Capítulo 20

676 51 19
                                    

— Eu não quero saber se seu pai gosta ou odeia, a mamãe aqui tem que ser chamada de mamãe! — Soph brincou. — E apenas de mamãe.

— Você sabe que eu tenho dez anos, não sabe? — A menina se afastou e olhou pra Sophia com uma sobrancelha erguida. — Chamar de mamãe é coisa de criancinha.

— A última vez que eu te vi você tinha três anos! — Sophia falou como se fosse óbvio. — Você é uma criancinha pra mim ainda, vou demorar a me acostumar!

— Agora pronto, me lasquei né?! — Brincou. — Não vou chamar de mamãe não, tem que agradecer que vou chamar de mãe!

— Eu tenho que agradecer? — Sophia deu risada. — Micael, que educação é essa que você deu a sua filha?!

— Como se ela não fosse mal criada aos três anos. — Ele brincou. — Isso aí cresceu e só fez ficar pior.

— Pai! — Maitê repreendeu e fez eles rirem. — O que a minha mãe vai achar de mim se você ficar dizendo essas coisas?

— Vai achar que você é igualzinha a ela. — Bufou. — E não só na aparência, me pergunto se eu realmente participei de alguma coisa.

— Deixa de ser idiota. — Sophia rolou os olhos e puxou a filha pra mais um abraço. — Seu pai é besta demais, não sei como é que você aguenta!

— Eu sou obrigada a aguentar, você estava em coma, me deixou sem opção. — A menina viu a oportunidade de implicar com o pai. — Mas agora que acordou eu posso escolher não é mesmo? Quando é que posso me mudar pra morar com você?! — Sophia entendeu a brincadeira de cara. Micael arregalou os olhos em choque. Tatiana prendeu a risada assim como Branca. Kaique tinha pedido licença e saído da sala, ninguém tinha notado.

— Seu pai não me deixa sair desse hospital, mas você pode ter certeza que eu busco você assim que tiver instalada em algum lugar.

— Vamos parar com essa conversa aqui! — Micael brigou. — Que história é essa Maitê? Você não vai ir embora de casa.

— Ih! — Falou séria, Sophia se perguntava como é que sabia que era brincadeira. — Eu tenho que poder escolher com quem eu quero morar.

— Não é assim que funciona! — Parecia chateado. — E você mora comigo a vida toda, tem coragem de dizer na minha cara que não quer ficar comigo? — Maitê e Sophia se encararam antes de caírem na gargalhada. — Vocês estão me zoando? Fala sério! — Colocou a mão no peito. — Quando eu falo que são iguais, ninguém acredita em mim!

— Deixa de bobeira, pai. — Maitê rolou os olhos. — Eu só não vou aí te dar um abraço porque eu estou ocupada abraçando a MINHA MÃE. — Deu ênfase. — Eu espero tanto tempo pra dizer isso!

— Linda! — Sophia disse com um sorriso antes de encher a menina de beijos. — Tatiana? — Sophia chamou. — Minhas costas estão queimando, eu preciso sentar.

— Está muito tempo em pé mesmo. — Tati se aproximou. — Mas eu achei tão fofo o reencontro que não deu pra interromper. — Segurou no braço de Sophia. — Segura aí do outro lado, Micael. — Pediu a ele que prontamente ajudou. — Aguenta ir até ali na cadeira ou quer que eu a traga pra perto?

— Não, eu vou até lá. — Avisou. — Só não me larguem. — Pediu aos dois. Respirou aliviada quando sentou. — Tá legal, eu precisava muito disso.

— Vamos voltar pro quarto pra você ficar com a sua filha, mas você sabe que à noite ainda tem mais uma sessão, não sabe?

— Você não brincou ao dizer que ia pegar pesado hoje. — Soph riu. — Caramba, precisa da de noite?

— Ué, quando eu cheguei você pediu pra intensificar mais as sessões, como agora está pedindo arrego? — Implicou.

— Eu pedi e você disse que não, se bem me lembro. — Micael começou a empurrar a cadeira e todo mundo saiu de atrás rumo ao quarto. — Eu estou com dor, Tati, releva hoje.

— Nada disso, ontem você escapou de duas sessões, hoje não vai fazer a mesma coisa!

— Uma bruxa. — Disse com bico. — Te odeio, Tatiana. — Falou baixinho e fez os presentes rirem.

— Odeia nada, eu sei que não odeia. — Comentou rindo.

— Tá legal, por que é que o Jorge está parado na porta do meu quarto com um balão de gás hélio escrito "It's a boy"? — Sophia perguntou dando risada. — Ele sabe que eu não pari ninguém, não é?

— E meu pai regula bem desde quando? — Micael respondeu rindo e chegaram perto. — Que doideira é essa aí?!

— Era o único balão que tinha na lojinha. — Ele estendeu pra Sophia. — Acredito que o que vale é a intenção.

— Está certíssimo! — Sophia respondeu e pegou o balão. — Eu adorei, com certeza você foi o único que me trouxe um balão tão original.

— Viu só?! — Olhou pro filho. — É por isso que é a minha nora favorita.

— PAI! — Repreendeu alto e Sophia deu risada.

— Oxi, que exagero! — Rolou os olhos. — Sophia eu trouxe chocolate pra você também.

— Tá legal, você perdeu o juízo de vez. — Micael reclamou de braços cruzados. — Ela não pode comer chocolate!

— Meu Deus, como você é chato! — Jorge rolou os olhos. — É claro que pode, não seja exagerado, de novo!

— O médico dela sou eu e não me lembro de ter liberado chocolate.

— Você nem está de jaleco. — Rolou os olhos. — O que significa que não está aqui como médico, o que significa que devia ter um adesivo de visitante aí no seu peito. — Jorge bufou. — E outra, Sophia está internada, e só parente podem visitar, você não seria nem autorizado. — Sophia deu risada.

— Ué, aos olhos da lei, eu sou casado com ela, é claro que eu entraria. — Rolou os olhos como se fosse óbvio.

— Ah, cala a boca, Micael. — Desistiu de discutir. — Come, Sophia. — Estendeu a caixa de Ferrero Rocher, Tatiana a olhou e se lembrou do primeiro chocolate que havia ganhado de Micael.

— Pai...

— Se você acha que eu vou recusar um Ferrero, está muito enganado, Dr. Borges. — Sophia disse desembalando um. — Sabe que são meus favoritos.

— Eu sei, mas você esperar pra comer vai te matar? — Cruzou os braços. — Teimosa.

— Micael, eu sou tão médica quanto você, não precisa agir como se eu fosse uma imbecil. — Saboreou seu chocolate.

— Que eu saiba é uma pediatra. — Disse com deboche. — E você não é mais criança.

— E você um neurologista! — Respondeu no mesmo tom. — A minha cabeça está ótima, eu preciso mais de um clínico geral ou um ortopedista do que um neuro e você sabe bem disso.

— Ingrata! — Ficou emburrado. — Eu me dediquei quase sete anos pra você começar a ficar boa e me ignorar.

— Quase sete anos? — Disse com ironia. — Não mete essa pra cima de mim, você deixou de cuidar de mim faz tempo e todo mundo sabe, você nem vinha mais nesse quarto.

— Tá legal, vocês vão começar a brigar de novo? — Branca se meteu. — Tava tudo muito bom, então vamos parar com isso!

Segunda ChanceOnde histórias criam vida. Descubra agora