Capítulo 44

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Era noite quando Sophia e Maitê estavam deitadas na pequena cama da loira, abraçadas. Já estavam prontas pra dormir, mas nenhuma das duas queria aquilo, estavam conversando e se conhecendo. 

— Filha, já falamos de muitos assuntos, mas esquecemos de um muito importante. — A menina a olhou interessada. — Seu aniversário está tão perto, precisa me dizer o que quer fazer e o que quer ganhar de presente, eu te conheço tão pouco ainda, não vou saber escolher. 

— Queria passar o dia num parque de diversões. — Ela disse empolgada como se já tivesse planejando há tempo o que fazer no dia. — Com você, meu pai e o Miguel. Mas você e meu pai não param de brigar um minuto, não tem como. 

— Ah, não fala assim. — Sophia fazia carinho no cabelo da menina. — É complicado, mas eu tenho certeza que por você eu consigo fazer um esforço pra ficar bem com seu pai. 

— E não vai ficar chateada se o meu irmão for também? — Sophia franziu a testa, sem entender bem o teor da pergunta. — É que eu ouvi você e a Tati brigando mais cedo e você estava reclamando do meu irmão. — Sophia foi pega desprevenida, acreditava que a menina estava trancada no quarto vendo o filme e não tinha ouvido nada. — É que vocês estavam falando um pouco alto. 

— Claro que seu irmão pode ir com a gente. — Escolhia cada palavra, mas a realidade é que não sabia o que dizer. — Eu estava irritada quando disse aquelas coisas pra Tatiana, não precisa levar a sério. 

— Tem certeza? Pareceu bem real. Nunca te vi brigando com a Tati. 

— Não briguei com ela, apenas contei a ela como estava me sentindo, mas você não precisa se preocupar com isso, tá? Eu vou conversar com seu pai e vamos marcar uma ida ao parque, pra você se divertir com seu irmão. Vou até falar amanhã logo, pra ele se virar e conseguir trocar plantão. 

— Eu te amo, mãe. — A apertou em um abraço ainda mais apertado. — Obrigada por ter voltado pra gente. 

— Eu também te amo, meu amor. — Depositou um beijo em sua cabeça e então sorriu. 

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E três semanas depois Sophia já estava ótima, parecia milagre, mas a verdade e que era resultado de muito esforço e terapia. Havia comprado um notebook, estava estudando pra se atualizar e voltar a trabalhar. 

Maitê já estava matriculada na escola e parecia animada com os novos amigos. Passava os finais de semana com Micael que havia conseguido conversar com o pai para pegar folga nesses dias. 

— Vamos, filha! — Sophia gritou da sala. Era aniversário de Maitê, a menina completava dez anos e como ela havia pedido, passariam o dia no parque.  Só não sabia que Tatiana ficaria na casa de Micael pra organizar uma festinha, mesmo ela dizendo que não precisava. 

— Por que meu pai não vem buscar a gente? — A menina apareceu, vestindo uma jardineira e regata. — Vamos ter que ir até lá? 

— Porque é mais perto de lá e a Tati vai levar o Miguel, daí é mais rápido. — Desconversou. — Vamos logo o carro que eu chamei já chegou! Tchau, mãe! — Sophia gritou e Branca apareceu para lhes dar um beijo. 

O caminho até a casa de Micael foi inteiro de conversa sobre o parque e em quais brinquedos a menina iria primeiro. Sophia estava animada de ver a felicidade da filha.  

Quando chegaram, Micael estava no portão aguardando as duas como se soubesse que estavam perto. Maitê correu pra abraçar o pai assim que saiu do carro e Sophia pagou o motorista enquanto o reencontro acontecia.

— Adivinhou que estávamos chegando? — A loira disse ao se aproximar dos dois que ainda estavam abraçados. Micael a olhou de cima abaixo se reparando bem nos detalhes.

— Você mandou mensagem avisando a hora que saiu, deu pra calcular bem a hora que estariam chegando. — Respondeu com um sorriso. — Tudo bem?

— Tudo ótimo. — Ela respondeu com um sorriso, e olhou por detrás dele, pra casa.

— Que isso tá com saudade da casa? — Ele brincou ao ver pra onde ela olhava. — Quer abraçar as paredes? Ou as árvores do quintal?

— Deixa de ser idiota, é só que parece que faz uma eternidade que eu não venho aqui. Me sinto estranha. — Enfim o olhou novamente. — Vamos? Cadê o Miguel?

— Tatiana não chegou aqui ainda, ela disse que o Miguel se sujou todo na hora de sair e ela teve que dar outro banho nele, então, você quer entrar e esperar ou vai se sentir estranha?

— Vou me sentir terrivelmente estranha, mas em pé no meio da rua não é uma opção pra mim. — Apontou pro portão. — Vamos logo.

— Vocês se lembram do meu presente, não é? — Maitê chamou atenção pra ela e os dois disseram em uníssono.

— Não brigar. — A garota deu risada e entrou na frente. Sendo seguida por Sophia e Micael por último, que ficou pra fechar o portão.

— Uau, isso aqui tá muito diferente do que me lembro! — Sophia disse ao chegar na sala e passar o olho pelo cômodo. — Muito diferente!

— É, a Tatiana foi mudando tudo. — Ele deu de ombros. A loira foi entrando pela sala e olhando com atenção, tentando resgatar lembranças de seu tempo ali, mas tudo estava tão diferente. Parou diante de um dos porta retratos que haviam no rack.

— Eu amo essa foto. — Pegou e fez carinho se lembrando do momento em que tiraram. — Foi um dia tão especial! — Era a foto na maternidade, do dia em que a filha havia nascido. Maitê pequenina no colo de Micael enquanto os dois sorriam abertamente. — Que bom que ela ainda está aqui.

— Mas é lógico que eu não ia tirar. — Disse rindo ainda observando a emoção de Sophia a cada lembrança que tinha.

— É? Só adicionar, né? Cadê a foto na maternidade com a Tatiana? — Se virou pra trás com um humor ácido e o viu virar os olhos.

— Gente? — Maitê chamou atenção e Sophia colocou a foto de volta no lugar e ergueu as mãos. — Obrigada! Mãe, você gosta de ver fotos? A gente tem muitas fotos aqui desses anos todos, você vai amar!

— Boa ideia, Maitê, e sabe o que mais ela vai amar? — As duas olharam pra ele com interesse. — Lembra daquela caixa? — Não precisou falar mais nada, a menina abriu um sorriso e saiu correndo escada acima. — Calma que você vai se machucar. — Ele gritou, mas a menina já tinha até sumido.

— O que ela foi buscar? — Sophia perguntou curiosa.

— Você vai gostar, aguenta aí curiosa. — Disse com um sorriso. — Eu não sei como é que ela esqueceu dessa caixa, achei que levaria pra você no primeiro dia!

— Você está me deixando ainda mais curiosa. — Ele apontou pro sofá e a viu se sentar, em seguida sentou também. — Fala logo!

— Eu não vou estragar a surpresa da menina! — Deu risada da careta e então ouviram ela voltando, com uma caixa média nas mãos, toda enfeitada. — Olha aí, você foi bem rápido hein.

— Aqui, mãe, isso é pra você. — Esticou e Sophia sorriu ao ver a caixa que parecia de sapato, encapada com papel rosa e com alguns desenhos em cima. Desenhos que pareciam ter sido feito pela pequena Maitê de três anos. — Abre! Tem anos que eu espero pra saber se você vai gostar. — A loira respirou fundo e abriu, seus olhos marejaram na hora em que viu o conteúdo.

— Eu não acredito! — A caixa estava repleta de desenhos, fotos, o que pareciam ser lembranças de dias das mães. — Que lindeza é essa, Maitê?

— São umas coisas que eu guardei pra te dar ao longo dos anos. — Contou empolgada. — A maioria delas é de dia das mães na escola, alguns desenhos idiotas que eu fazia quando era pequena, mas meu pai disse pra deixar aí que você ia gostar de ver. — Ela então olhou a mãe chorando. — É tão horrível assim que você odiou?

— Não! Eu amei! — Se apressou a dizer após fungar. — Eu amei muito!

— Foi ideia do meu pai. — Maitê contou e deu uma piscadinha pro pai.

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