Capítulo 29

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— Não é justo você me perguntar uma coisa dessa assim na lata. — A loira riu sem graça, não queria responder aquilo. — É muito fácil pra você falar. 

— Na verdade, não é. 

— Tatiana, você não imagina como é acordar de um sono que você nem percebeu que dormiu. — Se afundou nos travesseiros fofos. — Acordar com a sensação de estar atrapalhando tudo, de que era melhor ter morrido de uma vez. 

— Que coisa horrível de se dizer, ninguém queria que você tivesse morrido, todo mundo ficou muito feliz que você acordou, não coloca coisa que não existe na sua cabeça. — Segurou as mãos de sua paciente. — Foi um milagre!

— Mas a sensação de atrapalhar está aqui todo dia. Eu abri os olhos e a família de vocês parece que desmoronou. — Tatiana deu risada. — É sério que está rindo disso?

— É serio que você se preocupa com isso? — Viu Sophia assentir. — Me parece que essa família foi construída com uma base muito fraca. E não, eu não quero ir embora de casa, eu amo o Micael. 

— É, eu não quero o divórcio. — Confessou triste. — Eu também amo o Micael, o mais estranho é que pra mim ontem estávamos indo ter uma pequena lua de mel num feriadão e nos teletransportamos pra cá, no meio dessa confusão. 

— Pediu o divórcio porque está com raiva dele, não é? — Os olhos de Sophia já estavam cheios de lágrimas. — Isso aqui é uma conversa franca, né? Nada do que for dito aqui vai ser contado a ele, eu confio em você e você confia em mim. 

— É muito difícil não ter raiva quando se descobre que seu marido tem um filho com outra mulher. — As lágrimas escorreram. — Eu me sinto abandonada. 

— Mas você ficou em coma por seis anos, ele não abandonou você. — Uma tentativa falha de defender o marido. 

— Eu sei que é egoísmo meu querer que ele tivesse solteiro me esperando esse tempo todo, mas é muito difícil, Tatiana, eu me sinto traída. Parece que ele largou a minha mão quando eu mais precisei dele. 

— Não sei bem o que dizer pra você. 

— Todo mundo fala como se eu tivesse que aceitar tudo por que estava em coma. — Passou as mãos numa tentativa de secar as bochechas. — Mas eu não estava assim porque quis, eu não escolhi essa situação. 

— Sophia, se alguém tivesse dito a ele que você acordaria em seis anos, ele tinha te esperado. Se alguém dissesse a ele que você acordaria em dez anos, ele tinha te esperado. Ele só não esperou por conta da incerteza. E se não acordasse nunca? Teria perdido a vida junto com você no acidente. 

— Não dá pra perdoar o fato dele ter construído uma família. — Avisou com um tom mais firme. — Isso é absurdo e não entra na minha cabeça. 

— Eu não sei como ficamos depois dessa conversa franca. — Tati ficou de pé, estava sem graça. — Ia ser mais fácil se a gente realmente se odiasse, mas eu gosto de você. 

— Ia ser muito mais fácil odiar você, mas que culpa você tem se o meu marido era ele? — Avisou com um tom baixo. — Eu não sei como ficamos, mas acho que você pode tomar sua decisão agora. 

— Eu não quero ser um tapa buraco até a sua raiva passar. — Deu de ombros. — Mas se eu realmente chegar a fazer algo, vai ser muito bem pensado. Agora chega desse papo baixo astral e vamos fazer a sua sessão de fisio porque já está mais que atrasada e a senhora não vai me escapar. 

— Droga, eu estava realmente tentando fugir da sessão. — Brincou enquanto se ajeitava pra descer da cama e sentar na cadeira de rodas. — Você é uma grande carrasca.

— Eu sou uma profissional que quer ver você andando e pulando por aí, então vamos focar, temos muito trabalho a ser feito ainda. — Foi empurrando a cadeira pra sala de fisio e ouvindo Sophia resmungar sobre ficar com as costas doendo depois. 

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Mais tarde naquele dia, perto das seis da noite, Sophia estava em seu quarto com Branca, conversando sobre qualquer assunto que não fosse Micael e seus dramas. E então ouviram batidas leves na porta. Sophia gritou para que entrasse e ela sorriu ao ver Antônia, Jorge e Lidiane ali. 

— Antônia! — Disse extremamente animada. — Era só você que estava faltando vir me ver mesmo. 

— E você acha que eu não ia vir visitar você? — A mulher se aproximou e deu um beijo na testa da ex-nora. — Você parece tão bem, é uma alegria tão grande te ver assim, você não imagina, filha. 

— Obrigada! — Sorria tambem. — É bom estar melhorando. Sinto que já já terei minha vida de volta. 

— Está mais perto do que nunca. — Lidiane avisou. — Soubemos que o Micael vai te dar alta hoje, por isso que trouxemos minha mãe aqui hoje. Acho que enrolamos demais, não é? 

— Você acredita que eles não me deixavam vir ver você? Sempre dizendo que tinha gente demais aqui e eu ia atrapalhar. — Antônia desabafou. — Eu acho que era um complô. 

— Era sim, afinal você não atrapalha nunca. — Sorriu e ganhou mais um abraço. Tatiana entrou no quarto, pronta pra sessão final do dia e cruzou os braços olhando as duas. Jorge e Lidiane por um instante não perceberam a brincadeira. 

— Será que da pra largar a minha sogra, Sophia? — Tati se aproximou prendendo o sorriso e Sophia balançou a cabeça negativamente. — Bora Sophia, larga logo. 

— Que isso, Tatiana? — Antônia disse horrorizada. 

— Eu já te disse que o marido você leva, os sogros não. — Sophia reforçou e em seguida as duas deram risadas. Surpreendendo os demais. — Ai gente, é lógico que é brincadeira. 

— Claro que sim. — Tati se aproximou e deu um abraço na sogra e nos demais. — Vocês acham mesmo que eu falaria uma coisa dessa? 

— Não, por isso toda a surpresa. — Jorge respondeu dando risada. — Ainda tem sessão de fisioterapia hoje? — Tati balançou a cabeça e Sophia rolou os olhos. 

— Claro que tem, essa daqui me inferniza mais que o Micael tirando meu sangue todo dia.  — Brincou e Tatiana se fez de ofendida. — Não faz careta não, amada, eu sei que você só quer o meu bem. 

— Exatamente, e também quero ir pra casa ver meu filho, então será que podemos começar e encerrar essa festinha aqui? 

— Antônia, Tatiana convive muito com seu filho, olha só, falando igualzinho a ele. — Soph cruzou os braços com um bico. — Uma decepção, você tem potencial pra ser legal, Tati, não deixa o Micael te corromper. 

— Para de ser idiota. — Respondeu rindo e então ouviram a porta se abrir novamente. Maitê passou por ela correndo e foi até a mãe. — Ué, o que está fazendo aqui? Quem te trouxe? 

— Nana! — Avisou ainda aconchegada na mãe. — Eu estava com saudades, mãe. — Sophia sorriu e abraçou ainda mais. — Implorei a Nana pra me trazer até aqui hoje, nem que fosse só um pouquinho. 

— E o Miguel? — Tati se aproximou e perguntou a enteada. — Ela trouxe o Miguel? 

— Claro né, tia. — Maitê rolou os olhos. — Eles tão vindo aí. — Apontou pra porta com o queixo quase no instante em que a mulher passava pela porta com a criança. 

— Mamãe. — O menino focou em Tatiana e correu até a mãe, foi fofo. Sophia observou a cena e principalmente o menino, se sentiu estranha. O garoto moreno com cabelo escuro e liso, era a cara de Micael. 

A loira ficou alheia a toda conversa tida no quarto, ficou encarando o menino tão pequeno no colo da mãe e não sabia o que dizer. Saber que Micael tinha um filho era um coisa, ver esse filho era outra completamente diferente.

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