Capítulo 83

406 34 24
                                    

— Mas isso é uma ótima notícia, não consigo entender o motivo de você hesitar tanto em me contar! — Ele estava realmente feliz e Sophia de sentiu ainda mais culpada. — Eu sei que estamos juntos novamente há pouquíssimo tempo, mas Sophia, um pedacinho nosso é maravilhoso. Vamos poder viver tudo o que não vivemos com a Maitê pequenina. — A loira terminou de escovar os dentes, guardou sua escova, secou o rosto e caminhou pra cama em silêncio, e então desandou a chorar. — Sophia, eu não estou entendendo nada.

— É muito difícil... — Disse entre as lágrimas e não terminou, deixando Micael ainda mais confuso.

— Ei, conversa comigo, o que te assusta tanto? Sabe que eu vou te ajudar com o que precisar, já vivemos isso, você me conhece bem, não precisa chorar.

— Eu conheço bem, você é um pai maravilhoso. — Ergueu as mãos para secar o rosto e viu o sorriso de Micael. — O problema é que...

— Que? — Ela se interrompeu, novamente sem coragem pra falar. — Ei, para de chorar! É a chance de termos nosso menino, ou então quem sabe uma outra menininha? Mavie, o que acha?

— Você pensou em nome? — Ela ergueu a sobrancelha confusa. — Como tão rápido?

— Você acha mesmo que eu não sabia que você está grávida? Te conheço faz anos, linda. — Lhe deu um selinho. — Quando você começou com essas tonturas e enjoos por aí, eu já desconfiei. E o que achou de Mavie? Já que Maitê e Miguel já começam com M, esse nosso bebê também tem que começar.

— Não é João Miguel? — Ela questionou perdendo o foco da revelação.

— Culpa da Tatiana, era pra ser só Miguel. — Disse dando risada. — Enfim, Mavie significa "minha vida", eu achei lindo.

— É lindo, mas... — Ela se interrompeu novamente.

— Meu amor, você precisa terminar as frases. O papai babão aqui precisa entender o motivo do desespero pra conseguir te acalmar. — E o sorriso que não saia de seu rosto, se fechou de imediato ao ouvir a próxima frase de Sophia.

— Eu não sei se esse bebê é seu. — Confessou com mais lágrimas ainda e Micael franziu a testa. — Pra falar a verdade eu acho que não é.

— Não é meu? — Se afastou da loira de imediato, ficou de pé tentando entender e fazer aquilo ter sentido. — Você transou com mais quem? Não vai me dizer que... — A pergunta ficou no ar e Sophia assentiu, ela havia entendido. — Você é irresponsável ou o quê? Como pôde transar com um cara desse sem proteção? Nem parece que é médica!

— Não briga comigo! — Pediu baixo.

— Como é que eu não vou brigar com você? Esse cara transa com um monte de mulher por aí, você foi lá como uma adolescente irresponsável e permitiu que ele fizesse sem camisinha!

— Eu errei, sei disso!

— Você errou feio demais! Vai fazer um exame de HIV. — Tinha um certo tom de nojo. — Aliás, eu que vou fazer né.

— Não exagera, eu não peguei nada! — Não conseguia cessar com as lágrimas. — Já fiz exames antes que a gente restasse.

— Menos mal. — Falou consideravelmente mais baixo. — Não sei nem o que te dizer, com certeza não estava esperando por isso, mas é claro que tinha alguma coisa errada, se esse bebê fosse meu, você teria me contado no momento em que desconfiou. — Finalmente conseguiu entender o motivo de tanta hesitação. 

— Eu não escolhi isso, Micael. Não precisa agir como se fosse de propósito.

— Claro que escolheu, se você transou sem camisinha diversas vezes, você é médica, tinha noção do que estava por vir.

— Passamos meses até conseguirmos a Maitê, eu achei que tinha algum problema pra engravidar! — Usou seu argumento e observou Micael soltar uma risada debochada. — Não debocha de mim, aconteceu.

— Aconteceu, claro. — Ele tinha lágrimas nos olhos também. — Justifica sua irresponsabilidade por não usar camisinha dessa forma tosca mesmo.

— Quer parar de me chamar de irresponsável? Você fez o mesmo. — Ele balançou a cabeça desacreditado.

— Eu sabia que ia chegar o momento que você iria jogar o Miguel na minha cara. Você viu que eu não estou te crucificando por estar grávida em si e sim pelo não uso de preservativo com um cara nada confiável? Quando eu e Tatiana tivemos o Miguel, já namorávamos há um ano, Sophia. Era um namoro sério, e eu tenho certeza que ela não ficava com ninguém por aí, assim como eu não ficava também. A questão é você ter feito isso com um cara que conhecia há menos de um mês, que tem várias peguetes por aí.

— Só que jogar isso na minha cara não vai adiantar nada, a merda já está feita!

— Não chama o seu bebê de merda! — Defendeu o pequeno e Sophia suspirou. — Ele não tem nada a ver com isso. É só mais uma criança inocente no meio da bagunça que é a nossa vida. — Ele se sentou e levou as mãos a cabeça. — Isso tudo só pode ser um pesadelo.

— Eu sei que é difícil, mas...

— Agora tudo fez sentido, todo seu ciúmes e medo de me perder, aquele papo de término que tivemos hoje mais cedo. — Ele ainda estava de costas pra ela. — Que loucura, não sei nem o que te dizer, Sophia.

— Você vai terminar comigo? — Ela perguntou baixo, apreensiva com a resposta.

— Eu não sei o que fazer. — Abaixou a cabeça nas mãos, escondendo o rosto. — Preciso pensar, vou pra minha casa.

— Micael...

— Depois a gente conversa, tá bom? — Se aproximou e lhe deu um beijo na testa, em seguida vestiu uma camisa qualquer, pegou chave, celular e carteira e saiu dali, um tanto transtornado com aquela revelação.

Não tinha ideia do que faria, com certeza aquela não era uma situação que um dia esperou viver. Dirigia pela rua escura com a cabeça cheia de pensamentos, foi um milagre conseguir chegar em casa sem nenhum arranhão.

Subiu até seu apartamento e se jogou na cama, de onde hoje preferia não ter saído.

Segunda ChanceOnde histórias criam vida. Descubra agora