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Essa história está se repetindo novamente. Já é a quarta vez que Rosamaria aparece bêbada na minha casa desde que terminamos, há cinco meses. Não consigo entender por que ela faz isso. Aliás, não consigo entender nem por que ela terminou comigo. Eu ainda a amo, é óbvio. E, por mais que eu saiba que tudo isso me machuca, sempre acabo cuidando dela. Sinto que sou uma completa trouxa por não conseguir dizer “não”.
Hoje não foi diferente. Passava da meia-noite quando ouvi a campainha tocar. Já sabia que era ela. Suspirei, tentando me preparar para o que vinha a seguir, e fui atender a porta.
— Oi... — Rosamaria disse, com os olhos meio fechados e o cheiro forte de álcool.
Ela se escorava na porta, mal conseguindo ficar em pé. Eu a observei por um instante, tentando manter a raiva que crescia dentro de mim sob controle.
— Oi, Rosa — respondi, segurando-a pelo braço para ajudá-la a entrar. — Vamos, entra logo.
Ela tropeçou ao entrar, e eu a segurei com mais força. Quando a sentei no sofá, Rosamaria começou a murmurar coisas que eu não conseguia entender.
— Você... sempre foi tão boa pra mim, sabia? — Ela disse, a voz embargada e as palavras saindo arrastadas. — Eu não mereço você...
— Rosa, você sempre diz isso — falei, tentando não deixar a frustração transparecer. — E, no dia seguinte, você vai embora como se nada tivesse acontecido. Como se eu não fosse ninguém.
Ela balançou a cabeça, os olhos cheios de lágrimas.
— Eu... eu não queria que fosse assim, sabe? Mas eu não consigo... — Ela parou, como se tentasse encontrar as palavras certas. — Não consigo ficar longe de você, e ao mesmo tempo... não consigo ficar com você.
Essas palavras foram como uma faca no meu peito. Era sempre assim. Ela vinha, dizia coisas que me faziam ter esperança e, no final, ia embora sem me dar explicações, sem me deixar entender o porquê de tudo isso.
— Então, por que você terminou comigo? — perguntei, sabendo que provavelmente não teria uma resposta clara, mas mesmo assim, a esperança teimava em me fazer perguntar.
Ela me olhou, mas seus olhos estavam distantes, perdidos em algo que eu não conseguia alcançar.
— Eu... — Ela começou, mas logo desviou o olhar. — Eu não sei. Eu só... precisava.
O silêncio se instalou entre nós, pesado e cheio de tudo o que nunca foi dito. Eu me sentia perdida, sem saber como lidar com a bagunça que ela deixava na minha vida cada vez que fazia isso.
— Vem, Rosa, você precisa dormir — falei, cansada, ajudando-a a se levantar.
Ela me seguiu até o quarto, se apoiando em mim. Depois de ajudá-la a se deitar, fiquei ali, olhando para ela. Era a mesma Rosamaria de sempre, a mesma pela qual eu me apaixonei. E, no entanto, ela era tão diferente agora, tão distante.
— Obrigada... — Ela murmurou, já quase dormindo. — Você é a melhor pessoa que eu já conheci...
Essas palavras não traziam o conforto que deveriam. Eu sabia que, ao amanhecer, ela iria embora de novo, sem olhar para trás. E eu, como sempre, ficaria aqui, sozinha, tentando juntar os pedaços do meu coração.
— Boa noite, Rosa — sussurrei, sabendo que ela já estava dormindo e que não ouviria. — Eu te amo, mesmo que você nunca consiga entender isso.