Capítulo 37

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Lá estava Sophia, andando pelos corredores do hospital a passos lentos e curtos, mas com um sorriso vitorioso no rosto. Tatiana estava do lado e Kaique atrás, prontos pra pegá-la em qualquer sinal de queda, mas não precisaram, a loira chegou até seu destino e se tivesse forças, daria pulinhos de alegria.

— Eu não acredito que consegui. — Estava chorando, parecia surreal. — Gente, vocês viram a distância que eu andei?

— Sim, mamãe! — Maitê a abraçou forte. — Você é tão incrível e forte, eu te amo muito!

— Eu também te amo, meu amor. Obrigada por estar sempre me dando forças pra lutar! — Apertou a menina que olhou pra cima com um sorriso. — Agora deixa a mamãe continuar com a fisio, já está atrasada demais!

Branca e Maitê ficaram um pouco afastadas observando Tatiana e Kaique estimularem Sophia. A sessão foi rápida e logo a loira voltou pro quarto, andando também, não queria mais saber de cadeira de rodas.

— Eu amei ficar aqui até tarde com você, mãe. — Maitê se despedia, já eram quase nove da noite. — Amanhã passo pra te dar um beijo antes do meu pai me levar.

— Tá bom, meu amor. Se comporte hein. — Sophia abraçou a menina e a mãe e logo se foram, ficou sozinha zapeando os canais da televisão.

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Na madrugada, perto das quatro da manhã, Sophia estava no décimo quinto sono quando Micael entrou de fininho e se sentou na cadeira de Branca.

Assistir Sophia dormir lhe trazia paz, desde que ficasse em silêncio não a incomodaria, mas ele estava tão abalado, que durante uma fungada acabou acordando a loira.

— O que faz aqui? — Sophia piscou algumas vezes pra se acostumar com a luz e então o encarou. — É meio bizarro ficar me olhando no meio da noite.

— Me desculpe. — Tentou disfarçar na vida e secar o rosto rapidamente, mas não teve sucesso.

— Está chorando? O que aconteceu? Poucas vezes na vida te vi chorar. — Sophia se sentou alarmada.

— Eu não consegui, ela está em coma. — Falou tão abalado que chocou a loira e a lembrou instantaneamente da conversa de mais cedo. — Mais uma vez eu falhei.

— Ei, do que está falando? — Ele balançou a cabeça negativamente. — É da grávida?

— Eu fiz o meu melhor, mas parece que nunca é suficiente. Terei que dar ao marido dela essa notícia e relembrar aquele dia é sempre terrível. — Passou a mão no rosto tentando secar as lágrimas. — Me desculpe por não ter conseguido ajudar você naquele dia. Por não ter visto aquele caminhão vindo atrás da gente...

— Não tinha como você ter me ajudado, Micael. Você era uma vítima também.

— Mas se eu...

— Você fez o que pôde, não é justo viver se culpando por isso. Vocês salvaram o bebê?

— Uma menina, saudável, graças a Deus. Agora vai ser um pai e uma filha sozinhos esperando aquela mulher acordar magicamente. Pelo menos até ele perceber que ela não vai acordar mais.

— Para com isso, às vezes nem acontece. Você sabe que não é comum ficar de coma tanto tempo. Mantenha a calma, cada pessoa é uma pessoa.

— Você tem razão, é que esses acontecimentos me dão gatilho e eu sempre fico assim. — Sophia colocou as pernas pra fora da cama e se inclinou, estava sentada na beirada. Colocou uma mão no rosto de Micael. — Me desculpe ter entrado no seu quarto e te acordado. É que eu não queria ficar sozinho e também não queria conversar com ninguém. Ficar aqui pareceu uma boa opção.

— Está tudo bem, eu posso dormir durante o dia, não é como se eu tivesse que trabalhar. — Sorriu á ele com a brincadeira. — Você não parece bem.

— Eu não sei bem o que fazer da minha vida, estou cansado.

— Está falando da Tatiana? Eu não sei se estou preparada pra consolar você por causa de outra mulher. — Brincou tentando descontrair o clima pesado. — Nunca na minha vida pensei que precisaria de tal coisa.

— E nem eu. — Suspirou.

— Como eu disse mais cedo, você está muito confuso Micael. Precisa de um tempo pra você, pra pensar bem. Você fica nessa de querer ficar comigo e querer ficar com ela também, acabou perdendo as duas.

— Não fiz isso!

— Não fez? Você disse que queria ficar comigo mais de uma vez e quando Tatiana chegou em casa e disse que ia embora você a chantageou pra não ir, dizendo que ia pegar o filho dela!

— Primeiro que não é filho só dela. — Tentou se defender. — E depois pedi desculpas, eu não ia realmente fazer aquilo.

— Só que não dá pra entender você, se queria ficar comigo por que é que não a deixou ir embora de uma vez? Por que a queria lá?

— É difícil, Sophia! Eu tive uma vida com ela também!

— Não estou dizendo que é fácil, estou dizendo que você tem que escolher uma das duas e pronto. Ficar nessa não vai dar certo, difícil ou não, você não pode se enrolar com duas pessoas.

— Fácil falar, agora que eu já fiz a merda e nenhuma das duas quer ficar comigo.

— Eu sei e você sabe também, que quando se decidir por uma das duas, e for atrás de quem realmente quer, vai resolver sua vida.

— Você fala isso com uma tranquilidade, na verdade, você fala como se tivesse certeza de que eu vou atrás da Tatiana.

— Porque a sua vida é com ela agora. — Tirou a mão do rosto dele. Os dois se encaravam em silêncio por alguns instantes. — Falta só você perceber isso.

— Eu sei que é egoísta dizer, mas eu realmente gosto das duas. — Sophia deu risada.

— Uma vez, quando eu era adolescente e vivia minhas primeiras crises de amor, minha mãe me disse algo que eu carrego comigo desde então: "se você estiver em dúvida entre duas pessoas, escolha a segunda, porque se amasse realmente a primeira, não haveria segunda".

— Não se aplica!

— Como é que não se aplica, Micael? — Ela cruzou os braços aguardando a resposta. — É exatamente isso o que estamos vivendo.

— Não, eu amava você de verdade, não cogitei em nenhum momento me envolver com outra pessoa. Acabou acontecendo.

— Eu sei disso, mas já que aconteceu, vamos reconhecer que agora a sua vida é com ela, você tem que me deixar ir.

— Eu não consigo! Eu ainda amo você.

— Micael, eu não vou ficar com você dividido e eu aposto que a Tatiana também não vai. Se você não refletir e decidir de uma vez por todas, vai realmente ficar sem nós duas.

— Eu sei disso. — Se recostou na cadeira e fechou os olhos. — Preciso mesmo de um tempo pra mim, você tem razão.

— Eu sempre tenho razão, meu amor. — Sorriu e recebeu um sorriso de volta. — Mas eu sinto sua falta.

— E eu? — O sorriso dos dois aumentou. — Sinto falta de tocar você. — Ergueu uma mão e fez carinho em sua bochecha. — Sinto falta de te abraçar. — A abraçou e depositou um beijo no topo de sua cabeça. — Sinto falta de ver você envergonhada quando eu vou falando baixinho no seu ouvido. — Ela corou instantaneamente.

— Tá legal, já chega. — Tentou afasta-lo.

— Sinto falta do seu beijo. — O olhar dele estava fixo em sua boca, Sophia ficou sem palavras e mediante o clima que rolou, mordeu o lábio inferior. — Será que eu posso roubar um?

— Não sei se é uma boa ideia. — Já estava perto demais, os lábios quase se tocando. E então ela deixou de resistir e jogou os braços ao redor do pescoço dele e iniciou o beijo.

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