dizer que não me incomoda é mentira! — Terminou de falar e ouviram batidas na porta. Os dois olharam pra direção, gerealmente a secretária anunciava. Jorge permitiu que entrasse e então Sophia surgiu ali. — O que faz aqui? — Perguntou surpreso, desviando o olhar do rosto pra barriga. 

— Eu vim falar com seu pai, afinal é a sala dele. — Deu de ombros. — Jorge, eu pedi á Melissa pra me render hoje, preciso ir pra casa, não estou me sentindo muito bem. 

— Está sentindo o quê? — Micael se levantou alarmado. — Se está passando mal é aqui que deve ficar!

— Só coisas normais para a fase. — Olhou sem jeito para Jorge. 

— Ah, verdade. A propósito, meus parabéns pelo bebê. — Se levantou para lhe dar um abraço e até colocou a mão sobre a barriga dela. — Sabemos que vem aí mais uma menininha para gente mimar com tudo que tem direito, igualzinho a Maitê. — Sophia olhou pra Micael surpresa e logo voltou a Jorge com um sorriso, a primeira pessoa que tinha falado com tanta adoração de seu bebê, como se não fosse um absurdo. 

— Obrigada, Jorge. — Sorriu. — Eu pedi minha mãe pra vir me buscar, preciso de uns dias. 

— Dias? —  Os dois disseram juntos. 

— É, quero começar o pré-natal do meu bebê perto da casa da minha mãe, vai ser mais fácil quando nascer, não vai dar pra ficar com a Maitê e bebê sozinha. — Micael balançou a cabeça em silêncio. 

— Está dizendo que vai voltar a morar com a sua mãe? — Jorge arregalou os olhos. — Vai deixar seu emprego e a Maitê?

— Vamos com calma, Jorge, primeiro eu preciso ir até lá pra minha primeira consulta, depois eu vejo como vão ficar as coisas. — Deu de ombros e se virou pra Micael. — Preciso que você fique com a Maitê essa noite, tudo bem? 

— Tudo bem. — Foi só o que respondeu, não sabia bem o que dizer e parecia que não tinha língua. Mais batidas ecoaram na porta e Jorge franziu a testa. 

— Isso aqui está parecendo uma feira hoje. — Reclamou e foi até lá abrir a porta dessa vez. Um homem com um terno e aparência séria estava do outro lado e Jorge não o conhecia. — Boa tarde, como posso ajudar? 

— Procuro Micael Leandro de Farias Borges. — O homem disse ao ler no papel que carregava. — Me disseram pra vir até aqui. 

— Sou eu. — Deu um passo a frente, aquele homem parecia um oficial de justiça e ele estava curioso pra saber o que queria consigo.  — Pois não? 

— Assine aqui, por gentileza. — Entregou o envelope lacrado e Micael assinou, ainda sem saber do que se tratava. — Muito obrigada, vocês sabem onde eu encontro Sophia Sampaio Abrahão Borges? — Perguntou olhando em outro envelope e então a loira já sabia do que se tratava. 

— Bem aqui. — Ele apontou pra trás e Sophia caminhou pra assinar. Logo o homem agradeceu e foi embora. Sophia e Micael se encararam sem abrir os envelopes, sabiam bem do que se tratava: O divórcio. 

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