— Baseado na ciência é praticamente impossível, baseado na fé, Deus pode operar um milagre aqui! — Branca sorriu, sabia que Micael era bem cético. — A questão é que parece tão errado Branca.
— Eu imagino que sim.
— Ano passado, em dezembro, eu tentei chamar uma mulher pra sair. — Confessou, encarando a aliança ainda no dedo. — Quando eu vim aqui contar pra Sophia, um peso enorme estava sobre mim. Parece que eu estou abandonando, traindo a Sophia. Eu jurei diante do padre, na saúde e na doença.
— Micael, eu agradeço tanto o que você vem fazendo pela minha filha. — Sussurrou. — Toda dedicação, todo amor e carinho. Mas você precisa seguir sua vida.
— Quando a Sophia acordar, vou dizer que foi a senhora que deu a ideia. — Sorriu. — Ela vai ficar brava.
— Ela vai querer me matar, o tanto que era ciumenta, se pudesse guardava você num potinho só dela.
— Não gosto muito quando você fala no passado. — Suspirou. — Mas sim, um ciúme absurdo às vezes. Perdia a razão fácil, fácil.
— Eu nunca entendi bem porque de tanto ciúme. — Branca deu de ombros. — Você sempre me pareceu tão certinho.
— Ela tinha um sério problema de autoestima, sempre se achou pouco pra mim. — Deu de ombros, e pegou a mão de Sophia. — Agora você vê, um mulherão desse, Branca.
— Deve ter tido a ver com a bulimia que ela desenvolveu na adolescência. — Comentou. — Aliás, com certeza tem a ver.
— Nunca se achou suficiente e eu nunca nem cogitei ter outra mulher na minha vida. — Suspirou. — As ironias da vida. Droga, eu não vou conseguir sair com ninguém, eu amo a Sophia demais pra pensar em outra mulher.
— Você vai aprender a lidar com isso. — Sorriu. Foram interrompidos pela fisioterapeuta que marcava presença ali pontualmente todos os dias para as séries com Sophia. — Boa tarde, Tatiana!
— Olá, Branca. — As duas conversavam por alguns momentos sempre que se esbarravam. — Hoje cheguei um pouquinho cedo, querem que eu volte às duas? — Perguntou alternando olhares.
— Não, que isso, pode começar. — Micael respondeu e os dois se afastaram.
— Tatiana, você está solteira? — O moreno arregalou os olhos pra sogra e tentou fazer um sinal para que ela desistisse daquela ideia absurda. — Me fale da sua vida. — A mulher, baixinha de cabelos castanhos claros encaracolados, deu risada.
— Ah sim, depois da minha última relação desastrosa, eu optei por ficar sozinha por um tempo.
— Isso é ótimo. — A mulher esticou a perna de Sophia e encarou Branca. — Micael precisa sair pra se divertir um pouco, você podia fazer companhia a ele.
— Branca você perdeu o juízo? — Ele disse com olhos ainda mais arregalados. — Eu quero ver se a Sophia estiver ouvindo isso.
— Fizemos testes semana passada e sabemos que ela não está ouvindo, mas se tiver, é bom também, vai que o ciúme faz ela despertar. — Sorriu a Micael. — Anda, convida a moça pra sair.
— Não sei se é uma boa ideia, ele é meu chefe, Branca. — Tatiana comentou envergonhada e voltou a fazer os exercícios na perna esquerda de Sophia.
— Ah, isso não faz mal, ele também era chefe da minha filha, pareciam lidar bem com isso. — Micael dessa vez nem se deu ao trabalho de arregalar os olhos, apenas deu risada da cara de pau. — Anda logo, Micael. Tatiana está esperando o seu convite.
— Você não existe, Branca. — Ele disse ainda rindo e logo olhou para a fisioterapeuta. — Você quer ir jantar comigo, Tatiana?
— Ela quer! — Branca respondeu antes da menina e os três riram. — Amanhã, que eu sei que não estará de plantão, já que hoje está aqui.
— Branca, agora quero ainda mais que a Sophia acorde só pra eu dizer que foi tudo culpa da mãe dela. — Brincou.
— Você vai me entregar assim? — Cruzou os braços. — Traidor!
— Pode apostar que eu vou, ninguém segura a Sophia quando está com ciúmes. — Deu risada ao se lembrar. — Me passa o seu telefone, Tatiane.
— Claro, Dr. Borges. — Esticou a perna de Sophia cuidadosamente antes de pegar dentro da bolsa um cartãozinho. — Aqui está.
— Obrigado. — Sorriu. O telefone tocou em sua mão e ele viu que era chamado de seu pai. — Fala pai?!
— Cadê você? — Sua voz estava alarmada.
— Ué, vim ver a Sophia. — Respondeu e desviou o olhar automaticamente para Sophia. — Aconteceu alguma coisa?
— Não está ouvindo o alarme da emergência? Houve um acidente automobilístico carro x moto. Uma vítima está em estado grave sendo levada ao centro cirúrgico. Precisamos do chefe da equipe.
— Estou a caminho. — Foi só o que respondeu e saiu correndo, sem sequer se despedir, mas elas entendiam a pressa.
.
.
.— Maitê? — Micael chegou em casa procurando a filha, que ficava sempre com a babá. — Filha?
— Oi, papai. — A doce menina de seis anos apareceu sorrindo. — Chegou tarde hoje!
— Desculpa, teve uma emergência no hospital. — Deu um beijo na filha. — Como foi o dia?
— Depois da escola, a Nana me levou pra ver a mamãe de novo. — Disse com uma careta. — Tomamos sorvete e agora eu estava desenhando. Não vi a Nana ir embora!
— Ela foi assim que eu cheguei. — Comentou. — Por que você fez careta ao falar da sua mãe?
— Não quero mais ir ao hospital. — Pediu e surpreendeu. — Minha mãe só dorme.
— Ela está doente. — Respondeu sério. — Vai ficar muito chateada quando acordar e souber que você não vai lá.
— Eu não posso ver ela quando acordar? — Cruzou os braços. — Ela está mais adormecida do que a bela adormecida, é sério que você não consegue mesmo despertar ela com um beijo?
— Já conversamos sobre isso. — Deu uma risada. — Não funciona assim.
— Ou será que você não é o príncipe e verdadeiro amor da minha mãe? — Implicou. — Deve ser isso, temos que achar outro príncipe.
— Maitê, para com isso! — Disse sério. — Temos que conversar sobre outra coisa.
— Ih, o que foi?!
— Amanhã você vai pra casa da vó Branca, papai vai sair com uma amiga. — Avisou e ela o olhou desconfiada.
— Namorada? — Era ciumenta igual a mãe. — Você arranjou uma namorada?
— Claro que não. — Bufou. — Eu disse amiga!
— Mas tem cara de namorada. — Rebateu. — Quando minha mãe acordar do sono de Bela adormecida, vai ficar brava.
— Isso não é assunto pra você. — Bufou. — Só estou avisando que vou te levar pra sua avó e buscarei no outro dia.
— E sobre não ir mais ao hospital? — Perguntou. — Será que pode avisar a Nana também?
— Tem certeza?
— Pelo menos não todo dia. — Pediu. — Uma vez na semana?
— Tudo bem filha, você que decide. — Deu um beijo na testa da menina. — Quando sentir falta da mamãe me avisa e eu te levo lá.
— Não adianta nada, ela não se mexe. Parece até que já morreu.
— Maitê! — Repreendeu. — Isso não é jeito de falar.
— Você arranjou outra namorada. — Ficou de pé. — Já desistiu dela também, sabe que nunca vai acordar. — Saiu da sala pisando duro como se fosse gente grande.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Segunda Chance
RomanceApós um trágico acidente durante uma viagem de casal, Sophia acabou entrando em coma. Micael, seu marido passa a viver em função da esposa meses após meses, anos após anos. Deixando a pequena Maitê, filha do casal, um pouco de lado. Ele finalmente...