Micael saiu do quarto e foi até seu consultório, o hospital estava bem calmo naquele início de plantão. Pensou e repensou se devia realmente mandar a menina pra casa com Natália e chegou a conclusão de que não valia a pena comprar aquela briga, tinha coisa muito mais importante pra se preocupar.
Pegou o celular e resolveu ligar pra Tatiana, queria perguntar sobre o filho e como haviam chegado lá, mas a mulher não o atendeu. Suspirou e abaixou a cabeça na mesa, pensando em como resolveria seus problemas.
Mais de uma hora depois ele voltou ao quarto de Sophia para dizer a Branca que poderia sim levar Maitê pra casa. Kaique já estava ajeitando a loira pra fisioterapia da noite e parou assim que ele chegou, a mulher estava em pé.
— Voltou é senhor estressadinho? — Brincou e o viu dar um sorriso de canto. — Que cara de bobo é essa?
— Eu gosto de te ver em pé, parece que nada aconteceu. — Deu de ombros e a viu sorrir. — Cadê a sua filha? — Olhou em volta e não a viu em nenhum lugar do quarto.
— No banheiro. — Respondeu apontando. — Você já chamou a Nana?
— Eu não vou chamar a Natália, a coitada merece descansar da Maitê. — Brincou e Sophia deu risada.
— Eu conversei com ela, vai te pedir desculpas, finge que mudou de ideia por causa disso.
— Está querendo dizer que me deu razão? Está com febre? Viu só, você devia me deixar te examinar direito, claramente tem algo errado com essa tua cabeça. — Brincou e ouviu a risada de Branca, que estava sentada observando os dois.
— Para de ser idiota, eu posso ser ignorante com você, ela não.
— Sophia, se ela tivesse aprendido a ser assim agora vendo a gente brigar, estaria ótimo, mas ela é mal criada desde sempre, não sei nem que castigo dar pra essa menina que ainda não tenha dado. — Deu de ombros observando a expressão de indignação do ex-marido. — Aquela ali é você inteirinha.
— Isso é uma coisa boa, serviu pra você ter menos saudades. — Brincou e viu Micael olhar pra Branca com uma sobrancelha erguida.
— Sua filha não é fácil, Branca. — Ergueu as mãos em rendição. — A única coisa que me fez sentir menos a sua falta foi a Tatiana, Sophia. — Ela não esperava aquela resposta e tinha uma expressão de surpresa. — É a verdade.
— Você não sabe o que quer, não é? — Kaique tinha se afastado um pouco, mas prestava atenção. — Parece muito confuso em relação a nós duas.
— Às vezes eu pareço decidido, não demora muito e tudo muda dentro de mim. É muito complicado.
— É, você parecia muito decidido de madrugada. — Ela o olhou no fundo dos olhos, mas a conversa foi interrompida por Maitê que voltou do banheiro. — Oi, filha.
— Pai, eu estava querendo mesmo falar com o senhor. — Ele a olhou com uma sobrancelha erguida. — É, eu sei que essa cara aí é porque eu falei "senhor", mas é sério.
— Fala Maitê, minha cabeça não aguenta mais problemas, ajuda o papai.
— Eu só quero pedir desculpas pelo jeito que falei, não quero te estressar mais não. — Estava de braços cruzados. — Não tenho culpa de nenhum dos seus problemas, a causadora da discórdia é minha mãe.
— Maitê, isso é coisa que se diga? — A menina conseguiu arrancar uma risada do pai, às custas da mãe. — Nunca vi pedido de desculpas mais ridículo.
— Tá legal, me desculpem os dois. — Se deu por vencida. — Não vou nem falar mais nada, estou sempre errada, não é mesmo?
— Dramática toda a vida, vou ter que concordar com seu pai quando ele diz que você tem a minha personalidade. — Viu a menina dar risada, sabendo que tudo ficaria bem.
— Vamos, dona Sophia? — Kaique a chamou, desconfortavelmente. — Está passando do horário da sessão e a Tatiana vai brigar comigo amanhã.
— Você sabe se ela vem amanhã? — Sophia perguntou ao fisioterapeuta com certa esperança. — Ou se vai deixar de me atender?
— Até parece que eu ia deixar de atender a minha paciente mais teimosa. — Tatiana entrou no quarto de Sophia com um sorriso forçado, todo mundo sabia que ela não estava bem. — Posso saber por que é que não foi iniciada a sessão ainda, Sophia?
— Não esperava te ver aqui hoje. — Sorriu á amiga. — Kaique disse que você não vinha.
— É, eu mandei avisar, mas a verdade é que ficar em casa me lamentando não é bem a minha praia, muito melhor eu vir aqui e pegar no seu pé.
— Senti sua falta na sessão de mais cedo. — Sorriu á mulher. — O Kaique é bonzinho demais. — Implicou com o rapaz que logo ficou envergonhado e nada disse. — Que bom que veio.
— E o Miguel? — Micael olhou pra ex-mulher, em nenhum momento Tatiana tinha o encarado ainda. — Ficou com a sua mãe?
— É lógico que sim, agora mais do que nunca eu preciso trabalhar, não é mesmo? — Cruzou os braços e o viu bufar. — Que é?
— Eu não vou deixar nada faltar pra vocês, Tatiana.
— Sinceramente, Micael. Não estou afim de ter essa, ou qualquer outra conversa com você nesse instante. Será que eu posso fazer o meu trabalho?
— Ignorante demais. — Saiu do meio e deu passagem a ela. — Bom trabalho, Tatiana. — Disse com certo deboche e antes que saísse do quarto viu uma enfermeira se aproximar dali esbaforida. — Que isso, Cíntia?
— Dr. Borges, precisamos de você. — Disse ao recuperar o fôlego. — Uma gestante já com trinta e oito semanas deu entrada na emergência após um acidente de carro. A pediatra e a obstetra já foram enviadas ao centro cirúrgico. Já temos autorização do pai pra salvar o bebê.
— Salvar o bebê? Mas e ela? — Saiu do quarto sem dizer nada com as pessoas. Precisava correr.
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.— Ué, será que tem algum problema com alarme de emergência? — Sophia comentou após ele ter saído. — Caramba, coitada dessa mulher.
— Pior é como vai ficar o Micael se não conseguir salvá-la. — Branca comentou de onde estava, sentada em sua cadeira de acompanhante e a filha a olhou confusa. — Toda vez que chega uma vítima de um acidente como o que vocês tiveram, ele fica abatido. Ele leva tanto pro lado pessoal que quando acaba perdendo a paciente é como se perdesse você.
— Mas o quê? — A loira franziu a testa, olhando agora pra Tatiana. — É sério?
— Te surpreende? — Tati perguntou com outro sorriso forçado. — Acho que na cabeça dele se tivesse naquele centro cirúrgico cuidando de você, não tinha entrado em coma.
— Mas gente, o que isso tem a ver? Não foi incompetência do médico, foi um acaso. Eu voei pra fora do carro!
— Sophia, Micael sempre se culpou por tudo. — Branca falou e a filha voltou a atenção a ela. — Pelo acidente, pelo coma, pela Maitê não ter mãe, pelo futuro interrompido, logo depois quando encontrou a Tatiana, se culpou por estar feliz... E então tudo foi passando. A chegada do João ajudou muito.
— Sim! — Tatiana quem completou. — Existe um Micael antes e um depois do João. Mas ele nunca deixou de levar pro pessoal qualquer mulher que chega aqui acidentada igual a você. Se essa mãe morrer, ele vai ficar um trapo. — Tati tinha uma expressão triste.
— Vocês me deixaram triste, sabiam?
— Vamos parar com esse papo baixo astral e ir pra sua sessão? Que tal você ir andando até a sala de fisio?
— Ficou louca? É longe demais, no meio do caminho eu vou cair.
— Cai nada, eu e Kaique vamos te segurar. — Falou empolgada. — Eu sei que você consegue. Que tal tentarmos?
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Segunda Chance
RomanceApós um trágico acidente durante uma viagem de casal, Sophia acabou entrando em coma. Micael, seu marido passa a viver em função da esposa meses após meses, anos após anos. Deixando a pequena Maitê, filha do casal, um pouco de lado. Ele finalmente...