Capítulo 98

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— Mandou me chamar? — Tatiana disse ao entrar no consultório de Micael pela manhã. — Eu tenho bastante coisa pra fazer, espero que não seja atoa. 

— Será que pode ao menos dar um bom dia antes de chegar sendo ignorante comigo? — Pediu com um sorriso e a observou virar os olhos. — Senta, vamos conversar. — Apontou pra cadeira e a mulher negou com a cabeça. — Para de bobeira, eu sei que exagerei ontem, vamos conversar direito. 

— Seja direto, Micael. — Pediu ainda de pé. — Eu não quero ficar aqui jogando conversa fora. 

— Senta, Tati. — Pediu novamente. — Vamos conversar sobre São Paulo. 

— Achei que não tinha conversa sobre esse assunto. — A mulher cruzou os braços. — Você me pareceu bem irredutível. 

— Surpresa pra ninguém que eu sou um idiota às vezes. — Fez graça e a mulher soltou um suspiro, logo após se sentou. — Me desculpe pelas coisas que te disse ontem, eu passei dos limites e aposto que você sabe que eu não vou botar a polícia atrás de você se resolver ir. 

— Eu não duvido de nada que venha de você. 

— Você pode entender o meu lado? Eu amo o Miguel! — Ela deu uma risada debochada. — É sério que você acha que eu não amo meu próprio filho?

— Tenho certeza, ao contrário de você, eu não falo nada de cabeça quente pra pedir desculpas depois, você nem liga pro meu filho. 

— Nosso filho. — Corrigiu, mesmo antes tendo dito "meu" também. — As coisas são diferentes porque eu não tenho muito tempo livre, mas eu o amo tanto quanto amo Maitê ou o pequeno Micael. Isso não está aberto à discussão. 

— Tá, se você quer se enganar, se engane. Eu não me importo, mas não vai conseguir me convencer disso. — Deu de ombros. — Eu só quero seguir a minha vida. 

— Eu sei disso e tudo bem. 

— Essa mudança aí se deve ao quê? — A olhou desconfiada. — Sophia fez sua cabeça e te convenceu a jogar meu filho de escanteio de vez para que vocês vivam sem lembrar que ele existe? 

— Meu senhor, você anda bem dramática, Tatiana. — Micael deu risada. — Parece que não sabe o que quer, se eu brigo e falo que o quero aqui é egoísmo, se digo que pode levar é porque não ligo. Se decide, o que você quer? 

— Eu vou embora. — Avisou num tom frio. — Já assinei o contrato com a clínica que vou trabalhar, já assinei o contrato de aluguel e inclusive, já encontrei babá pro Miguel. — Micael arregalou os olhos surpreso com aquilo. — Fui em São Paulo semana passada pra resolver essas coisas e a prova de que você nem liga pro Miguel é essa, nem deu falta do menino e era um final de semana que você estava de folga. 

— Tá, você já provou que eu sou um pai horrível, me desculpe de verdade por ter me tornado esse homem. — Esticou a mão sobre a mesa e segurou a de Tatiana. — Você vai e descobre se é la que a sua felicidade, se não for sabe que sempre poderá voltar pra cá, que sempre terá um emprego, casa e apoio, não sabe? 

— Sei, obrigada. — Finalmente sorriu. — Eu gosto da sua versão compreensiva, muito melhor que estúpida. 

— Desculpe, mais uma vez.  

— Tudo bem. — Sorriu mais. — Agora eu vou trabalhar, depois conversaremos mais. 

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Tatiana levou menos de um mês até completar sua mudança completa pra São Paulo. Micael a levou no aeroporto acompanhado por Maitê e Sophia, que também quiseram se despedir. A menina chorou abraçada ao pequeno irmão, mesmo que tivessem se afastado desde que o pai se separou de Tatiana, ainda era muito ligada a Miguel. 

Alguns poucos dias depois, Sophia deu entrada na maternidade com algumas contrações. Micael estava trabalhando concentrado quando recebeu em seu consultório Jaqueline. 

— Dr. Borges, o rapaz do laboratório acabou de me entregar esse envelope. — Micael segurou o papel tendo certeza de que era o teste de DNA. Jaqueline saiu do consultório e o deixou sozinho. 

Ele olhou o envelope lacrado e pensou bastante se devia ou não abrir aquele papel. O colocou sobre a mesa, tinha medo daquele resultado. Resolveu continuar trabalhando e abrir o envelope com Sophia, mas aquilo não saia de sua mente e volta e meia se pegava olhando o bendito novamente. 

Enviou no bolso do jaleco para que não pudesse mais olhar e assim talvez tivesse o mínimo de concentração, mas não adiantou muita coisa, precisava abrir aquilo. Tirou do bolso decidido e então seu telefone tocou, adiando um pouco mais a abertura. 

— Sophia deu entrada no bloco da maternidade. — A voz de Jorge soou assim que atendeu o telefone, sem nem um bom dia. — Recebi uma ligação de um dos médicos de lá. Seu filho vai nascer. 

— Por que ela não me avisou? — Questionou já se levantando, enfiou o envelope no bolso e correu ainda vestido com o jaleco. 

— A mulher esta parindo, não deve ter conseguido avisar. O que importa é, ela está lá, corre. — Desligou a ligação e se apressou a ir, a maternidade ficava no outro bloco, não era longe, mas naquele instante parecia. 

Chegou e alguns enfermeiros lhe dera uma roupa descartável, logo estava com ela, segurando sua mão enquanto fazia força e dizia coisas sem sentido. Lhe deu um beijo na testa suada e sussurrou palavras de apoio até que finalmente, depois do que pareceu uma eternidade pra ela, o choro do pequeno foi ouvido. 

— É um menino. — O médico lhes disse e Sophia deu risada, estava exausta, mas estendeu os braços pra pegar o pequeno no colo. 

— Oi, meu amor. — Acariciou os ralos cabelos sujos do neném. — Bem vindo! — Micael sorriu e deu um selinho em Sophia, logo levaram o pequeno para exames. Pouco tempo depois os dois estavam no quarto. 

— Eu achei que você não fosse chegar a tempo. — Sophia comentou enquanto observava o marido com o neném no colo. 

— Ninguém me avisou, por que você não mandou nenhuma mensagem? — Ela deu de ombros. — Eu não ia te perdoar se não chegasse a tempo. 

— Eu esqueci o meu celular em casa, amor. Pedi um carro por aplicativo e esqueci o celular em cima da cama. Não consegui avisar, estava atordoada de dor. 

— Eu não entendi porque você estava sozinha, cadê sua mãe? 

— Minha mãe tinha ido ao mercado porque eu pedi um bolo com recheio de sardinha. — Deu risada daquele absurdo. — Agora eu estou com nojo desse pedido e espero que ela jogue fora antes que eu chegue. 

— Bolo com recheio de sardinha, Sophia? — Fez uma careta de nojo. — Sua mãe devia ter me ligado ao chegar e não te ver, você devia ter ligado pra ela ao invés de chamar um carro e vir sozinha. 

— Tá, devia, mas agora já era. — Deu de ombros. — O que importa é que deu tudo certo, Micaelzinho está bem e é saudavel. 

— É! — Sorriu pro bebê. — Liga pra sua mãe, certeza que está preocupada rodando o bairro atrás de você. — Tirou o celular do bolso para dar a Sophia e junto saiu o envelope do teste, que caiu no chão. 

— O que é isso? — Sophia perguntou curiosa e ele se abaixou pra pegar, segurando o pequeno com uma só mão. — Você está com uma cara estranha. 

— É o teste de DNA que fizemos, recebi o resultado pouco antes de ser avisado que você estava aqui, não deu tempo de abrir. — Fixou o olhar no papel. — Não sei o que deu. 

— Me dá o Micael e abre. — Estendeu os braços e recebeu o filho com um sorriso, no entanto, Micael não teve coragem de abrir e se manteve olhando fixamente. — Abre de uma vez, homem. — Ele olhou pros dois, Sophia estava o colocando pra mamar e fazia carinho em sua cabecinha. 

— Acho que eu não quero saber. — Surpreendeu a loira e chamou sua atenção. — Ele é meu filho, é só isso que importa. — E num movimmento rápido, ele rasgou o envelope com resultado e jogou na lixeira do quarto. — Eu amo vocês.  

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