— O que aconteceu com a tia Tati? — Maitê perguntou à mãe quando já estava de volta. — Ela parecia triste, vai brigar com meu pai também? Acho que hoje não está sendo um bom dia pra ele.
— Como assim? — Branca perguntou a neta. — Seu pai está sendo um teimoso, por isso que estão brigando com ele.
— Não gosto de ver a tia Tati triste não, ela é sempre tão divertida. — Fez uma careta. — Tem a ver com meu pai gostar de você?
— O que você está falando, Maitê? — Sophia perguntou prendendo o riso. — Você viu a gente brigando ainda há pouco, não viu?
— Vi, mas dá pra ver de longe que gosta. — Ela deu risada. — Vocês que são adultos complicados.
— Tá legal, a Tatiana e o seu pai que são adultos e se entendam, eu quero me entender é com você. — Deu batidinhas na cama. — Deita aqui com a mamãe e vem me contar as coisas que você gosta. — Branca pediu licença e deixou as duas sozinhas, foi até a lanchonete, tomar um café.
— Eu gosto de muita coisa. — Começou a contar empolgada. — Você vai ter que ser mais específica.
— Não dá, eu quero saber de tudo. — Disse com a filha aconchegada.
— Minha cor preferida é roxo. — Falou empolgada. — Você gosta?
— Gosto muito, mas a minha cor preferida é vermelho. — Contou.
— Você deve ficar linda de vermelho. — Disse empolgada. — Ou roxo, ou azul escuro. — Constatou. — AFF, você é linda até com essa camisola verde água horrorosa.
— Você que é linda. — Deu um beijo na menina. — Ó, eu gosto muito de pudim.
— E eu de bolo de chocolate. — Respondeu e Sophia deu risada. — O que foi? Bolo de chocolate é uma delícia.
— É que bolo de chocolate é a sua sobremesa preferida desde sempre, filha. — Deu ainda mais risada. — É bom saber que algumas coisas não mudaram. — A menina sorriu pra mãe. — E na escola, qual sua matéria preferida? A minha era ciências!
— Credo, nenhuma! — Fez careta. — Difícil realmente pensar que alguém tem uma matéria preferida, eu odeio todas, se perguntar qual eu odeio mais posso te responder! — Sophia deu risada. — Eu tô falando sério!
— Você odeia, mas foi mal nas provas?! — Perguntou com uma sobrancelha arqueada. — Tá com nota vermelha, é?
— Não, se meu pai pegar meu boletim com nota vermelha ele me bate e eu fico de castigo um mês! — Disse com olhos arregalados. — Eu não gosto de estudar, mas ele me obriga. Ele diz que a escola é cara demais pra eu reprovar.
— Seu pai te bate? — Perguntou alarmada. — É sério?
— Falar que ele me bate parece que é frequente. — Ela deu uma risadinha.— Mas eu já levei umas palmadas quando ele julgou necessário, não que eu concorde, eu sou um anjo.
— Eu vi que é, quando respondeu ele. — Sophia disse rindo. — Deu pra perceber o clima, não devia realmente falar com seu pai dessa forma.
— É porque você não viu ali no corredor. — Apontou pra fora com o queixo. — Eu disse que ele estava fazendo pirraça ao me levar embora, pra ele parar com isso porque estava velho demais.
— Maitê, você não é fácil, né?
— Ele disse que eu estava há meia hora com você e já estava mais parecida do que nunca. — A menina gargalhou. — As vezes meu pai é chatoooo.
— Sabe, quando você era pequenininha, você vivia atrás do se pai pra cima e pra baixo. — Comentou se lembrando de uma época que não parecia tão distante quanto realmente era. — Era um grude tão grande.
— É sério que você lembra de tudo?
— Tudo que aconteceu antes de eu apagar. — Sorriu. — Tudo que a gente já viveu, todos os longos meses que passamos esperando pra ver o seu rostinho. — Tocou o nariz da filha. — A sua festinha de um ano, a raiva que seu pai me fez por ter chegado atrasado no dia. — Elas riram. — Lembro de muita coisa, porque pra mim não se passaram sete anos.
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.Assim que Branca chegou na lanchonete do hospital, se surpreendeu com Tatiana ali sozinha, tomando um café, bem pensativa. Caminhou até lá devagar.
— Achei que estivesse conversando com Micael. — Viu uma careta mais intensa atravessar o rosto da fisioterapeuta. — Posso me sentar aqui?! — Perguntou puxando a cadeira.
— Eu até ia atrás dele, mas acabei preferindo pensar. — Suspirou. — É muita coisa acontecendo, não sei bem o que fazer.
— Não sabe se vale a pena comprar a briga pelo Micael? — Branca sorriu. — Não precisa ficar sem graça por eu ser mãe da Sophia, eu já te apoiei uma vez, não apoiei?
— Mas a sua filha estava em coma. Agora ela está acordada, quase reabilitada e muito bem. — Deu de ombros. — São circunstâncias diferentes. É tudo bem complicado, Branca.
— Eu amo o Micael. — Comentou. — Você sabe que eu gosto muito de você também Tati, mas...
— Você não precisa nem terminar essa frase. — Ela bebericou seu café. — Você me quer fora do caminho pra que os dois fiquem juntos, não é?!
— Arriscando parecer cruel, eu não acho que você está impedindo de acontecer. — Deu de ombros. — Me desculpe a sinceridade, mas a única pessoa que está impedindo de acontecer é a própria Sophia. Ela está com raiva e sequer assume.
— É me achar importante demais dizer que eu atrapalho os dois. — Fungou. — Acho que vou pegar meu filho e sair logo daquela casa.
— Não sei o que te dizer e se a Sophia realmente quiser o divórcio?
— Você acha que eu devo viver a minha vida a mercê do que a sua filha quer ou não? — Pegou um sachê de açúcar e começou a brincar com os dedos. — Hoje ela não quer e eu fico lá que nem uma trouxa sem saber se amanhã vai querer ou não?!
— É, eu acho que não sou a pessoa indicada pra conversar com você, não é?! — Branca sorriu.
— Não estou brigando com você. — Disse baixo. — Tenho muito carinho por você e pela Sophia também. Mas Branca, que situação difícil!
— Você devia sair com uma amiga pra espairecer. — Aconselhou e viu a mulher bufar. — Que foi?
— Que amiga? — Resmungou. — A minha vida gira em torno do Micael. Eu deixei tudo pra me dedicar a ele e ao meu filho. Anos de dedicação jogados no lixo como se não fossem nada.
— Eu sinto muito por ter te colocado nessa situação. — Tati deu risada, mas dava pra sentir a dor. — Eu não devia ter falado nada pra você naquele dia.
— Não se arrependa, eu sempre vi o quanto ele a amava. — Olhou nos olhos da Branca. — Eu sempre soube, e sempre fiz esforço pra ignorar. Era fácil, Sophia era uma lembrança, acontece que agora não é. — Desviou o olhar para o café. — Você não tem noção do que é estar com alguém que claramente ama outra pessoa e não faz questão de esconder ou disfarçar. Vc
— Sinto muito, Tati. De verdade!
— Eu preferia que a Sophia me odiasse, daí eu ia conseguir me afastar, mas ela é um amor de menina. Bem diferente do que todos vocês disseram. — Sorriu. — Isso torna tudo muito difícil.
— Ela surpreendeu todos nós. — Deram risadas. — O meu conselho de mãe é: Corre pra não sair mais machucada dessa confusão. Vai chegar um dia que eles não vão aguentar e vão trair você. Mas eu imagino o quanto deve ser difícil tomar essa decisão.
— É muito mais do que realmente imagina. — Suspirou. — Pode por favor não contar a Sophia sobre meus medos e inseguranças?
— Essa conversa fica entre nós. — Se levantou. — Agora eu vou sentar lá no sofazinho da sala de espera. Tô deixando Sophia e Maitê a vontade.
— Quer ficar lá na sala de fisio comigo até a hora da sessão? — Perguntou se levantando e largando o café que tinha tomado apenas um gole.
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Segunda Chance
RomanceApós um trágico acidente durante uma viagem de casal, Sophia acabou entrando em coma. Micael, seu marido passa a viver em função da esposa meses após meses, anos após anos. Deixando a pequena Maitê, filha do casal, um pouco de lado. Ele finalmente...