Capítulo 34

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Naquela tarde, Tatiane não voltou ao hospital, ligou para que Kaique fizesse as sessões com Sophia na parte da tarde e noite. Arrumou todas as malas e então pegou seu filho. Micael ainda estava ali, na sala esperando a esposa descer. 

— Tem certeza de que é isso que quer? — Natália estava ali com o bebê. Constrangida por presenciar uma separação tão de perto. — Você não precisa ir.

— Claro que não, vou ficar aqui sendo patética e esperando você reatar com a Sophia. — Respondeu com certa ironia e ele encolheu os ombros. — Eu tenho sentimentos também Micael, ser trocada dói, mesmo que eu tenha passado todos esses anos sabendo que ela sempre foi o seu amor, a maneira como você agiu desde que ela acordou me machuca todo dia. É como se eu não fosse nada pra você.

— Eu sinto muito por isso, de verdade. Eu não percebia que agia desta forma.

— Ah, para de se fazer de vítima, você pediu a ela pra reatar, SEM ter falado comigo antes, sem ter uma conversa de término. Não nasci pra ser segunda opção de ninguém, Micael. Sinto muito. — Ele assentiu, não tinha o que dizer, ela estava certa. — Me ajuda com as malas?

Micael levou todas as malas para o carro de Tatiana e então a viu sair com o bebê no colo para prender na cadeirinha. Deu um beijo no filho e se despediu brevemente.

— Eu sei que não é um bom momento, mas e eu? — Natália perguntou quando viu o patrão entrar em casa de volta.

— Nana, pra te falar eu não tenho ideia de como farei as coisas agora. Hoje meu plantão é de madrugada e já nem sei onde que eu vou deixar a Maitê dormir.

— Se quiser eu levo ela lá pra casa. — Ergueu uma sobrancelha na dúvida. — Ela é um anjinho, não vai me atrapalhar a estudar.

— Sabe quem é um anjo, Natália? Você! — Observou a menina dar uma risada sem graça. — Pode ir pra casa, afinal aqui não tem mais ninguém pra você tomar conta, daí pega a Maitê na escola pra mim, tenho certeza que ela vai querer ir ver a Sophia.

— Pode deixar.

— Daí a noite eu vou ver se acho um lugar pra Maitê dormir, senão você fica com ela, mas pode ter certeza que eu vou te pagar a mais por esse extra. É só até minha vida entrar nos eixos novamente.

— Tudo bem, fica traquilo. — Sorriu, pegou a bolsa e foi embora. Micael subiu de volta pro quarto e deitou na cama, esperando tirar mais um cochilo pra enfrentar o próximo plantão.

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— Mãe, você viu o Micael por aí hoje? — Sophia perguntou à Branca, já quase seis da tarde. — Acho que não está de plantão, né?

— Ele foi embora de manhã, na hora que eu estava chegando, por quê?

— Tatiana não veio pra sessão da tarde e isso é no mínimo estranho, ela nunca falta. Kaique avisou que também não vem pra sessão da noite. Aconteceu algo entre ela e Micael, tenho certeza.

— Uma hora ia acontecer, né filha? O casamento deles acabou no dia que você acordou, os dois sabem disso.

— Que horror, mãe. Eu não quero acabar com o casamento de ninguém. Já disse ao Micael que estou focada só em terminar a minha reabilitação e me conectar com a Maitê.

— Mas a Tatiana é uma mulher incrível, Sophia. Ela tem um coração gigante e ama o Micael tanto quando você, ou mais né, pra aturar o marido andando por aí com a aliança da outra no pescoço. A questão é, ela não merece viver essa enganação.

— Eu também gosto da Tatiana, mãe. Não precisa fazer discurso como se tudo tivesse acontecendo porque eu quero. É tudo muito complicado, pra mim ontem eu tinha um marido e uma filha de três anos e agora eu não tenho mais nada disso. Vocês tem que olhar o meu lado também.

— Não vou me meter mais. Sei que logo, logo vocês vão estar juntos de novo.

— Não sei não... — Foi interrompida pelo barulho da porta e Maitê passou correndo por ela. — Meu amor!

— Oi, mamãe! — Chamou pra agradar Sophia que deu risada, sabendo que era brincadeira da criança. — Já estava com saudades, fiquei tão assustada ontem!

— Fica tranquila, não aconteceu nada. — Deu um beijo na menina que já estava sentada em sua cama. — E aquela discussão que você ouviu também, não vai mais acontecer, pode ficar tranquila.

— É, meu pai falou que veio pedir desculpas de madrugada. Fico feliz, queria que vocês se entendessem, não quero crescer traumatizada. — Fez charme e arrancou risada da vó. — É verdade vó, terei que ir fazer terapia se tiver que presenciar mais briga deles.

— Pode ficar tranquila que a mamãe promete que não vai ter mais. — Lhe deu um beijinho na testa. — Paz e amor agora.

— Vamos ver até quando. — Branca comentou com um tom irônico. — Quem te trouxe, filha? Seu pai já chegou?

— Foi a Nana, não vi meu pai hoje ainda não. — Deu de ombros como se não fosse nada importante. — Aliás, vi de manhã, quando ele chegou do plantão, um trapo.

— Entendi, e como foi a aula hoje? — Soph perguntou olhando a mochila jogada no chão. — Se vê de longe que você adora estudar.

— Já te disse que odeio! — Fez uma careta e então sorriu do nada. — Tive uma ideia, que tal me ajudar com dever de casa, tal qual eu tivesse cinco anos?

— E você não precisa mais de ajuda? É grande o suficiente pra fazer as lições sozinha? — A menina desceu da cama e foi buscar o caderno. — Misericórdia, Maitê, que caligrafia horrorosa é essa?

— Eu escrevo assim, mãe. — Deu risada enquanto Sophia analisava o caderno da menina. — Não é tão ruim.

— Maitê, tá pior que a minha letra, e eu sofri um acidente. Quando eu sair daqui, vamos fazer umas atividades pra melhorar isso, tá ilegível. — Viu um bico surgir no rosto da menina. — Nem adianta fazer careta, se bobear nem você sabe o que tá escrito aqui. Lê essa frase aqui!

— Tá legal, te mostrar o meu caderno foi um grande erro. — Fechou e enfiou na mochila com a cara fechada. — Não quero fazer caderno de caligrafia. 

— Mas vai fazer sim, eu e você juntas, tenho certeza de que vou precisar muito. — Cruzou os braços olhando a menina com a careta ainda. —  É importante, filha. 

— Meu pai não liga. 

— CLaro, está horrorosa igual a dele. — Deu risada. — Pelo que eu me lembro a letra do seu pai é feia também.

— Mas ele é médico, não precisa ter a letra bonita. — Defendeu o pai e observou Sophia rolar os olhos. — É verdade, mãe.

— Essa aí é a desculpa que ele usa, e eu sempre achei horrível, por sinal. Pega aí de volta o caderno, vamos lá que eu quero te ajudar com o dever. Prometo não reclamar mais da sua letra nesse momento.

— Duvidei.

— Talvez eu reclame um pouquinho, mas quero fazer isso uma vez com você. — Maitê sorriu e pegou o caderno novamente, pela primeira vez tendo ajuda da mãe em uma lição de casa. Estava feliz.

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