Flávia Saraiva

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Minha cabeça estava a mil enquanto olhava pela janela do hospital, tentando organizar meus pensamentos. O telefone no bolso vibrava, me tirando do transe, e eu sabia que era ela. Suspirei antes de atender, já prevendo como seria difícil essa conversa.

"Oi, meu amor," disse, tentando soar alegre, mas a exaustão era evidente na minha voz. "Consegui um tempinho agora, como você está?"

"Estou bem," respondeu Flávia, mas o tom dela era distante, quase frio. Aquilo me apertou o peito. Sabia que ela não estava bem, e o pior é que eu entendia o porquê.

"Amor, eu sei que prometi estar aí com você nas Olimpíadas, mas..." comecei a explicar, escolhendo as palavras com cuidado. "A situação aqui no hospital está crítica. Essa nova virose está atingindo muitas crianças, e... eu simplesmente não posso sair agora."

Ela ficou em silêncio por um momento. "Eu entendo," respondeu, mas a frustração e a decepção estavam claras na voz dela. "Você sempre faz o que precisa, né?"

"Não é isso, Flá," tentei me justificar, sentindo o peso das minhas responsabilidades como médica e esposa se chocando. "Eu queria tanto estar aí, mas... essas crianças precisam de mim. Ser a doutora S/N Saraiva, infelizmente, me prende aqui. Mas eu estou torcendo por você, daqui, com todo meu coração."

Ela respirou fundo, e eu quase podia ver a expressão no rosto dela do outro lado da linha. "Eu sei," ela disse suavemente. "Eu só queria que você estivesse aqui, sabe? Esse é um dos momentos mais importantes da minha carreira, e... você não está."

"Eu também queria, amor. Mais do que tudo. Mas prometo que vou tentar acompanhar tudo daqui. Vou ligar sempre que puder, te dar força, torcer por você... eu estou com você, mesmo que de longe."

O silêncio dela era ensurdecedor, e eu sabia que minhas palavras não estavam aliviando a dor que ela sentia. Eu estava falhando com a pessoa que mais amo.

"Eu te amo, Flávia," disse, esperando que, de alguma forma, essas palavras pudessem consertar o que estava quebrado.

"Também," ela respondeu secamente, antes de desligar.

Assim que desliguei o telefone, senti uma onda de enjoo. Tudo ao meu redor parecia girar. Meu estômago se revirou, e antes que eu pudesse processar o que estava acontecendo, corri para o banheiro da minha sala, colocando para fora todo o meu almoço.

Apoiei-me na pia, respirando fundo e tentando me acalmar. Eu não me sentia doente. Pelo contrário, havia uma sensação estranha, diferente. Limpei a boca, me encarando no espelho. E então, a ficha caiu.

"Será que...?", murmurei para mim mesma, sentindo meu coração acelerar.

Eu havia feito uma inseminação artificial há algumas semanas, planejando surpreender a Flávia com a notícia quando voltássemos a nos ver. Nunca imaginei que poderia acontecer tão rápido. Com as mãos trêmulas, saí do banheiro e peguei meu celular, ligando para Luísa, uma das enfermeiras e minha amiga de confiança.

"Lu, você pode vir até minha sala, por favor?" perguntei, tentando manter a calma na voz.

"Claro, já estou indo," ela respondeu prontamente.

Alguns minutos depois, Luísa entrou na sala, percebendo minha tensão imediatamente. "S/N, o que houve? Você está pálida."

"Eu... preciso que você faça um teste de gravidez pra mim," falei, quase num sussurro. "Acho que pode ter dado certo."

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