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Me S/N Castro, minha rotina como fisioterapeuta da seleção feminina de vôlei sempre foi intensa, mas eu amava o que fazia. Cuidar das jogadoras, garantir que estivessem em sua melhor forma, e trabalhar ao lado de Sheilla, minha esposa, era um privilégio. Nossa vida sempre foi harmoniosa, ou pelo menos era o que eu pensava.
Sheilla, uma lenda do vôlei brasileiro, sempre foi meu porto seguro, e nosso relacionamento, para mim, era o exemplo de parceria e amor. Mas, nos últimos meses, as coisas começaram a mudar. Pequenos detalhes, como o tom de voz dela ou a maneira como ela me olhava, começaram a parecer diferentes. Ela estava fria, distante, como se estivesse escondendo algo. Eu tentei não me preocupar, dizendo a mim mesma que era apenas o estresse do trabalho, mas no fundo eu sabia que havia algo mais.
Certa noite, depois de um dia longo e cansativo, fiquei no ginásio até mais tarde, ajudando o Fernandinho a organizar os planos de fisioterapia para o dia seguinte. "Obrigada pela ajuda, S/N," ele disse, enquanto revisávamos os cronogramas.
"Não precisa agradecer, Fernandinho. Estamos todos no mesmo barco, não é?", respondi, tentando manter a concentração no trabalho, mas minha mente ainda estava com Sheilla.
Depois de terminarmos, peguei meus papéis e fui até a sala de fisioterapia. Quando abri a porta, meu coração quase parou. Lá estavam Sheilla e Gabriela, a capitã da seleção, tão próximas que parecia que compartilhavam um segredo. Elas não me viram, e eu me retirei antes que notassem minha presença.
Voltei para casa em um turbilhão de emoções. A TV estava ligada na sala, mas eu não conseguia prestar atenção em nada do que passava. A imagem de Sheilla e Gabriela juntas me perseguia. Meu coração estava apertado, e eu tentava entender o que faria a partir dali. Eu não queria confrontá-la sem ter certeza, e, mais ainda, não queria que ela me contasse algo que eu temia ouvir.
Quando Sheilla chegou em casa, agiu como se nada tivesse acontecido. "Oi, amor. Como foi seu dia?" Ela me beijou no rosto, com aquele sorriso de sempre, mas eu sabia que algo estava diferente.
"Foi cansativo," respondi, forçando um sorriso. "E o seu?"
"Normal. Corrido, como sempre," disse ela, tirando os sapatos e indo para o quarto sem dar muita atenção.
Meu coração se partiu. Como ela podia agir com tanta normalidade depois do que eu vi? Não consegui suportar a ideia de deitar ao lado dela naquela noite. Esperei ela ir para o quarto, e, assim que a ouvi fechar a porta, tomei minha decisão. Fui para o quarto de hóspedes, onde tomei um banho quente, tentando lavar a dor que sentia.
O choro veio sem que eu pudesse controlar. Eu me sentia insuficiente, como se não fosse o bastante para ela. As lágrimas rolavam pelo meu rosto enquanto eu me encolhia na cama, tentando, em vão, encontrar uma explicação para o que estava acontecendo.
“Por que, Sheilla? Por que eu não sou o suficiente?”, murmurei para mim mesma, perdida na tristeza. A exaustão física e emocional finalmente me venceu, e adormeci, ainda envolta naquele sentimento de dor e traição.
Acordei com o som do despertador, o barulho que normalmente me trazia um sentimento de rotina tranquila, mas naquela manhã, só trouxe uma onda de tristeza e ansiedade. Eu me levantei lentamente, ainda sentindo o peso do que descobri na noite anterior. Mas hoje, eu precisava agir normalmente, ou pelo menos tentar.
Desci para a cozinha e percebi que Sheilla ainda não havia acordado. Sempre fui eu quem a acordava, com beijos e carinhos, mas hoje seria diferente. Peguei a chaleira, aqueci a água e comecei a preparar meu café, tentando não pensar demais no que estava por vir.