Capítulo 15

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— Você não acha que quer saber de muita coisa? — Ele a encarou. — Eu preciso levar o sangue no laboratório, agora não dá! — Virou de costas, claramente fugindo.

— MICAEL LEANDRO DE FARIAS BORGES. — Ela falou alto e ele suspirou. — Volta aqui, você não vai fugir dessa vez. JÁ CHEGA!

— Eu sou o seu médico, eu decido quando é hora de você saber a verdade.

— Para de idiotice. — Brigou. — A minha cabeça é a única coisa que presta no momento. Eu me lembro de tudo o que aconteceu. Parece que foi ontem, porque a minha vida foi apagada desde o acidente. Eu lembro da nossa briga no carro, eu lembro do seu olhar pra mim segundos antes de tudo escurecer. Então não venha me tratar como louca, eu aguento a verdade!

— Vocês brigaram no carro? — Branca se envolveu. — Você nunca contou isso, Micael.

— Já contei sim, Branca. — Respondeu a sogra, mas encarava Sophia. — Eu falei pra ela colocar a porcaria do cinto de segurança e ela me respondeu mal, como sempre responde quando eu estou preocupado com ela.

— Fala sério, você viu que eu estava tentando afivelar aquela bosta! — Estava realmente irritada. — Eu não consegui!

— É, aí você largou de mão e disse que não ia colocar mais nada. — Falou com raiva, mas seus olhos estavam marejados e qualquer um via.

— Não durou um minuto o meu protesto. — Se defendeu. — Você viu que eu logo voltei a tentar prender o cinto.

— Se você não tivesse parado, se tivesse seguido tentando, teria conseguido e esse minuto de protesto podia ter impedido que você ficasse ausente pra mim e pra Maitê por mais de seis anos! — Ele falou alto, estava realmente irritado, não queria ter aquela conversa com a Sophia ainda, não achava que ela estava mentalmente preparada pras notícias.

— Seis anos. Eu fiquei em coma por seis anos? — Estava em choque.

— Sim. — Foi só o que respondeu.

— Agora eu entendi porque eu preciso tanto de fisioterapia. — Caiu nos travesseiros novamente. — Eu não acredito que perdi tanta coisa. — Ela começou a chorar. — A Maitê é uma moça!

— Ela vai completar dez anos daqui há uns meses. — Branca disse baixo, se aproximou pra fazer carinho da filha. — É uma mocinha linda e a sua cara.

— Ela não me conhece. — Constatou ainda choque. — As crianças com três anos não lembram de nada assim, não se criam laços aos três. Minha filha passou a vida sem mãe. — Começou a monologar. — Ela me odeia? — Perguntou aos dois.

— Não, é claro que não. — Branca que continuava a responder as perguntas. — Ela vinha aqui todos os dias depois da aula. Até que quando tinha de seis pra sete anos, bateu o pé e disse que não queria mais.

— Ela não vem me ver desde que tinha sete anos? — Disse chocada. — E você deixou isso acontecer? — Perguntou a Micael, que estava parado, mudo, um pouco afastado. — Você deixou a minha filha esquecer que eu existo!

— Será que você pode ser um pouco racional? — Ele pediu baixo. — Você estava em coma por seis anos. E ela vinha aqui sim, só não com muita frequência.

— Quando ela tinha seis anos, eu estava em coma por três e pelo visto você já tinha desistido de mim! — Falou decepcionada. — Você ao menos vinha aqui me ver?

— Eu vim aqui te ver dia após dia. — Se aproximou. — Quando era meu plantão e quando não era também. Eu ficava horas sentado nessa poltrona contando a você sobre o meu dia e o da Maitê.

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