Capítulo 10

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E o tempo mais uma vez passou a correr. Poucos meses depois, todo tempo livre de Micael era dividido entre Tatiana e Maitê.

Eles tinham engatado um namoro que fazia muito bem a Micael, tão bem que quando ele percebeu que não tinha ido visitar Sophia um dia, estava deitado em sua cama. Logo isso virou frequente e a surpresa era quando ele ia visitar a loira.

A aliança de casamento não estava mais no dedo, ele agora carregava escondida dentro da roupa, numa correntinha de ouro.

Maitê adorava Tatiana. Micael tinha ficado super apreensiva ao contar sobre a nova relação pra filha, mas a menina se apaixonou pela madrasta após a primeira brincadeira.

Assim como os pais e irmãos de Micael, que tinha sido obrigado por Antônia a marcar um jantar com a mulher assim que descobriu a verdade.

Surpreendente mesmo foi o jantar com Branca, que fez questão de convidar Micael e a namorada para um jantar em sua casa. Renato ainda mais debilitado, não tinha participado do jantar, assim como Maitê, que havia ficado com Antônia.

A vida parecia boa novamente. Tudo parecia caminhar para os trilhos depois de ter sido arrancado deles com tanta brutalidade. Estava vivendo uma fase gostosa.

Quando completaram um ano de namoro, a notícia de que teriam um bebê surpreendeu os dois, mas não deixou de anima-los. Decidiram morar juntos e não muito depois, lá estavam os três, na casa que antes era dividida com Sophia.

Viviam bem, aos poucos Tatiana foi mudando a decoração e deixando o lugar com cara de seu lar. As fotos de Sophia foram guardadas em caixa e outras lembranças tomaram o lugar.

Aquela altura, se Micael passava no quarto de Sophia uma vez a cada quinze dias era só por protocolo médico e para avaliar a paciente. Não se iludia mais, não acreditava mais que a mulher fosse acordar em algum momento.

Ao contrário de Branca, que após perder Renato se infurnou ainda mais no hospital pra ficar ao lado da filha, já que além de Tatiana, era a única visita que a loira ainda recebia com frequência. Todos haviam se esquecido de Sophia.

João Miguel nasceu e apagou mais um pouco Sophia da mente de Micael. Ele vivia uma vida boa, feliz. Os quatro viviam.

Pelo menos até o dia vinte e cinco de novembro de dois mil e vinte dois.

25 de novembro de 2022, sexta, às 11:26.

— Amor?! — Tati entrou no consultório de Micael, depois de ter certeza que ele estava sozinho. — Já está tudo preparado pra festinha do João, hoje à noite.

— Eu vou estar lá, não se preocupe. — Sorriu a mulher. — Meus compromissos hoje se encerram as três.

— Que bom, imagina o quão chateado ele ficaria se não tivesse o pai na festinha de dois anos?!

— Ele ou você?! — Sorriu e se levantou. — Eu aposto que você liga muito mais pra isso do que ele. — Passou o braço pela cintura dela. — Mas pode ficar tranquila, estarei lá.

— Acho muito bom, eu já estou indo pra organizar as coisas. — Avisou e tentou se afastar.

— Você não tem uma sessão de fisioterapia na Sophia? — Ergueu uma sobrancelha. — Sabe que se relaxar com ela, a Branca vem em cima de mim, não é?

— O Kaique vai me cobrir hoje. — Disse rindo. — Eu não costumo deixar os meus pacientes na mão.

— Tá legal, então vem cá me dar um beijo antes de ir. — Puxou mais uma vez Tatiana pela cintura, mas dessa vez a beijou. Os dois foram interrompidos por Jaqueline, que entrou na sala sem autorização e recebeu uma cara feia do chefe. — Você esqueceu a educação em casa? — Afastou Tatiana para o lado.

— Sinto muito, Dr. Borges. — Disse esbaforida, logo se viu que estava correndo. — Mas a notícia é séria.

— Então fale de uma vez, mulher. — Rolou os olhos. — Qual é a emergência?

— Então, a sua esposa. — Jaqueline olhou pra Tatiane e então corrigiu a frase. — A Drª. Borges, ela...

— Não. — Micael interrompeu, prevendo o que ela diria. — Você não vai me dar essa notícia, não agora, depois de tanto tempo. — Precisou se apoiar na mesa. — A Sophia... morreu?

— Não! — Tratou logo de tranquilizar o patrão. — Ela reagiu! — E essa notícia o deixou ainda mais chocado, precisou puxar a cadeira pra sentar. — É a notícia do hospital, todo mundo só fala nisso.

— Quem é que disse que ela reagiu? Foi Branca de novo? — Disse um pouco mais recuperado do susto. — Ela fez todo esse auge ano passado e foi só coisa da cabeça dela.

— Foi ela sim, mas dessa vez é verdade, a Drª está de olhos abertos! — Contou com um sorriso e Micael paralisou.

— Jaqueline, pelo amor de Deus, busca água pra ele. — Tati pediu e se abaixou na frente do então marido. — Micael, reage, não me mata de susto!

— Tatiana, olhos abertos. — Ele disse baixo. — A Sophia está com olhos abertos! — Aumentou o tom de voz e então deu um pulo da cadeira. — Eu preciso ver isso. — Agarrou seu estetoscópio e saiu em disparada rumo ao quarto da loira, Tatiana foi atrás e quando Jaqueline chegou a sala com o copo de água, já não tinha mais ninguém.

Micael chegou na porta do quarto e respirou fundo antes de abrir, rezando para que fosse verdade e não outro alarme falso.

Abriu e deu de cara com Branca e Jorge ali. O rosto de Branca vermelho de tanto que chorava. Jorge parecia emocionado também e Sophia, ah sua doce Sophia, lá estavam seus lindos olhos azuis, os olhos que tanto sentia falta!

— Quanto tempo tem que ela abriu os olhos! — Chegou perto da loira com um sorriso imenso nos lábios. — Será que alguém por me responder? — Tirou uma lanterninha do bolso e acendeu nas vista de Sophia, afim de iluminar e conseguir fazer o exame básico.

— Não sei, cinco minutos, dez! - Branca disse entre as lágrimas. — Eu estava falando com ela, senti apertar a minha mão, mas não falei nada, porque achei que podia ser coisa da minha cabeça igual no passado, mas aí ela abriu os olhos, mas também não fez mais nada!

— É normal. — Ele disse e parou pra ouvir o coração da loira. — Ela está muito tempo desacordada, a recuperação é lenta. Vai precisar de fisioterapia, fonoterapia e Só deus sabe quantas reabilitações mais. — Disse enquanto fazia mais testes básicos. — Mas me parece bem, ela segue a gente com o olhar. — Voltou a encarar Branca. — Isso é ótimo!

— Ela também nos entende. — Branca contou empolgada.

— Sophia, se você me entender e conseguir, pisca uma vez pra sim e duas pra não, ok? — Perguntou e depois de segundos, a piscada veio. Os quatro que estavam ali comemoravam. — Eu vou te encaminhar pra alguns exames, tá bem? Preciso saber como é que você está agora. Nenhum é invasivo e nenhum vai doer. Tudo bem? — Outra piscada. — Boa menina! — Fez carinho em sua cabeça. Tinha um sorriso que não conseguia esconder nem por um só segundo.

Abraçou Jorge, Branca e Tatiana antes de sair do quarto pra convocar sua equipe. Estava empolgado, precisava daqueles resultados o mais breve possível. Sua Sophia estava de volta!

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