---
Alguns meses depois, S/N começou a frequentar as sessões de terapia, e lentamente as nuvens de seus traumas começaram a se dissipar. A terapeuta a ajudou a encarar as feridas do passado, e, ao lado de Carol, ela sentia uma nova força crescendo dentro de si. O processo foi difícil, exigindo confrontos internos que ela evitara por tanto tempo, mas S/N começou a perceber que estava se reestruturando, uma peça de cada vez.
Com o tempo, ela sentiu que estava emocionalmente mais estabilizada. A terapia lhe deu ferramentas para lidar com suas inseguranças e seu trauma, mas também trouxe à tona uma nova necessidade: a de se reconectar consigo mesma e com sua própria história. Foi quando a ideia de uma viagem sozinha ao Brasil surgiu em sua mente. Ela sentia que precisava de um tempo para se reencontrar, longe de tudo o que havia acontecido, longe das pressões e das expectativas.
Uma noite, enquanto estavam em casa, S/N virou-se para Carol, seu coração apertado pelo que estava prestes a dizer.
— Carol… eu tenho pensado muito sobre tudo isso. Eu me sinto mais forte agora, mas também sinto que preciso de um tempo para mim mesma. Preciso ir ao Brasil, ver minha família e amigos, me reconectar com as minhas raízes.
Carol, que estava deitada ao lado de S/N, sentiu o coração acelerar. Ela sabia que algo mais estava por vir, algo que a deixaria em pedaços.
— Eu entendo, S/N. Acho que isso vai te fazer bem — Carol respondeu, tentando esconder o nó na garganta. — Mas... tem algo mais, não é?
S/N hesitou, seu olhar se fixando no de Carol. Ela sabia que o que estava prestes a dizer poderia machucar profundamente, mas sentia que precisava ser honesta consigo mesma e com Carol.
— Eu acho que… enquanto estiver no Brasil, preciso de um tempo do nosso relacionamento também — disse S/N, sua voz baixa, mas firme. — Não é porque eu não te amo. Pelo contrário, Carol, eu te amo muito. Mas eu sinto que preciso de um espaço para respirar, para entender quem eu sou sem depender de outra pessoa.
O silêncio que se seguiu foi quase ensurdecedor. Carol sentiu o mundo ao seu redor desmoronar, seu peito apertado de dor. Ela sempre soube, no fundo, que esse momento poderia chegar. Desde o início, quando S/N começou a se recuperar, Carol temia que a ferida do passado — aquele peso emocional que S/N carregava — viesse cobrar seu preço. Uma parte de Carol sempre soube que essa “vingança” silenciosa viria, não por maldade, mas como uma consequência inevitável da dor que S/N havia carregado por tanto tempo.
— Eu... eu entendo — respondeu Carol, a voz embargada, mas tentando manter a compostura. — Se isso é o que você precisa, eu não vou te impedir. Só quero que você saiba que estou aqui, independentemente do que acontecer.
S/N viu a tristeza nos olhos de Carol, e isso a dilacerou por dentro. Ela sabia que estava machucando a mulher que amava, mas sentia que essa viagem, esse distanciamento, era algo necessário para seu próprio crescimento. Era uma busca por sua identidade, algo que ela tinha perdido em meio ao caos dos últimos meses.
— Eu não sei quanto tempo vai durar — disse S/N, tentando manter sua voz estável. — Mas eu prometo que, seja qual for o resultado, eu serei honesta com você. Eu preciso desse tempo para mim, Carol. E espero que, de alguma forma, você possa entender.
Carol assentiu, mas por dentro seu coração se partia. Ela segurou a mão de S/N com força, como se estivesse tentando gravar o toque dela na memória, caso não tivessem mais esses momentos no futuro.
— Eu só quero que você fique bem, S/N. Se isso é o que você precisa, então vá. Eu sempre vou te amar, não importa o que aconteça — disse Carol, com lágrimas nos olhos.
