Capítulo 27

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Na manhã seguinte ela acordou e foi direto pro banheiro. Em seguida, quando voltou, o filho estava acordado. Levou o menino pra escovar os pequenos dentinhos, deu banho e o vestiu. E então os dois desceram pra tomar café da manhã.

— Quer comer o quê? Danone com sanduíche? — Ele balançou a cabeça animado, amava yogurt e amava queijo quente. — Ela começou a preparar e viu Micael aparecer ali, sem camisa, com cabelo bagunçado e cara de sono.

— Bom dia. — Ele disse a mulher que não fez questão de responder. — Você vai realmente ficar sem falar comigo?

— Não tenho assunto nenhum pra falar com você. — Colocou o pão com queijo na sanduicheira. — Absolutamente nada.

— Tatiana, você não precisa ficar com raiva de mim por causa da conversa de ontem. — Chegou perto da mulher. — Foi o único jeito de fazer você desistir da ideia de ir embora daqui.

— Você devia tentar fazer eu me sentir querida e amada. Esse é um jeito eficaz de fazer com que eu fique, mas você foi lá e decidiu me ameaçar com o meu filho, que sinceramente é a única coisa que me importa no mundo. — Eles falavam baixinho, apesar do menino não entender muito bem, uma briga em os dois ele saberia indentificar.

— Me desculpa se eu sou um idiota. — Rolou os olhos. — Mas o que eu falei é verdade, eu não quero ficar longe de você e do nosso filho.

— Errado. — Disse brava. — Você não está nem aí pra mim. Falou que se quisesse eu podia ir embora e foda-se.

— Ei, não xinga na frente do menino!

— Você me irrita. — Bufou e se virou pra sanduicheira afim de tirar o pão do filho, colocou em um prato aguardando que esfriasse. — E não vai ser essa desculpa mixuruca que vai fazer a minha raiva desaparecer, vou repetir, você ameaçou tirar meu filho!

— Você ameaçou pegar o menino e ir embora.

— Eu não sou obrigada a ficar aqui esperando ser trocada por outra! — Já estavam se irritando. — Eu sou humana, eu tenho sentimentos. Caso não tenha percebido, não são só os seus sentimentos que importam. Torço muito pra que a Sophia melhore e pegue a Maitê de você.

— Isso nunca vai acontecer. — Rolou os olhos. — Meus filhos ficam perto de mim.

— E as mães deles que se fodam, correto? — Xingou novamente. Entregou o prato e o copo pro menino pra que se distraísse comendo. — Você bateu aquele carro pra se livrar da Sophia e ficar com a Maitê pra você? Vai fazer o que comigo?

— Agora você ficou louca de vez! — Ele deu risada. — Um caminhão bateu no meu carro, eu não bati em ninguém.

— Você pode ter freado e feito o caminhão bater em vocês. — Ele parou de rir e a olhou por um instante. — Eu não duvido mais de nada que venha de você.

— Eu digo que brigaria pela guarda do meu filho com você, e na manhã seguinte você me transforma num assassino? — Ergueu uma sobrancelha. — Deve estar com muito ódio de mim mesmo pra sequer cogitar uma coisa dessa.

— Estou. — Suspirou. — Agora dá licença, daqui a pouco está na hora da sessão da Sophia e eu tenho que ir pro hospital. — Passou pelo outro lado da mesa, afim de sequer encostar nele. — Cuida do meu filho direito até a Natália chegar aqui. — Deu um beijo na testa do menino. — Mamãe te ama, venho pra casa almoçar com você, tá meu lindo?

— Também te amo, mamãe. — Deu um beijo na mãe e então voltou a tomar seu café. Tatiana saiu de casa sem dizer mais nenhuma palavra ao marido.

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A sessão de fisioterapia da manhã fluiu bem. Tati não tinha comentado sobre o desentendimento e vinha fingindo que estava tudo bem.

Assim que a sessão acabou, ela foi embora, avisando que ia almoçar com o filho e colocar a Maitê pra escola. Não encontrou Micael em casa e presumiu que teriam se desencontrado, já que hoje o plantão não era no pronto socorro então só tinha uns pacientes na parte da tarde.

Arrumou João Miguel pra creche, e sorriu quando Maitê apareceu pronta, apenas ajeitou seu cabelo. Natália sempre levava os dois e naquele dia não seria diferente.

Voltou ao hospital por volta de uma da tarde e ficou na sala de fisio sozinha, pensando um pouco em toda merda que estava atolada.

Perto das duas ela caminhou pro quarto de Sophia. Tentou limpar a mente e parecer bem, como tinha feito mais cedo.

— Olá, meninas. — Cumprimentou ao entrar. — Preparada, Sophia?

— E essa dor que eu estou sentindo nas costas é normal? — Perguntou desanimada. — Eu juro que não aguento mais isso, são sete meses, Tatiana. Quando é que eu vou ficar boa de verdade?

— Caramba, você não conseguia virar o pescoço. — Disse rindo. — Hoje em dia você anda!

— Eu dou três passos e sinto uma dor terrível!

— Você passou seis anos deitada direto. Dá um tempo pro seu corpo, você está indo tão bem!

— Só queria viver de novo, sair desse hospital, cuidar da minha filha. Isso não é pedir demais.

— Não é. — Sorriu. — Vai dar certo, logo você vai estar fazendo tudo o que quiser. — Segurou a mão da loira. — Curtindo a vida como uma adolescente, conhecendo gatinhos por aí. Quem sabe até não me convida pra uma noitada. — Deu risada junto com Sophia.

— Está convidada sim, mas primeiro resolve a minha coluna.

— Vamos resolver! — Encorajou. Micael entrou no quarto e as duas rolaram os olhos na mesma hora, sem ao menos perceber.

— Boa tarde. — Foi seco e somente Branca respondeu, ele suspirou diante da situação. — Estica o braço, Sophia. — Mostrou a seringa.

— Não, de novo não. — Protestou. — Eu estou ótima.

— Não haja como uma criança, toda vez é isso. — Disse grosso. — Se eu pedi exame de sangue, é porque preciso dessa porcaria. Caso contrário eu estaria muito longe do seu quarto, pode ter certeza.

— Hum, alguém está bem irritadinho. — Ela debochou. — Não tenho culpa dos teus problemas, Borges.

— Tem culpa de noventa por cento deles, Abrahão. — Disse no mesmo tom. — Estica essa porcaria de braço de uma vez.

— Vem cá, que conduta médica é essa?? — Ela continuou implicando. — Você não pode falar assim comigo não.

— Eu juro, se você continuar a falar eu vou tirar do pé e dessa vez não é só ameaça. — Bufou. — Simplifica minha vida.

— Você não simplifica a minha.

— Ah, mas pode ficar tranquila, se esse exame aqui der ok eu vou voltar pra assinar sua alta hoje ainda. — Sophia e Branca arregalaram os olhos. — Prepara um carro, Branca. Porque eu vou despachar sua filha hoje.

— O quê? — Sophia protestou. — E a minha fisioterapia?!

— Se vira e encontra outro fisioterapeuta pra cuidar de você. — Disse sem dó. — Agora, estica o braço. — Ela rolou os olhos e esticou. Ele não demorou a achar a veia e saiu de perto, sem sequer falar com Tatiana.

— Está tudo bem? — A mulher balançou a cabeça. — Tati...

— Que ideia é essa de dar alta pra Sophia do nada? — Branca perguntou à mulher. — Ele nem queria fazer isso.

— Eu não sei, gente. — Deu de ombros. — Deve ser pra vocês irem pra outra cidade e ele ter a Maitê de novo só pra ele. — Respondeu de má vontade e Sophia arregalou os olhos.

— O que você está falando? — Disse alarmada. — Ele planeja não deixar eu ver a minha filha?!

— Aí, não sei. — Suspirou. — Falei besteira, desculpa. É que eu ando tão sobrecarregada que nem sei mais o que digo.

— Mãe, você pode dar uma licença pra gente? — Sophia pediu ao ver o estado de Tatiana e Branca assentiu, saindo em seguida.

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