Capítulo 94

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— Você perdeu a porcaria do juízo? — Jorge invadiu a sala de Micael quando a fofoca sobre a briga chegou nele, alguns minutos após o acontecido. — O que tem na sua cabeça? 

— Bater pra quê? — Respondeu o pai com um tom baixo, sabia que viria bronca. Apertou o braço que estava na cintura de sua esposa. — Quem foi correndo te contar, hein? 

— Não interessa quem contou, me interessa o fato de você ter transformado o meu hospital num ringue. — Estava muito bravo. — Você devia zelar pela sua reputação, entrar em briga pelos corredores do hospital não é coisa pra alguém do seu cargo, na verdade não é coisa pra ninguém, muito menos pra alguém com cargo de chefia. 

— Eu não entrei em briga, eu soquei a cara daquele desgraçado. — Disse sem remorso. — Já foi, está feito. 

— Isso, age mesmo como se não tivesse feito nada de errado! — Controlou o tom de voz. — Você não é nenhuma criança, sabe que não pode sair socando a cara das pessoas, ainda mais dentro do seu local de trabalho. 

— Se você não tivesse contratado esse cara, eu não teria socado ninguém. 

— Ah, ótimo! A culpa é minha! — Voltou a dizer alto. — Se você fosse um funcionário comum, estaria demitido por justa causa nesse momento. 

— Mas eu não sou um funcionário comum e quem vai ser demitido é aquele idiota e eu realmente espero que você não interfira nisso. 

— Você devia ter conversado comigo, Micael. — Respirou fundo e arriou os ombros. — Devia ter dito o que aconteceu e chegaríamos a algum denominador comum, mesmo que fosse a demissão do Danilo.  

— Até parece que você me escuta, eu fui falar com você quando contratou esse cara e não me deu ouvidos. — Jorge cruzou os braços. — Eu te disse que não era uma boa ideia, você disse pra eu me virar e pronto. 

— Sophia, você está bem? — Ela assentiu, encarando o sogro ainda em silêncio. — Ótimo, então vá trabalhar. — Soou um tanto grosso, mas devido a situação de estresse, Sophia não levou aquilo a mal, apenas se soltou de Micael e saiu de lá apressada. — Vai me dizer o que foi que te levou a fazer essa besteira? 

— Ele é o possível pai do bebê da Sophia, ela foi contar e ele a chamou de vagabunda. Isso não foi o pior! O sangue subiu a cabeça, ele não tem direito de falar assim dela, ninguém tem! 

— Ninguém tem, mas existem outros métodos, você podia ter conversado comigo e a gente botava ele pra fora do hospital. Quando eu o chamei pra trabalhar aqui, não imaginei que ele fosse candidato a pai do bebê. 

— Candidato? Parece que são dez pessoas. — Manteve o tom bravo. — E mesmo se fosse, eu socaria a cara de mais nove se todos falassem do jeito escroto que ele falou. Ninguém vai falar da minha esposa. 

— Sinto te informar, mas vão falar muito da sua esposa, principalmente agora que você a expôs dessa forma. — Jorge o encarou mais alguns instantes e então revelou ao filho sua decisão. — Vai pra casa, Micael. 

— Casa? — Arregalou os olhos surpreso com aquilo. — Eu acabei de chegar, tenho muito o que fazer. 

— Não, você vai pra casa porque está suspenso. — Justificou e o observou de boca aberta, surpreso. — Por mais que Danilo estivesse errado, você perdeu toda a sua razão quando o agrediu e isso me decepciona. As coisas não são resolvidas desse jeito, você tem um cargo de chefia, é um lider desse hospital, precisa agir como tal. 

— Eu não posso me afastar do hospital. — Protestou. 

— Pode e vai. — Ordenou. — A princípio serão três plantões, mas vou verificar a possibilidade de você emendar com férias. — Ele soltou uma risada debochada. — Estou falando muito sério. Vai pra casa. 

— Isso aqui vai explodir sem mim. — Jorge o encarou seguro de si. — Você sabe a loucura que é quando não venho. 

— Ninguém é insubstituível. — Insistiu. — Agora vai pra casa de uma vez, não quero te ver aqui até que eu te ligue e fale pra vir. — Virou as costas e saiu do consultório deixando Micael incrédulo enquanto juntava seus pertences. 

Saiu do consultório pouco depois, ainda nem um pouco arrependido daquilo. Passou no quarto do filho para lhe dar um beijo, mas como sempre, o menino estava dormindo. Tatiana o olhou prendendo um sorriso. 

— Vai fazer alguma piadinha? — Ergueu uma sobrancelha pra ela, sabia que a fofoca já tinha chegado ali também. — Está com cara que vai.

— Soube que você socou a cara do Danilo. — Ele rolou os olhos. — Finalmente conseguiu fazer isso não é mesmo? Está se sentindo realizado? Vem com vontade de fazer isso há tanto tempo.

— Não tenho um pingo de remorso, pode ter certeza disso. — Deu de ombros, não ligava mesmo para aquilo. — Eu vou ter que ir embora, meu pai me afastou das minhas funções numa suspensão. Mas qualquer coisa você me liga, eu venho de noite pra trocar com você, acho que você merece uma noite na cama. 

— Nada disso, eu não vou ficar longe do meu filho. 

— Você é um poço de teimosia. —  Bufou. — Eu não tenho cabeça pra discussão agora, qualquer coisa você me liga que eu venho, tá bem? — Tati assentiu e ele saiu do quarto, passando no consultório de Sophia antes de ir embora. Quando a paciente saiu, ele entrou correndo, antes que o próximo fosse anunciado. — Oi!

— O que está fazendo aqui e ainda por cima sem jaleco? — Franziu a testa sem entender. — A conversa com seu pai piorou depois que eu fui expulsa? 

— Piorou, ele me suspendeu. — Contou com certa decepção, já estava cansado de repetir aqui e só tinha dito duas vezes. — Ele não está errado, mas eu não consigo sentir um pingo de remorso, sabia? 

— Você é maluco, sua vida está nesse hospital, como é que vai ficar sem trabalhar? — Ele deu de ombros, mais uma vez, como se não fosse algo importante. 

— Errado, minha vida está com você e meus filhos. — Ela sorriu com a resposta. — Se meu pai levar isso a diante e depois não quiser que eu volte, eu acho emprego em outro local. A única coisa que não posso perder na vida são vocês. — Ela se aproximou, estava parada diante dele que repousou uma das mãos em sua barriga. — Com o resto eu me viro.

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