Capítulo 33

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— Incrível como um desmaio mudou sua cabeça, não é Borges?!

— E ainda assim você não vai ficar comigo?

— Não. — Foi certeira. — Micael e Sophia acabaram em 2016. Hoje, somos pessoas diferentes. Não dá pra juntar os caquinhos e agir como se fôssemos iguais. Você tem outra vida e age completamente diferente de como o meu Micael agiria.

— Não complica as coisas, Sophia.

— Eu estou focada em duas coisas, Micael. — Ele prestou bastante atenção na loira. — Em me reabilitar por completo pra ter a minha vida de volta e conseguir me reconectar com a minha filha. Não estou a procura de homem, mesmo que seja você.

— Eu não vou tentar mais, Sophia.

— Não precisa tentar, chega em casa e conversa com a Tati. Ela é sua mulher agora, vocês tem um bebê. Eu fiquei num passado distante por conta de um cinto de segurança. Precisamos aceitar isso.

— Nunca vou aceitar isso, sempre vou achar que podemos mais! — Se levantou pra sair do quarto. — Amanhã venho ver se você está bem. — Ela assentiu e o viu sair do quarto, finalmente soltando as lágrimas que prendia.

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Micael chegou em casa exausto pela manhã e subiu direto pra tomar um banho e deitar, mas mesmo virado depois de um plantão não conseguiu descansar, precisava decidir o que faria com Sophia. Talvez conversar francamente com Tatiana lhe desse uma ideia de pra onde seguir. 

Desistiu de dormir e nove da manhã desceu as escadas pra tomar café. Era terrível estar cansado e a mente não desligar para dormir. Encontrou Natália com as crianças e Maitê se levantou imadiatamente ao vê-lo. 

— Como é que a minha mãe está? Você não fez uma ligação pra avisar se ficou tudo bem!

— Ela está bem. — Disse baixo. — Acordou cinco minutos depois do desmaio, eu fiz uns exames. Não tem nada, está ótima e ainda lá no hospital, não a mandei embora. 

— Fico mais aliviada, será que eu posso ir lá visitar a minha mãe hoje ou você vai fazer um escândalo que nem ontem? — Ele suspirou enquanto colocava café na xícara e olhou pra Natália. — Por favor, é importante pra mim!

— Pode, Maitê. — Ela sorriu contente. — Pode ir lá sempre que quiser e a Nana puder te levar, combinado assim? — Esperou confirmação da babá também. — Mas quando chegar a hora de vir embora, eu não quero ouvir mal criação, pode ser? 

 — Combinado assim então. — Se aproximou pra dar um beijo no pai. — Eu te amo, pai. — Ele deu risada se lembrando de que há menos de vinte e quatro horas ela havia gritado que o odiava. — A vida será muito mais simples quando você e minha mãe pararem de brigar por causa de besteira. 

— Eu fui falar com ela de madrugada e pedi desculpa. — Surpreendeu a filha. — Conversamos, vai ser melhor agora, confia no papai. 

— E a Tati? 

— Ai é outra conversa, mas ainda não aconteceu. — Deu um beijo na filha, pegou a xícara de café e saiu de perto, indo até o sofá. 

Ligou a televisão e então, quando menos esperou, estava dormindo ali no sofá, em uma posição que o deixaria com dor nas costas quando acordasse. 

Perto do meio-dia, Natália levou Maitê pra escola e Micael nem viu. Acordou apenas quando ouviu novamente a porta se abrir, Tatiana chegava em casa pro almoço e o viu acordando. 

— Por que está dormindo aí? — Chegou perto para ver o ainda marido. — Vai ficar com dor nas costas, não tem mais idade pra isso. 

— Estava com muita coisa pra pensar, deitei na cama, mas parecia impossível dormir. — Comentou desanimado. — E você? Como foi a sessão da manhã com a Sophia? Ela está bem?

— Bem produtiva. Sophia me pareceu mais determinada e também um tanto triste. Será que eu quero saber o motivo? — Ergueu uma sobrancelha e viu o marido respirar fundo. — Acho que não quero, está na cara que rolou algo nessa madrugada, de novo. 

— Precisamos conversar sério, Tati. Eu sinto que já devia ter feito isso, mas como você sabe, desde que a Sophia acordou eu só tenho feito besteira e magoado vocês duas. 

— Vai terminar comigo? — Ele negou com a cabeça. Embora tivesse dito aquilo à Sophia, com o tempo extra pensando, resolveu deixar por conta de Tatiana. — Não é nada que eu não já estivesse esperando. 

— Não é bem isso, acho que precisamos conversar. 

— Mas você só diz que precisamos conversar e não diz nada. — Sentou na poltrona, quase que de frente a ele. — Se precisamos conversar, vamos conversar, meu amor

— Essa madrugada me fez pensar muito, não é atoa que não consegui dormir. Eu fui conversar com a Sophia e pedi pra reatar. — Tatiana abriu a boca de surpresa, mas logo fechou, não havia motivo pra ficar surpresa. — Eu disse que queria tentar de novo, que achava possível mesmo depois de todo tempo. 

— Vou fazer as minhas malas, não quero nem saber o final dessa conversa. — Ela tentava prender as lágrimas, mas era mais forte que ela e algumas escorreram. — Já entendi bem o recado. 

— Senta aí, eu sei que não tenho moral nenhuma pra pedir que você fique. Eu estou muito confuso, não consigo nem dizer o que quero. 

— Pedir pra eu ficar com você? Você não está confuso, se decidiu de madrugada. Micael, você pede pra reatar com a sua ex, ela diz que não e você acha que pode vir pra mim e que vou aceitar? Eu amo você desde o nosso primeiro encontro, mas é muito dificil pra mim essa situação. Tenho que me amar primeiro e ficar aqui nessa casa não vai me fazer bem. 

— Imagino que sim, respeito e amo você, Tatiana. Mesmo que de uma forma diferente. — Ela o encarou surpresa, não lembrava de já ter ouvido aquelas palavras dele. — Não vou fazer nada se quiser ir embora, me desculpe por ter sido babaca e te ameaçado. Você me conhece bem e sabe que eu não sou desse jeito. 

— Bom, só de você não ser um idiota eu já agradeço. — Se levantou pra se afastar. — Eu vou arrumar as minhas coisas, pegar o Miguel e ir pra casa da minha mãe. — Ele assentiu, não havia mais o que falar. 

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