Capítulo 32

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Micael deixou Sophia na mão dos técnicos e foi pro seu consultório. Deixou prescrito pra darem um calmante a ela assim que ela voltasse pro quarto, tinha certeza que ela precisava descansar.

O resultado dos exames chegou em tempo recorde em suas mãos e ele se pois a analisar as imagens, não vendo nada de diferente ou anormal.

— Já são as imagens da Sophia? — Jorge havia entrado na sala sem bater. — Chegaram bem rápido, encontrou algo?

— Absolutamente nada! — Mostrou os exames pro pai. — Um cérebro normal e saudável, o hemograma que eu fiz hoje mostrou a anemia recuperada, não estava ótimo, mas não causaria um desmaio.

— Sabe qual a opção que sobra, não é? — Jorge ergueu uma sobrancelha e viu o filho assentir, culpado.

— Estresse. — Respondeu. — Eu não devia ter aceitado provocação e entrado naquela discussão.

— Você não devia ter dito que era melhor quando ela estava em coma, isso sim. — Ouviu outra bufada do filho. 

— Pai, eu não sei o que fazer da minha vida, me sinto um garoto de quinze anos de novo, sem saber pra onde ir.

— Acho que já tivemos essa conversa.

— Você viu como eu magoei as duas mulheres que eu amo?

— E você vai realmente dizer pra mim que ama as duas, Micael? Quer fazer o quê? Levar as duas pra casa e viver assim? Segunda, quarta e sexta é dia da Sophia, terça, quinta e sábado da Tatiana?

— Não seria uma má ideia. — Brincou, mas nenhum dos dois riu. — Sophia sempre foi o amor da minha vida, ninguém tem dúvida disso, e eu não faço questão de esconder, mas pai, eu construí uma vida com a Tati, temos uma família juntos.

— Eu sei, só que se você resolver continuar com a Tati, não vai poder ficar brigando e implicando com a Sophia, vai ter que deixar ela viver a vida dela em paz. E principalmente parar de querer afastar a Maitê dela, as duas já perderam tempo demais, precisam se reconectar.

— Eu nem sei o que passou pela minha cabeça aquela hora, nunca quis afastar as duas, parece que eu fico cego de raiva e saio cometendo um monte de besteira.

— Parece não, é exatamente isso que acontece. — Jorge deu uma risada. — Encerra as brigas com a Sophia, ela não está recuperada ainda. E se você quer ficar com ela de novo, esse pode ser um bom jeito de conseguir.

— Eu vou perder as duas.

— Você já perdeu as duas, precisa ir atrás da que realmente quer. — Se levantou e saiu da sala do filho, o deixando pensativo.

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Sophia dormiu a tarde toda, e boa parte do início da noite, acordou de madrugada, um tanto grogue, sem nem saber onde estava.

Era quase quatro da manhã quando Micael entrou no quarto da loira e a flagrou olhando o teto, pensativa.

— Sem sono? — Tentou ser simpático e caminho pra sentar na poltrona de Branca. — Novamente achei que você dormiria até amanhã, acho que vou ter que concordar com você, não sou mais um bom médico, nem um bom marido, acrescentando á lista, não sou um bom ex marido também. Me desculpe por hoje cedo.

— Não desculpo. — Ela continuava olhando o teto. — Lembrar de você dizendo pra mim que era melhor eu não ter acordado me magoa demais.

— Não foi bem isso que eu disse. — Tentou se defender. — Ainda assim eu me arrependo de tudo que foi dito. Nada foi verdadeiro, nunca quis afastar nossa filha de você.

— Está arrependido só porque eu passei mal, senão fosse isso, estaria da mesma forma e com o mesmo pensamento. — O olhou quando ouviu um suspiro. — Não precisa ser falso comigo, eu aguento as verdades.

— Eu estava com raiva, foi só isso. Minha vida virou de pernas pro ar. Sophia, eu amo você e não sei como fazer pra esconder isso dos outros e de mim mesmo. Não consigo passar por cima, não consigo imaginar você recuperada, seguindo a sua vida com alguém.

— Você tem a sua família, Micael. Já me superou faz três anos.

— Eu amo a família que eu construí com a Tati, mas ela não é você, Soph. Lidar com a rejeição vinda de você não é algo que eu esteja acostumado.

— Mas é algo com que você vai precisar se acostumar. — Avisou sem dó. — Eu vou entrar com o pedido de divórcio, eu vou querer a minha filha e também a parte que me convém daquela casa.

— Voce não precisa entrar na justiça pra arrancar nada de mim. — Avisou triste. — Eu nunca fui um canalha egoísta, podemos resolver as coisas como dois amigos. A gente compartilha a guarda da Maitê. — Ele fungou, falar sobre aquilo era tão doloroso. — A casa eu posso vender e a gente divide a grana, sei lá. Ou você pode ficar lá e eu alugo um lugar, eu não gostaria de me livrar da casa que começamos nossa vida juntos.

— Você manchou essa história quando enfiou outra mulher lá dentro. Vou entrar e pensar nas coisas que você viveu com a Tatiana dentro daquela casa.

— Você tem raiva de mim por causa disso, não é? Não vai perdoar eu ter ficado com alguém...

— Não perdoo você ter tido um filho com outra pessoa, uma família. Acho que se só tivesse ficado, ou namorado, eu perdoaria fácil, afinal foram seis anos.

— Eu não tinha pretensão de construir nada, mas Sophia, eu estava definhando nessa poltrona junto com você. Eu só queria ficar aqui sentado falando sozinho sobre coisas que você nem ouvia. Eu queria ficar aqui acreditando que você magicamente abriria os olhos e voltaria pra mim. Todo mundo estava preocupado comigo, eu estava em coma junto com você.

— Precisava engravidar ela?

— Não foi de propósito, aconteceu e foi por isso que ela foi morar lá em casa. Mas eu não vou mentir, o João Miguel mudou a minha vida, ele deu um novo sentido a tudo.

— Ele parece com você. — Sophia comentou e observou um sorriso tímido em Micael.

— Isso me deixa feliz, já que a Maitê é inteira você, principalmente a personalidade.

— Sorte a dela. — Brincou. — Imagina só ter a sua personalidade.

— Teria sido mais fácil todos esses anos. — Brincou. — Fica comigo?

— Não dá. — O rejeitou outra vez. — Não consigo passar por cima de tudo que aconteceu, me desculpe. E fora que você está aqui pedindo pra eu ficar com você, mas ontem estava ameaçando a Tatiana. — Contou o que havia prometido a Tatiana que não diria.

— Ela te contou isso, é? — Ele rolou os olhos praquela amizade. — Achei que quando você soubesse que ela era minha mulher fosse a odiar e demitir. Nunca passou pela minha cabeça que virariam amigas.

— Se você quer ficar comigo, por que a ameaçou quando quis sair de casa? — Ignorou o comentário debochado sobre a amizade das duas.

— Pelo menos motivo que eu disse todas aquelas coisas pra você mais cedo: Eu sou um idiota. — Sophia deu uma risadinha da resposta. — Eu venho magoando a Tatiana desde que você acordou e não estava enxergando isso. Ela é incrível, gentil, determinada e eu a amo, lógico que não dá mesma forma, mas não dá pra dizer que não há amor.

— Uau, que bela resposta pra se dar pra alguém que você acabou de pedir pra reatar. — Tinha um tom sarcástico.

— Estou tentando dizer que o sentimento não se compara, Sophia. Preciso conversar com ela e esclarecer antes que saia ainda mais magoada dessa relação, mas é isso, não dá pra fingir que existe sentido em continuar com ela.

— Vai ficar sem as duas. — Cruzou os braços e disse com o mesmo tom de antes. — Sinto informar.

— Que seja então, a questão é que eu cansei de mentir pra mim e pros outros.

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