Capítulo 5

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— Baseado na ciência é praticamente impossível, baseado na fé, Deus pode operar um milagre aqui! — Branca sorriu, sabia que Micael era bem cético. — A questão é que parece tão errado Branca.

— Eu imagino que sim.

— Ano passado, em dezembro, eu tentei chamar uma mulher pra sair. — Confessou, encarando a aliança ainda no dedo. — Quando eu vim aqui contar pra Sophia, um peso enorme estava sobre mim. Parece que eu estou abandonando, traindo a Sophia. Eu jurei diante do padre, na saúde e na doença.

— Micael, eu agradeço tanto o que você vem fazendo pela minha filha. — Sussurrou. — Toda dedicação, todo amor e carinho. Mas você precisa seguir sua vida.

— Quando a Sophia acordar, vou dizer que foi a senhora que deu a ideia. — Sorriu. — Ela vai ficar brava.

— Ela vai querer me matar, o tanto que era ciumenta, se pudesse guardava você num potinho só dela.

— Não gosto muito quando você fala no passado. — Suspirou. — Mas sim, um ciúme absurdo às vezes. Perdia a razão fácil, fácil.

— Eu nunca entendi bem porque de tanto ciúme. — Branca deu de ombros. — Você sempre me pareceu tão certinho.

— Ela tinha um sério problema de autoestima, sempre se achou pouco pra mim. — Deu de ombros, e pegou a mão de Sophia. — Agora você vê, um mulherão desse, Branca.

— Deve ter tido a ver com a bulimia que ela desenvolveu na adolescência. — Comentou. — Aliás, com certeza tem a ver.

— Nunca se achou suficiente e eu nunca nem cogitei ter outra mulher na minha vida. — Suspirou. — As ironias da vida. Droga, eu não vou conseguir sair com ninguém, eu amo a Sophia demais pra pensar em outra mulher.

— Você vai aprender a lidar com isso. — Sorriu. Foram interrompidos pela fisioterapeuta que marcava presença ali pontualmente todos os dias para as séries com Sophia. — Boa tarde, Tatiana!

— Olá, Branca. — As duas conversavam por alguns momentos sempre que se esbarravam. — Hoje cheguei um pouquinho cedo, querem que eu volte às duas? — Perguntou alternando olhares.

— Não, que isso, pode começar. — Micael respondeu e os dois se afastaram.

— Tatiana, você está solteira? — O moreno arregalou os olhos pra sogra e tentou fazer um sinal para que ela desistisse daquela ideia absurda. — Me fale da sua vida. — A mulher, baixinha de cabelos castanhos claros encaracolados, deu risada.

— Ah sim, depois da minha última relação desastrosa, eu optei por ficar sozinha por um tempo.

— Isso é ótimo. —  A mulher esticou a perna de Sophia e encarou Branca. — Micael precisa sair pra se divertir um pouco, você podia fazer companhia a ele.

— Branca você perdeu o juízo? — Ele disse com olhos ainda mais arregalados. — Eu quero ver se a Sophia estiver ouvindo isso.

— Fizemos testes semana passada e sabemos que ela não está ouvindo, mas se tiver, é bom também, vai que o ciúme faz ela despertar. — Sorriu a Micael. — Anda, convida a moça pra sair.

— Não sei se é uma boa ideia, ele é meu chefe, Branca. — Tatiana comentou envergonhada e voltou a fazer os exercícios na perna esquerda de Sophia.

— Ah, isso não faz mal, ele também era chefe da minha filha, pareciam lidar bem com isso. — Micael dessa vez nem se deu ao trabalho de arregalar os olhos, apenas deu risada da cara de pau. — Anda logo, Micael. Tatiana está esperando o seu convite.

— Você não existe, Branca. — Ele disse ainda rindo e logo olhou para a fisioterapeuta. — Você quer ir jantar comigo, Tatiana?

— Ela quer! — Branca respondeu antes da menina e os três riram. — Amanhã, que eu sei que não estará de plantão, já que hoje está aqui.

— Branca, agora quero ainda mais que a Sophia acorde só pra eu dizer que foi tudo culpa da mãe dela. — Brincou.

— Você vai me entregar assim? — Cruzou os braços. — Traidor!

— Pode apostar que eu vou, ninguém segura a Sophia quando está com ciúmes. — Deu risada ao se lembrar. — Me passa o seu telefone, Tatiane.

— Claro, Dr. Borges. — Esticou a perna de Sophia cuidadosamente antes de pegar dentro da bolsa um cartãozinho. — Aqui está.

— Obrigado. — Sorriu. O telefone tocou em sua mão e ele viu que era chamado de seu pai. — Fala pai?!

— Cadê você? — Sua voz estava alarmada.

— Ué, vim ver a Sophia. — Respondeu e desviou o olhar automaticamente para Sophia. — Aconteceu alguma coisa?

— Não está ouvindo o alarme da emergência? Houve um acidente automobilístico carro x moto. Uma vítima está em estado grave sendo levada ao centro cirúrgico. Precisamos do chefe da equipe.

— Estou a caminho. — Foi só o que respondeu e saiu correndo, sem sequer se despedir, mas elas entendiam a pressa.

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— Maitê? — Micael chegou em casa procurando a filha, que ficava sempre com a babá. — Filha?

— Oi, papai. — A doce menina de seis anos apareceu sorrindo. — Chegou tarde hoje!

— Desculpa, teve uma emergência no hospital. — Deu um beijo na filha. — Como foi o dia?

— Depois da escola, a Nana me levou pra ver a mamãe de novo. — Disse com uma careta. — Tomamos sorvete e agora eu estava desenhando. Não vi a Nana ir embora!

— Ela foi assim que eu cheguei. — Comentou. — Por que você fez careta ao falar da sua mãe?

— Não quero mais ir ao hospital. — Pediu e surpreendeu. — Minha mãe só dorme.

— Ela está doente. — Respondeu sério. — Vai ficar muito chateada quando acordar e souber que você não vai lá.

— Eu não posso ver ela quando acordar? — Cruzou os braços. — Ela está mais adormecida do que a bela adormecida, é sério que você não consegue mesmo despertar ela com um beijo?

— Já conversamos sobre isso. — Deu uma risada. — Não funciona assim.

— Ou será que você não é o príncipe e verdadeiro amor da minha mãe? — Implicou. — Deve ser isso, temos que achar outro príncipe.

— Maitê, para com isso! — Disse sério. — Temos que conversar sobre outra coisa.

— Ih, o que foi?!

— Amanhã você vai pra casa da vó Branca, papai vai sair com uma amiga. — Avisou e ela o olhou desconfiada.

— Namorada? — Era ciumenta igual a mãe. — Você arranjou uma namorada?

— Claro que não. — Bufou. — Eu disse amiga!

— Mas tem cara de namorada. — Rebateu. — Quando minha mãe acordar do sono de Bela adormecida, vai ficar brava.

— Isso não é assunto pra você. — Bufou. — Só estou avisando que vou te levar pra sua avó e buscarei no outro dia.

— E sobre não ir mais ao hospital? — Perguntou. — Será que pode avisar a Nana também?

— Tem certeza?

— Pelo menos não todo dia. — Pediu. — Uma vez na semana?

— Tudo bem filha, você que decide. — Deu um beijo na testa da menina. — Quando sentir falta da mamãe me avisa e eu te levo lá.

— Não adianta nada, ela não se mexe. Parece até que já morreu.

— Maitê! — Repreendeu. — Isso não é jeito de falar.

— Você arranjou outra namorada. — Ficou de pé. — Já desistiu dela também, sabe que nunca vai acordar. — Saiu da sala pisando duro como se fosse gente grande.

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