Capítulo 72

393 39 1
                                    

— Ele não morreu. — Ela se forçou a dizer. — Eu não disse isso, sofreu uma parada cardíaca, nós conseguimos trazê-lo de volta e a cirurgia foi finalizada pelos cirurgiões. Miguel está sendo instalado na UTI agora, por conta da parada e do pós operatório, mas aparentemente a cirurgia foi um sucesso. Lógico que temos que aguardar as próximas horas, mas a expectativa é boa. — Ela largou de Micael e se sentou, chorando ainda mais, só que dessa vez de alívio. 

— Por que você não falou tudo de uma vez? — Passou as mãos no rosto, tentando secar pra enxergar melhor. — Quero ver o meu filho! 

— Tatiana, eu não sou responsável pela internação dele na UTI, Sebastian é o médico que você deve procurar pra ter notícias. Eu participei da cirurgia só porque é necessário um pediatra lá, mas vocês sabem que eu não sou cirurgiã. 

— Tudo bem, eu sei, obrigada por tudo que fez. — Sophia assentiu e não disse mais nada, apenas encarou Micael mais uma vez. 

— Bom, eu vou indo que ainda tenho trabalho a fazer. — Avisou aos dois e ia saindo de perto até sentir a mão de Micael em seu braço. — Ei, que isso? 

— Quero falar com você. — Ela negou com a cabeça. — Sophia, não faz assim! Você vai realmente ficar com raiva de mim porque eu estava consolando a Tatiana?

— Mas eu não disse nada disso, eu pedi licença porque ainda tenho que finalizar o meu plantão e você tem que ficar aqui até poder ver o seu filho. Não estou com raiva. 

— Está com alguma coisa. Chateada? 

— Podemos conversar depois? — Pediu baixo, não queria que Tatiana ouvisse. — Eu estou mentalmente esgotada e acho realmente que você deve continuar consolando a Tatiana, ver um filho na UTI não é facil. 

— Está dividida entre a razão e a emoção, não é? — Perguntou com um sorriso de canto. — Você está com ciúmes, mas no fundo sabe que eu não fiz nada errado. 

— Você me conhece bem. — Suspirou e então sorriu sem graça. — Depois a gente conversa, por favor. — Ele assentiu e a soltou, observando sumir pelos corredores do hospital. 

.
.
.

Tatiana se apresentou como acompanhante de Miguel e pôde ficar com ele enquanto dormia, conectado a todos aqueles aparelhos. Micael entrou, viu o filho, trocou algumas palavras com Tatiana, mas logo teve que sair, não eram permitidos dois acompanhantes UTI. 

O dia amanheceu e finalmente aquele plantão teve fim, parecia que quarenta e oito horas haviam se passado e não apenas doze. A pediatra da manhã chegou e rendeu Sophia que finalmente pôde se preparar pra ir embora, encontrou Micael no estacionamento, a aguardando. 

— E então, como estão Tatiana e Miguel? — Perguntou já a caminho de casa. — Não tivemos mais surpresa hoje, né? 

— Não, ele ainda está sedado e ela está lá, sentada na poltrona de acompanhante, de pijama, cochilando. — Suspirou para aquela situação. — Eu tentei convencer a ir pra casa descansar um pouco, que ele vai ficar sedado mais algumas horas, mas ela não me ouviu. E que mãe ouviria?  

— Você não me parece tão abalado. — Ele não a olhou. — É seu filho também. 

— Se eu e ela entrarmos em desespero, vamos ficar os dois sem noção da realidade. — Sophia ponderou. — Eu disse a ela que voltaria mais tarde e ficaria com o Miguel, pra que pudesse ir em casa, tomar um banho e comer algo, ela disse que não vai.  

— Ela não pode ficar aboletada naquele quarto o tempo todo, eu sei que a situação é difícil, mas precisa se cuidar pra não adoecer também. — Micael deu de ombros. — Você acha isso normal?  

— Branca ficou assim também no começo. — Contou e surpreendeu a loira que achava que aquela altura não seria mais pega de surpresa por aquela história. —  Ela não aceitava que tinha que ir pra casa, foi muito difícil. 

— Assim como você também não ia pra casa, pelo que sei. — Ele deu uma risada fraca. 

— Sim, você tem razão. A questão é que é uma situação difícil, mas quando ela ver que ele acordou, vai ficar mais tranquila. Ainda assim depois que eu acordar, vou voltar lá e tentar convencê-la de que precisa ir descansar algumas horas. 

— Está certo, ela precisa disso.

— Sua raiva de mim já passou? — Perguntou sem tirar os olhos da estrada. — Você parece mais normal agora.

— Não estava com raiva de você. — Respondeu com um dar de ombros. — Eu sei que você não fez nada de errado, mas não gosto de ver vocês juntos, ainda mais como estavam.

— Eu sei que te magoa, mas o que eu ia fazer? Dizer pra ela não tocar em mim porque você tem ciúmes? Ela precisava de um abraço.

— Eu já disse que entendo, não briguei, não reclamei e pode ter certeza que não ia nem tocar no assunto.

— Eu não gosto de saber que estou magoando você. — Foi sincero e a loira sorriu. — Estou falando sério, sei o quanto te machuca essa história, o quanto deve ser ruim.

— Você está muito mais fofo e compreensivo do que antes do acidente. Essa situação ia gerar uma briga de três dias entre a gente. — Ele estacionou o carro na garagem de Sophia e saiu dando risada. — Estou mentindo?

— Não, mas a gente adorava uma briga desnecessária. — Esperou que ela desse a volta e a abraçou lateralmente enquanto caminhavam pra dentro de casa. — Depois de quase te perder pra sempre, eu não quero mais gastar o nosso tempo juntos com brigas. Quero aproveitar!

— Viu só, muito fofo. — Brincou. — Me desculpe por não ter tido a mesma consideração que você teve comigo e ter ficado com uma galera na sua frente.

— Olha só, por essa eu não esperava. — A loira destrancou a porta. — Achei que você não tinha remorso disso.

— Não me arrependo de ter ficado com outras pessoas não, você mereceu sofrer um pouco. — Ele fez uma careta. — Mas você sempre teve consideração de nunca fazer nada na minha frente, eu não tenho nenhuma lembrança de você nem pegando na mão da Tatiana na minha frente.

— Olha só, finalmente o reconhecimento chegou! — Brincou e ganhou um beliscão. — Deixa isso pra lá, eu não quero saber que você ficou com outras pessoas, a única coisa que me importa é que está comigo agora. Eu amo você. — Subiram a escada juntos, naquela manhã, não tinham encontrado ninguém acordado ainda.

Segunda ChanceOnde histórias criam vida. Descubra agora