---
As luzes do ginásio refletiam no chão polido, criando um ambiente de brilho e tensão. Cada dia de treino para as Olimpíadas trazia uma mistura de excitação e pressão. Eu havia sido convocada como central para a seleção brasileira de vôlei feminino, um sonho que finalmente se realizava, mas o que deveria ser motivo de celebração também trazia seus desafios.
Desde que entrei na seleção, sempre admirei Ana Carolina, ou Carolana, como era conhecida. Sua presença em quadra era dominadora, sua técnica impecável, e seus bloqueios, quase intransponíveis. Eu queria aprender tudo que pudesse com ela, na esperança de melhorar minhas habilidades e ajudar nossa equipe a alcançar a medalha de ouro.
Mas a realidade mostrou-se bem diferente do que eu imaginei. Carol parecia notar meu esforço, mas interpretava-o de forma completamente equivocada. Ela acreditava que meu objetivo era substituir sua posição como a melhor bloqueadora da equipe, e isso criou uma barreira entre nós.
No início, tentei ignorar suas palavras duras e sua atitude fria. Pensei que, eventualmente, provaria minha lealdade e respeito por ela e que tudo ficaria bem. Porém, as semanas passavam, e a animosidade de Carolina só aumentava. Não importava o quanto eu me esforçasse, ela sempre encontrava uma maneira de me criticar.
Essas interações começaram a afetar meu desempenho. Durante os treinos, eu me sentia constantemente observada e julgada por Carol. Meu bloqueio não era mais certeiro, meus ataques perdiam força e precisão, e minha confiança estava despedaçando. Os outros membros da equipe percebiam minha luta e tentavam me animar, mas não sabiam a verdadeira razão do meu desânimo.
Só meus amigos mais próximos sabiam da verdade por trás do meu olhar triste. A paixão secreta que eu nutria por Carolina tornou tudo ainda mais complicado. Sentia-me ridícula por ter esses sentimentos por alguém que parecia me desprezar tanto. Mas, por mais que eu tentasse, não conseguia apagar o que sentia.
Numa tarde particularmente difícil, após mais um treino frustrante, sentei-me no vestiário, tentando segurar as lágrimas. Minha amiga Júlia, que jogava como ponteira da equipe, aproximou-se e sentou ao meu lado.
"Você não pode deixar isso te abater, S/N," ela disse suavemente. "Você é uma jogadora incrível. Não pode deixar Carol tirar isso de você."
Suspirei, esfregando os olhos para afastar as lágrimas. "É difícil, Júlia. Ela sempre está me criticando. Não consigo fazer nada certo. E... esse sentimento só piora tudo."
Júlia deu um leve sorriso solidário. "Você precisa falar com ela. Dizer como se sente. Talvez isso possa resolver as coisas."
Assenti, mas a ideia de confrontar Carolana me deixava nervosa. Mesmo assim, sabia que precisava fazer algo. Não podia continuar assim.
Na manhã seguinte, decidi que era hora de enfrentar meus medos. Após o treino, esperei que a quadra esvaziasse e me aproximei de Carolana, que estava arrumando seus equipamentos. Meu coração batia forte e minhas mãos tremiam.
"Carol, podemos conversar?" perguntei, tentando manter minha voz firme.
Ela olhou para mim com uma expressão neutra, mas que logo se transformou em desconfiança. "Sobre o quê?"
Respirei fundo. "Sobre o que está acontecendo entre nós. Preciso esclarecer algumas coisas."
Ela cruzou os braços, claramente esperando minha explicação.
"Eu nunca quis tomar o seu lugar," comecei, as palavras saindo rápidas demais. "Sempre te admirei como jogadora e queria aprender contigo. Mas essa... hostilidade está me afetando, e não é só no treino."