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Eu e Bruna estávamos mais eufóricas do que nunca. A ideia de ir assistir ao amistoso da seleção feminina de vôlei havia sido uma loucura de bêbadas, mas, de alguma forma, parecia a decisão mais sensata do mundo no momento. Eu tinha usado o dinheiro da mensalidade da faculdade de direito para comprar os ingressos, e Bruna, na mesma situação financeira precária, acompanhava a insanidade. Morávamos juntas, trabalhávamos juntas em um restaurante vegano, e, agora, estávamos lado a lado na arquibancada, na beira da quadra, cercadas de gente gritando tanto quanto nós.
— S/N, sério, olha isso! — Bruna me cutucou com força, apontando para a quadra. — É a Gabi! Cara, eu vou desmaiar! Ela é mais linda ainda ao vivo!
Eu ri, já meio tonta pela bebida, mas os olhos focados em outra direção. Carolana. Ali, em toda a sua glória, gigante e imponente na quadra. Era surreal vê-la tão de perto. Meu coração disparava toda vez que ela corria para sacar ou pular para um bloqueio. Eu era completamente apaixonada pelo estilo dela, pela intensidade com que jogava.
— Bruna, cê tá vendo a Carol? Ela é perfeita! — eu quase gritei, me levantando para tentar chamar a atenção dela. — Carol! Carolana! Aqui!
Bruna gargalhou ao meu lado, também de pé.
— S/N, você acha que ela vai te notar? — ela riu, segurando o estômago. — A mulher tá concentrada, amiga! Mas, sinceramente, se você conseguir chamar a atenção dela, eu vou ser sua serva pro resto da vida.
— Desafio aceito! — eu respondi, desafiadora, mas mal conseguia segurar a gargalhada.
Carol se posicionou para sacar, e eu aproveitei o momento para tentar chamar sua atenção de novo, pulando e gritando.
— CAROL! AQUI! TE AMO! — eu berrava, agitando os braços como uma louca. Algumas pessoas ao nosso redor começaram a rir da nossa animação exagerada, mas eu não ligava. Eu queria que ela notasse.
— S/N, cê tá passando vergonha! — Bruna ria mais ainda, me puxando de volta para o lugar.
— Não tô! Ela vai me notar, confia! — retruquei, convencida. — É só uma questão de tempo.
— Ah, tá bom, e eu vou casar com a Gabi, né? — Bruna disse, levantando o copo em direção à quadra, claramente já entregue à zoeira.
Durante uma pausa no jogo, Carol foi para perto da área técnica, onde a comissão e algumas jogadoras reservas estavam. E foi então que, por uma fração de segundo, nossos olhares se cruzaram. Meu coração parou. Ela tinha me visto. Eu sabia que tinha.
— Bruna! Bruna! Ela olhou! Ela OLHOU! — eu agarrei o braço de Bruna, balançando ela com tanta força que quase derrubei o copo de bebida dela.
— Cê jura? Onde? Quando? — Bruna parecia duvidar, mas seus olhos estavam arregalados de excitação.
— Agora! Ela olhou aqui, nessa direção! Eu disse que ia conseguir! — meu sorriso era tão largo que doía minhas bochechas.
Bruna fez uma careta exagerada, debochada, mas no fundo eu sabia que ela estava tão empolgada quanto eu. E a verdade é que, naquele momento, nada mais importava. Nem a mensalidade da faculdade que eu não sabia como iria pagar, nem os problemas no restaurante. Tudo que importava era que eu, S/N Gomes, tinha conseguido, ainda que por um breve instante, a atenção da mulher que eu mais admirava no vôlei.