Capítulo 60

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— Demorou, achei que não ia mais trazer o moleque. — Neide, a mãe de Tatiana disse ao abrir o portão. — Você disse que era um almoço, devia ter mais responsabilidade com horários.

— Eu não marquei horário com a senhora, apenas disse que o traria de volta. — Respondeu grosseiramente. — Não existe tempo limite pra eu ficar com meu filho.

— Filho que você tanto enche a boca pra chamar de seu, mas que fica muito mais comigo. — Esticou os braços pro menino, que escondeu o rosto no pescoço do pai.

— Alguém tem que trabalhar pra dar a ele tudo de bom e de melhor. E também não fale como se fizesse algum favor, eu pago você por semana pra tomar conta dele. — Manteve o tom e a velha cruzou os braços. — E um valor exorbitante, por sinal. Natália não me cobrava o que a senhora cobra pra olhar duas crianças e nenhuma delas era neto dela.

— Não é porque é meu neto que eu tenho obrigação de olhar de graça.

— Não tem, é por isso que eu nunca questionei nada. Pode ter certeza que ele só fica com a senhora por falta de opção melhor.

— Me dá logo o garoto. — Esticou de novo os braços. — Só me falta ficar ouvindo desaforo de moleque. Não tem mais o que fazer não?

— Se não percebeu o menino tá agarrado em mim. — Respondeu com certa ironia. — Vai com a vovó, filho.

— Não, não. — Disse entre lágrimas que pareciam não ter fim. — Quero ficar com papai.

— Vamos logo, Miguel. — Neide segurou no menino para puxar a força, mas ele se agarrou ainda mais.

— Calma aí, não é assim, vai acabar machucando o menino. — Deu um passo pra trás se afastando da velha. — Vamos ter calma.

— Isso é birra, você e Tatiana ficam passando a mão na cabeça dele e dando tudo o que quer, por isso que ele fica chato desse jeito, mas não é assim que funciona comigo. Vamos logo, João.

— Olha só, tá faltando só um pouquinho pra eu começar a faltar o respeito com a senhora. — Olhou pra mulher que revirou os olhos. — Filho, você precisa ir com a sua vovó, daqui a pouquinho sua mãe chega pra ficar com você também. — O menino se escondeu ainda mais, chorando.

— Ah, para de palhaçada, vamos subir logo! — Deu mais um passo pra perto, afim de mais uma vez tentar pegar o menino a força.

Sophia então apareceu ali, parando ao lado de Micael e fazendo carinho nas costas do menino. Neide a olhou de cima abaixo por alguns instantes.

— Vamos pra casa. — Sophia falou com Micael que a olhou sem entender. — Traz ele, Tatiana busca com a gente se quiser.

— De jeito nenhum, o combinado foi levar pra almoçar e trazer de volta. — A velha protestou sem a menor paciência. — Quem você pensa que é pra decidir alguma coisa sobre o meu neto?

— Madrasta dele. — Respondeu seca. — Se o menino não quer ficar com você, ele não vai ficar com você.

— Ele vai ficar comigo sim porque sou eu que tomo conta dele todos os dias. Vai cuidar da vida da mal criada da sua filha. — Rolou os olhos. — Anda Micael, me dá logo o menino.

— Deixa de ser ridícula! — Sophia falou sem paciência alguma e Micael se virou para olhar a namorada, sabia que vinha barraco. — Velha mal amada, lava sua boca pra falar da minha filha.

— Ela é mesmo uma mal criada.

— E você é mesmo uma velha ridícula. — Rebateu como se fosse criança. — Se o menino não quer ficar com você, é porque boa você não é.

— Você nem me conhece, menina.

— Eu não preciso te conhecer, o menino vem comigo, com a minha mãe, fica de boa com a irmã e adora o pai. Só não gosta de você, pode me dizer o motivo? — A loira caminhou pra frente, ficando mais perto de Neide, que se sentiu intimidada. — Leva o menino de volta pro carro, Micael.

— Se você fizer isso, eu vou chamar a polícia! — Ela ameaçou quando viu o moreno se virar. — Você não pode levar a criança sem o consentimento da mãe.

— Lógico que ele pode, ele é pai. — A loira respondeu antes de Micael.

— Pois eu vou ligar pra minha filha agora! — Ameaçou.

— Não se preocupa não, eu mesma vou ligar assim que entrar naquele carro e avisar a ela que a velha mal educada da mãe dela maltrata o neto.

— Eu não maltrato ninguém, você ficou em coma e acordou maluca? — Trincou o maxilar observando Sophia de braços cruzados. — Não pode me acusar sem provas.

— Se eu arrumar provas, você vai pra cadeia. Sabe que é crime, não sabe?! — Ameaçou novamente. — Vamos logo. — Falou novamente a Micael e foi pro carro. O moreno não tinha dito nenhuma palavra, estava pensativo.

Um clima pesado estava dentro do carro e todos estavam em silêncio por todo caminho. O barulho do celular de Micael quebrou o silêncio e Sophia o pegou pra atender, sabendo que era Tatiana.

— Ô Micael você ficou maluco? —  A mulher disse brava antes que Sophia se identificasse. — Era pra você deixar o Miguel em casa!

— Oi, Tatiana. — A loira disse após respirar fundo. — Ele não está sendo sequestrado, está com o pai dele, você pode passar lá em casa e buscar a hora que quiser.

— Só que esse não é o combinado! — Disse estressada. — Ele pediu pra levar o meu filho pra almoçar e só.

— Não surta, Tatiana. Passa lá e pega o menino.

— Nada disso, vocês podem dando meia volta e levando meu filho pra casa, onde ele deve ficar até eu chegar.

— Não vai rolar. — Disse com tanta autoridade que irritou Tatiana.

— Você perdeu o juízo? Você não responde pelo meu filho! Cadê o frouxo do Micael! Eu quero falar com ele.

— Não dá, está dirigindo. — Respondeu com um dar de ombros e observou o moreno soltar uma risadinha. — Passa lá em casa, precisamos conversar. — E desligou a chamada, deixando Tatiana ainda mais revoltada.

— Tatiana vai chegar na sua casa muito puta. — Ele avisou com um breve sorriso. — Não devia ter desligado na cara dela assim.

— Ela deve chegar na casa da mãe dela muito puta. Como é que não perceberam que... — Se interrompeu ao olhar pelo retrovisor interno e ver as crianças prestando atenção na conversa. — Que nada, depois a gente conversa.

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