Capítulo 80

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— Você não estava morrendo de medo de perder ele? — Tatiana perguntou depois do fim do discurso. 

— Sim, mas isso não vai fazer eu abaixar a cabeça em situações absurdas. Quando se faz isso uma vez, não tem volta, você sabe bem disso, não é? — A mulher ficou em silêncio, pensando em todas as vezes que abaixou a cabeça nos anos que passou ao lado dele. — Me desculpa por ser grossa com você, eu só... — Ela parou, um enjoo repentino surgiu. 

— Está bem? — Ela a QQ olhou com olhos arregalados. — Está pálida novamente. Enjôo? 

— Veio com tudo. — Olhou pro sanduíche que estava comendo no início daquela conversa. — Com licença. — E saiu correndo para o banheiro reservado, na sala de descanso. Se continuasse daquela forma, todo mundo no hospital saberia que ela estava grávida. 

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Micael não procurou Sophia naquele plantão e a loira também não foi atrás, conversariam em casa, era sempre a melhor solução. Antes de ir embora ela resolveu passar no quarto dos pacientes que Sebastian tinha deixado pra ela, para ver se estava tudo bem, acabou encontrando Micael que tinha ido ver o filho. 

— Não quer mesmo que eu fique aqui? Vai pra casa descansar! — Sophia ouviu Micael dizer á ex. — Você dormiu aqui e ainda não foi embora. 

— Não vou deixar meu filho sozinho. 

— Sozinho não, comigo. — Respondeu dando risada. — Eu sei cuidar dele bem, você não precisa se preocupar. 

— Não, eu vou ficar aqui, amanhã você fica. — Micael deu risada, mas assentiu. — Vou preparando meu psicológico até lá pra passar a noite longe dele. 

— Tudo bem, mas sabe que qualquer coisa pode me ligar. — Lhe deu um abraço e um beijo na testa, quando se virou pra dar um beijo em Miguel, viu Sophia parada perto dele. — Você agora deu pra ouviu a conversa dos outros? 

— Ih, cavalo, já vai começar? — Perguntou com um tom mais gentil do que na lanchonete. — Eu vim ver o Miguel antes de ir embora e não quis interromper vocês, Tatiana tinha me visto aqui. 

— Que seja. — Deu de ombros e saiu, sem se despedir dela e nem de Miguel. 

— Você foi grossa, agora aguenta. — Tatiana deu risada e Sophia negou com a cabeça. 

— Eu rebati a grosseria. — Respondeu baixo. — Eu estava sentada ao lado do Danilo na lanchonete com você junto e tantas outras pessoas lá. Se eu tivesse no quarto, com uma criança dormindo e recebendo um abraço e beijinho no rosto eu queria ver. 

— Ah, isso não foi nada, ele é pai do meu filho. 

— E o Danilo é pai do meu! — Rebateu tranquilamente, como se tivesse certeza daquilo. — Se esse é o argumento, caiu por terra. — Tatiana deu de ombros, não tinha nem o que responder. — Fácil ficar falando que eu sou uma ciumenta e grossa, mas se um dia a situação se inverter e for o meu filho doente, eu quero ver. 

— Olha, não me meto mais, não defendo mais ninguém. — Ergueu as mãos em rendição. — Não sei pra que me meto nisso, não é da minha conta. 

— Obrigada. — Saiu do quarto irritada também. 
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Micael não esperou Sophia para ir embora e isso a fez perceber que ele não iria pra casa dela. Pediu um carro pelo aplicativo e liberou a Nana, que estava fazendo cafuné em Maitê assim que entrou. A menina sorriu e abraçou a mãe quando a mesma se sentou ao seu lado.

— Como foi o dia? — Sophia forçou um tom simpático, a menina não tinha nada a ver com seus problemas e não precisava saber deles.

— As aulas de hoje foram chatissimas! — Resmungou e Sophia deu risada. — Mas você não sabe, a Raquel e a Roberta bateram boca hoje na frente de todo mundo! — Começou a contar a fofoca empolgada e Sophia fingiu ouvir, soltando vários "uhum" dando a entender que prestava atenção. — E aí o pepino e a beringela pediram socorro.

— Uhum! — Concordou e a menina percebeu que a mãe não ouvia nada. — Que foi? — Encarou a filha, agora focada.

— Eu contei um monte de coisa sobre meu dia e você não prestou atenção em nenhuma palavra, mãe! — Resmungou. — O que aconteceu?

— Nada, está tudo bem.

— Não está, tem algo errado. É com Miguel ou meu pai? — Perguntou preocupada e Sophia negou com a cabeça. — A senhora está passando mal novamente?

— Não filha, eu só estou cansada, me desculpe por não ter ouvido sua história.

— Você e meu pai brigaram, né? — Deduziu, conhecia aquela cara. — Você sempre ficou triste quando acontecia, mesmo tentando disfarçar. É por isso que ele não veio com você?

— Não se preocupa com essas coisas. — Deu um beijo na testa. — Mamãe vai subir e tomar um banho, preciso me deitar. Você já jantou, certo? — A menina assentiu e a loira agradeceu mentalmente pela competência de Natália. — Então tá ótimo.

— Mas mãe... — Não respondeu mais nada, ficou olhando escada acima enquanto a mãe subia. Maitê pegou seu telefone e discou o número do pai, achou que não seria atendida, mas ele respondeu a chamada quase no último toque. — Oi, pai.

— Oi, filha. Está tudo bem? — Ele tinha a voz baixa, igual a de Sophia. — Aconteceu alguma coisa com vocês?

— Minha mãe chegou em casa agora, sozinha e triste. Vocês brigaram? — Foi direta e Micael soltou um riso fraco. — Eu sabia, dá pra ver de longe quando brigam.

— Estamos bem, Maitê. — Tentou mentir.

— Então onde é que você está? — Ele suspirou, encurralado. — Você tem vindo dormir aqui sempre que não está de plantão e aí do nada não vem? Eu já até achava que morava aqui de novo.

— Mas eu não moro aí, eu tenho casa.

— Que a tia Tati está morando! — Rebateu na lata, aquela menina era muito rápida. — Você por acaso está namorando ela e a minha mãe ao mesmo tempo?

— Maitê isso é coisa que se diga? — Falou escandalizado por um momento e em seguida riu. — Eu namoro sua mãe, só.

— Então vem pra casa e conversa com ela.

— Você não é fácil, né? Eu converso com sua mãe amanhã, vai ser mais simples. — Deu de ombros pensando na irritação dos dois e nas chances de sair uma briga pior.

— Não, pai! — A menina insistiu. — Pede desculpas, traz flores também, vi na série que os homens quando erram levam flores e chocolate.

— Como é que você sabe que eu estou errado? — Ergueu uma sobrancelha, mesmo que a pequena não pudesse ver. — Pode ser a sua mãe.

— Claro que é você, desde que ela acordou você vem fazendo várias besteiras, não tenho nenhuma dúvida. — Esperou pela bronca do pai pelo desrespeito, mas se surpreendeu quando ouviu suas risadas.

— Você é fogo, Maitê. — Disse ao se levantar da cama, já com as risadas controladas. — Eu vou aí sim, pedir desculpas, já que eu sou errado, não é?

— Isso! — Comemorou arrancando mais risada do pai. — E por favor, traz chocolate pra mim também?

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