Capítulo 23

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— E eu era. — Começou a contar. — Quando ele foi atrás de uma fisio pra você, a chefe da nossa equipe me indicou. Daí ele me tirou de todos os pacientes do hospital pra atender só você. — Rolou os olhos. — Nem precisava, mas você o conhece bem, não é mesmo?

— Claro que sim.

— Então, depois de um tempo, eu passei a cuidar de você e comandar a equipe de fisio do hospital, mas aí eu engravidei e tudo foi por água abaixo.

— Ué, o que o seu filho te impediu de trabalhar?!

— Meu filho não, mas o pai do meu filho sim. — Deu uma risadinha. — Começou com um papo de que não era necessário e então quando eu vi, ele tinha feito a minha cabeça e conseguiu me afastar do hospital, aí insistiu pra eu continuar com você depois que nasceu o João. Daí eu falei que sim, mas que ia ter que pagar, porque eu não trabalho de graça.

— Mulher, como é que você deixa esse homem fazer o que quer de você? — Sophia rolou os olhos de tamanho absurdo. — Eu não vou falar nada, porque senão vão dizer que eu tô envenenando seu relacionamento porque eu sou recalcada, mas porra! Século vinte e um, toma as rédeas da tua vida. Quem decide se é necessário ou não trabalhar é você!

— Sophia, você acordou muito moderninha. — Branca ficou de pé e se aproximou da cama. — Fala a verdade pra gente, não é possível que esteja tão de boa assim, me desculpa, eu até entendo que você goste da Tatiana, mas Sophia?! — A loira encarou a mãe. — Você deu um chilique ontem, hoje você está rindo e fazendo piadas com o assunto? Quer mais o que também? Ser madrinha do Miguel?

— Não seja estraga prazeres, mãe. — Soph fez uma careta. — Estou me esforçando muito pra deixar tudo bem. — Se recostou nos travesseiros. — É só o que quero, que tudo fique bem. Pelo menos pela minha filha, se eu declarar guerra ao Micael ele nunca mais traz a Maitê aqui só de pirraça. Se eu dizer que odeio o que você fez e não quero mais te ver, eu vou ficar sozinha! Não posso dizer que odeio todos vocês, porque eu não tenho controle da minha vida ainda!

— Conta pra gente o que aconteceu de madrugada. — Tatiana pediu, antes que Branca respondesse e as duas começassem a brigar, Sophia balançou a cabeça. — Eu não vou fazer nada!

— Mas não vai gostar nem um pouco Tati, tem coisas que é melhor não saber.

— Já vi tudo, eu levei um chifre. — Ela suspirou chateada e Sophia deu risada da careta. — Você também não precisa rir de mim.

— Eu não acho que o Micael é capaz de colocar chifre em alguém. — Ela defendeu mesmo chateada. — Acho que se fosse o caso, ele terminaria com você. — Encarou a amiga, e pensou: será que podia pensar em Tatiana dessa forma? — Depois que eu acordei eu fiquei remoendo, ainda sem saber que era você, tudo o que me falaram.

— Começo a pensar que realmente não quero saber, já desisti. — Ela suspirou. — Já não estou gostando de agora.

— Só vai piorar, Tati. — Foi sincera. — Eu não pretendo mentir, se você quiser saber o que aconteceu, eu falo.

— Vai lá, conta. — Sentou na beirada da cama, perto dos pés. — É melhor saber de uma vez.

— Ele apareceu aqui na madrugada achando que eu ainda estava dormindo e então eu perguntei se além de um péssimo marido ele também tinha virado um péssimo médico que não sabia fazer cálculo pra apagar uma pessoa até a manhã. — Deu uma risadinha. — Conversamos sem brigar, ele me disse que era feliz com você.

— Ele disse isso assim na sua cara? — Tati sorriu, surpresa.

— Se anima não, rapariga. — Brincou e Tatiana fechou o sorriso, a levando á sério. — Disse sim, disse que ficou muito tempo sofrendo até te encontrar. Contou que foi minha mãe que empurrou ele pra sair com você. — Olhou pra mãe um instante. — Obrigada por isso, mamãe. — Debochou.

— Ele estava definhando junto com você, fala sério! Um homão daqueles, maior desperdício. — Branca disse nada arrependida. — E eu faria de novo, então se for andar de carro, coloca cinto.

— Enfim. — Escolheu ignorar a mãe, mas uma vez evitando conflito com a única pessoa que tinha. — Ele me contou como foi importante o seu apoio pra tirar ele da fossa que estava, como você cuidou da minha filha e da minha mãe quando ela precisou também. — Tatiana continuava a sorrir. — Disse que eu baguncei tudo quando eu fiquei em coma e fiz a mesma bagunça quando resolvi acordar.

— Cruzes, isso lá é coisa que seja diga? — Tati fez uma careta, achando absurdo.

— Pois é, enfim. Eu pedi desculpas e disse que não ia mais atrapalhar nada. Que a nossa família tinha acabado no dia do acidente e que ele devia se dedicar a nova família dele. Ou foi algo do tipo, e aí eu pedi o divórcio. — Surpreendeu Tatiana.

— Você pediu o divórcio? — Tatiana ficou de pé com olhos esbugalhados. — Fala sério, Sophia. Micael tirou a aliança do dedo e a carrega numa corrente no pescoço. Ele não tira aquela porcaria nem pra tomar banho. — Sophia enfiou a mão por dentro da roupa e puxou a aliança pra fora. — Ah, fala sério!

— É sério gente, eu pedi o divórcio, acho que vai ser bom pra gente.

— E ele? — Perguntou interessada. — Você disse que eu não ia gostar, ainda não chegou na parte que não gostei.

— É, ele disse que não queria e eu tenho certeza que ele estava pensando em terminar com você. — Contou desanimada. — Se convenceu, me deu a aliança encostou a testa na minha e disse que me amava e eu disse que o amava de volta.

— Eu não sei nem o que dizer. — Tatiana disse baixo e voltou a se sentar. — Nem o que pensar.

— Eu falei que você não ia gostar. — Sophia disse com pesar. — Mas não precisa se preocupar, eu não vou fazer nada!

— Sophia, ele não quer ficar comigo, você acha que eu sou o quê? Uma droga de prêmio de consolação? — Estava irritada. — Ah, se a Sophia quiser ficar comigo eu largo a Tatiana, mas se não quiser eu fico com a Tati mesmo e tá bom?! É assim que funciona?

— Mulher, se acalma! — Sophia pediu. — Ou vou ter que arranjar alguém pra te dopar até amanhã igual fizeram comigo. — Brincou. — Não é tão terrível assim, ele gosta de você.

— Mas ele não me ama e nunca nem chegou perto disso. — Fungou, estava a ponto de chorar de ódio. — Se tivesse, não tinha vivido esse tempo todo com a aliança no pescoço. — Antes que Sophia respondesse. — Maitê entrou no quarto animada.

— Oi, mãe! — Correu até a beira da cama. — Meu pai deixou eu ficar, disse que eu posso ir com você, tia. — Falou olhando pra Tatiana. Sophia sorriu, já sabendo que aquilo ia acontecer.

— Que ótimo, meu amor. — Tati forçou as palavras a saírem. — Onde está seu pai?

— Ele disse que ia no consultório dele pegar alguma coisa que eu não sei o que é e já ia pra casa liberar a nana.

— Tá bem. — Ela olhou pra Sophia. — Já volto gente. — Se afastou e caminhou rapidamente até o consultório, precisava conversar com o marido, aquilo não podia passar em branco.

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