Na manhã seguinte ela acordou e foi direto pro banheiro. Em seguida, quando voltou, o filho estava acordado. Levou o menino pra escovar os pequenos dentinhos, deu banho e o vestiu. E então os dois desceram pra tomar café da manhã.
— Quer comer o quê? Danone com sanduíche? — Ele balançou a cabeça animado, amava yogurt e amava queijo quente. — Ela começou a preparar e viu Micael aparecer ali, sem camisa, com cabelo bagunçado e cara de sono.
— Bom dia. — Ele disse a mulher que não fez questão de responder. — Você vai realmente ficar sem falar comigo?
— Não tenho assunto nenhum pra falar com você. — Colocou o pão com queijo na sanduicheira. — Absolutamente nada.
— Tatiana, você não precisa ficar com raiva de mim por causa da conversa de ontem. — Chegou perto da mulher. — Foi o único jeito de fazer você desistir da ideia de ir embora daqui.
— Você devia tentar fazer eu me sentir querida e amada. Esse é um jeito eficaz de fazer com que eu fique, mas você foi lá e decidiu me ameaçar com o meu filho, que sinceramente é a única coisa que me importa no mundo. — Eles falavam baixinho, apesar do menino não entender muito bem, uma briga em os dois ele saberia indentificar.
— Me desculpa se eu sou um idiota. — Rolou os olhos. — Mas o que eu falei é verdade, eu não quero ficar longe de você e do nosso filho.
— Errado. — Disse brava. — Você não está nem aí pra mim. Falou que se quisesse eu podia ir embora e foda-se.
— Ei, não xinga na frente do menino!
— Você me irrita. — Bufou e se virou pra sanduicheira afim de tirar o pão do filho, colocou em um prato aguardando que esfriasse. — E não vai ser essa desculpa mixuruca que vai fazer a minha raiva desaparecer, vou repetir, você ameaçou tirar meu filho!
— Você ameaçou pegar o menino e ir embora.
— Eu não sou obrigada a ficar aqui esperando ser trocada por outra! — Já estavam se irritando. — Eu sou humana, eu tenho sentimentos. Caso não tenha percebido, não são só os seus sentimentos que importam. Torço muito pra que a Sophia melhore e pegue a Maitê de você.
— Isso nunca vai acontecer. — Rolou os olhos. — Meus filhos ficam perto de mim.
— E as mães deles que se fodam, correto? — Xingou novamente. Entregou o prato e o copo pro menino pra que se distraísse comendo. — Você bateu aquele carro pra se livrar da Sophia e ficar com a Maitê pra você? Vai fazer o que comigo?
— Agora você ficou louca de vez! — Ele deu risada. — Um caminhão bateu no meu carro, eu não bati em ninguém.
— Você pode ter freado e feito o caminhão bater em vocês. — Ele parou de rir e a olhou por um instante. — Eu não duvido mais de nada que venha de você.
— Eu digo que brigaria pela guarda do meu filho com você, e na manhã seguinte você me transforma num assassino? — Ergueu uma sobrancelha. — Deve estar com muito ódio de mim mesmo pra sequer cogitar uma coisa dessa.
— Estou. — Suspirou. — Agora dá licença, daqui a pouco está na hora da sessão da Sophia e eu tenho que ir pro hospital. — Passou pelo outro lado da mesa, afim de sequer encostar nele. — Cuida do meu filho direito até a Natália chegar aqui. — Deu um beijo na testa do menino. — Mamãe te ama, venho pra casa almoçar com você, tá meu lindo?
— Também te amo, mamãe. — Deu um beijo na mãe e então voltou a tomar seu café. Tatiana saiu de casa sem dizer mais nenhuma palavra ao marido.
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.A sessão de fisioterapia da manhã fluiu bem. Tati não tinha comentado sobre o desentendimento e vinha fingindo que estava tudo bem.
Assim que a sessão acabou, ela foi embora, avisando que ia almoçar com o filho e colocar a Maitê pra escola. Não encontrou Micael em casa e presumiu que teriam se desencontrado, já que hoje o plantão não era no pronto socorro então só tinha uns pacientes na parte da tarde.
Arrumou João Miguel pra creche, e sorriu quando Maitê apareceu pronta, apenas ajeitou seu cabelo. Natália sempre levava os dois e naquele dia não seria diferente.
Voltou ao hospital por volta de uma da tarde e ficou na sala de fisio sozinha, pensando um pouco em toda merda que estava atolada.
Perto das duas ela caminhou pro quarto de Sophia. Tentou limpar a mente e parecer bem, como tinha feito mais cedo.
— Olá, meninas. — Cumprimentou ao entrar. — Preparada, Sophia?
— E essa dor que eu estou sentindo nas costas é normal? — Perguntou desanimada. — Eu juro que não aguento mais isso, são sete meses, Tatiana. Quando é que eu vou ficar boa de verdade?
— Caramba, você não conseguia virar o pescoço. — Disse rindo. — Hoje em dia você anda!
— Eu dou três passos e sinto uma dor terrível!
— Você passou seis anos deitada direto. Dá um tempo pro seu corpo, você está indo tão bem!
— Só queria viver de novo, sair desse hospital, cuidar da minha filha. Isso não é pedir demais.
— Não é. — Sorriu. — Vai dar certo, logo você vai estar fazendo tudo o que quiser. — Segurou a mão da loira. — Curtindo a vida como uma adolescente, conhecendo gatinhos por aí. Quem sabe até não me convida pra uma noitada. — Deu risada junto com Sophia.
— Está convidada sim, mas primeiro resolve a minha coluna.
— Vamos resolver! — Encorajou. Micael entrou no quarto e as duas rolaram os olhos na mesma hora, sem ao menos perceber.
— Boa tarde. — Foi seco e somente Branca respondeu, ele suspirou diante da situação. — Estica o braço, Sophia. — Mostrou a seringa.
— Não, de novo não. — Protestou. — Eu estou ótima.
— Não haja como uma criança, toda vez é isso. — Disse grosso. — Se eu pedi exame de sangue, é porque preciso dessa porcaria. Caso contrário eu estaria muito longe do seu quarto, pode ter certeza.
— Hum, alguém está bem irritadinho. — Ela debochou. — Não tenho culpa dos teus problemas, Borges.
— Tem culpa de noventa por cento deles, Abrahão. — Disse no mesmo tom. — Estica essa porcaria de braço de uma vez.
— Vem cá, que conduta médica é essa?? — Ela continuou implicando. — Você não pode falar assim comigo não.
— Eu juro, se você continuar a falar eu vou tirar do pé e dessa vez não é só ameaça. — Bufou. — Simplifica minha vida.
— Você não simplifica a minha.
— Ah, mas pode ficar tranquila, se esse exame aqui der ok eu vou voltar pra assinar sua alta hoje ainda. — Sophia e Branca arregalaram os olhos. — Prepara um carro, Branca. Porque eu vou despachar sua filha hoje.
— O quê? — Sophia protestou. — E a minha fisioterapia?!
— Se vira e encontra outro fisioterapeuta pra cuidar de você. — Disse sem dó. — Agora, estica o braço. — Ela rolou os olhos e esticou. Ele não demorou a achar a veia e saiu de perto, sem sequer falar com Tatiana.
— Está tudo bem? — A mulher balançou a cabeça. — Tati...
— Que ideia é essa de dar alta pra Sophia do nada? — Branca perguntou à mulher. — Ele nem queria fazer isso.
— Eu não sei, gente. — Deu de ombros. — Deve ser pra vocês irem pra outra cidade e ele ter a Maitê de novo só pra ele. — Respondeu de má vontade e Sophia arregalou os olhos.
— O que você está falando? — Disse alarmada. — Ele planeja não deixar eu ver a minha filha?!
— Aí, não sei. — Suspirou. — Falei besteira, desculpa. É que eu ando tão sobrecarregada que nem sei mais o que digo.
— Mãe, você pode dar uma licença pra gente? — Sophia pediu ao ver o estado de Tatiana e Branca assentiu, saindo em seguida.
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Segunda Chance
RomanceApós um trágico acidente durante uma viagem de casal, Sophia acabou entrando em coma. Micael, seu marido passa a viver em função da esposa meses após meses, anos após anos. Deixando a pequena Maitê, filha do casal, um pouco de lado. Ele finalmente...