Capítulo 43

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— Você e Micael brigaram ainda mais? — Tatiana havia voltado com Danilo e encontraram a loira sozinha na sala. — Ele passou pela gente tão irritado que não deu nem tchau, juro que vi ele entrar no carro e sair dirigindo sem cinto. Ele nunca faz isso!

— Não foi nada fora do normal. — Disse baixo, sem encarar a Tatiana. — Aliás, nada fora do novo normal. A gente não consegue mais se entender. 

— Ele surtou de ciúmes, não é? — Tatiana prendeu uma risada. — A cara dele fazer isso e a sua cara perturbar ainda mais. 

— Vamos logo resolver a história da fisioterapia? A única coisa que eu quero é andar gente, todo resto fica pra depois. — E assim eles começaram realmente a conversar sobre o que interessava. 

Danilo manteria as sessões três vezes ao dia, assim como Sophia queria, e Tatiana lhe passou tudo o que faziam durante as sessões. A sessão daquela tarde aconteceu já com o novo fisioterapeuta e Sophia o adorou. O rapaz foi embora prometendo voltar à noite para a última sessão.  

— Você não ia tomar um café com ele? — Sophia perguntou a Tatiana quando se despediram do fisio. — Por que desistiu? Se me disser que foi por causa do Micael eu dou na sua cara agora mesmo. 

— Na verdade, foi por que eu queria conversar com você sobre o que aconteceu mais cedo. — Sophia rolou os olhos, não estava nem um pouco interessada naquela conversa. — Não faz careta. 

— Eu não quero falar sobre o Micael, Tati. — Juntou as mãos implorando. — E também acho que não tem muito o que dizer. — Branca ouvia a conversa das duas sem interromper, estava curiosa. — E eu acho que se te contar o que aconteceu, você vai ficar chateada. 

— Ele pediu pra reatar com você de novo? — A mulher cruzou os braços e não teve resposta. — Se eu fosse ficar chateada toda vez que ele fizesse isso eu tava lascada. Você não precisa esconder as coisas de mim porque somos amigas, ele disse que fez isso na minha cara. 

— Ele disse? — Sophia ficou um tanto surpresa. — Pensei que ele ficava fazendo joguinho com nós duas. 

— Não, ele disse. Você sabe que ele só está desse jeito aí porque você está fazendo charme, não é? Ele já te escolheu, no fundo você sabe, eu sei, ele sabe, sua mãe sabe. Sempre foi você!

— Não estou fazendo charme nenhum! — Falou um pouco mais alto. — Ninguém consegue me entender, porque todo mundo acha que eu tenho que aceitar tudo o que aconteceu, sorrir e acenar? Tatiana, ele me traiu! 

— Você nunca demonstrou toda essa indignação em relação a isso. Parecia até que estava aceitando de boa o fato dele ter ficado comigo. Quero dizer, tivemos aquela conversa no hospital, mas eu não sabia que estava tão magoada a ponto de esnobar o cara.

— Eu menti, tá legal? Eu menti porque parecia que era o certo a se fazer. Eu me fiz compreensiva porque eu não queria ouvir as pessoas dizendo pra mim que eu tinha que aceitar o fato do meu marido ter outra família porque eu estava em coma, como se eu estivesse nesse estado por opção minha! Eu sabia que todo mundo, incluindo a minha própria mãe ia me dizer que aquilo é normal, mas não entra na minha cabeça. Eu precisava dele! Provavelmente foi a parte mais difícil da minha vida e onde ele estava? Curtindo a nova família dele! 

– Não foi assim que aconteceu, ele nunca deixou você! — Continuava a tentar defender, mesmo mais cedo, tendo ajudado a loira com as brincadeiras infames.

— Deixou, Tatiana. — Secou as lágrimas de raiva que começaram a escorrer. — Não precisa mentir pra mim. Eu sei que ele nem ia mais me ver direito e quando ia era como médico. Ele disse pra mim que vivia feliz com você. Aí agora que eu acordei, tenho que sorrir e aceitar ele de volta como se nada tivesse acontecido? 

— Se coloca no lugar dele um instante. Você estava em coma há anos Sophia, sem expectativa de melhora! 

— Mas ninguém se coloca no meu lugar! — Disse ainda mais alto. — Eu tenho que entender todo mundo, mas parece que ninguém sequer tenta me entender! Eu estava indo fazer uma viagem com meu marido e de repente acordo num hospital sem conseguir falar ou virar a cabeça! Eu descubro que seis anos se passaram, que meu pai morreu, minha bebê é uma moça, meu marido colocou outra mulher dentro da minha casa e fez um filho nela! Tudo isso de uma vez e todo mundo espera de mim compreensão, mas ninguém me dá. Eu me esforcei pra fingir que estava tudo bem e que eu não ligava, mas eu ligo muito, Tatiana. Pensar nos anos que ele passou com você me machuca. 

— Me desculpe por isso. 

— Hoje quando ele chegou e o João Miguel correu pra abraça-lo, ele o pegou no colo e eu me senti mal. Eu sei que é egoísta da minha parte, mas é assim que eu me sinto. Não serão simples palavras dele que vão fazer tudo isso desaparecer. 

— Se sentiu mal porque o meu filho abraçou o pai dele? — Tatiana disse com um tom um pouco mais agressivo. — Está dizendo que se ficar com ele não vai querer o meu filho por perto? Isso sim é um absurdo gigante. 

— Não foi isso que eu disse! Não tem problema nenhum o seu filho abraçar o pai, o problema é o pai ser o meu marido! Saber que ele tem um filho é uma coisa, ver os dois juntos é outra completamente diferente. Dói e você nunca vai saber o que é isso! Nenhum de vocês vai saber o que é isso. 

— Essa nossa amizade é de mentira? Fingimento esse tempo todo? Eu realmente gosto de você. 

— Não, eu gosto de você também, meu problema é com Micael. — Secou os olhos mais uma vez. — É por isso que eu nunca contei a ninguém como me sentia de verdade, só sabem me julgar. 

— Você devia conversar com ele e dizer isso tudo que me falou. — Tatiana a viu negar com a cabeça. — Ele precisa saber o motivo de você não querer ficar com ele, saber a verdade! Ficar com esse joguinho de ciúmes só vai magoar ainda mais vocês dois!

— Ele sabe, Micael me conhece melhor do que qualquer pessoa, assim como eu o conheço. Ele sabe que eu nunca ia aceitar o fato dele ter criado uma nova família, ele não é burro. 

— Tá bom, eu vou embora. — Avisou e observou Sophia fungar. — Sinto muito, de verdade. — A loira assentiu e observou Tatiana ir buscar o filho. Não demorou e os dois passaram ali de mãos dadas, logo se despediram de Branca e Sophia e então partiram. 

— Ouvi sua conversa com a Tati. — Branca se aproximou ao ver a filha sozinha na cozinha. 

— Por favor, mãe, eu não quero mais falar sobre isso, não quero mais ouvir o quanto eu sou egoísta, o quanto o Micael estava mal e blá blá blá. Eu só quero ficar sozinha um minuto. 

— Não, eu não vim defender o Micael, vim pedir desculpas a você. — Se sentou ao lado da filha e segurou sua mão. — Eu realmente não tinha pensado em como era pra você acordar do nada e encontrar sua vida uma bagunça. Coloquei os sentimentos do Micael na frente dos seus, perdi totalmente o foco. Eu te entendo filha e te amo. Me desculpe de verdade. 

— Está tudo bem, mãe. — Não estava tudo bem e Branca podia sentir aquilo. — Eu só preciso deitar e dormir um pouco antes da próxima sessão de fisio, tudo bem? Pode fazer compainha para a Maitê? 

— Claro que sim. — Observou a filha sair de perto e então foi até o quarto dela, onde Maitê estava tão concentrada no filme que via, que nem tinha ouvido o barraco.  

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