Julia Bergmann

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Ser pintora foi a melhor decisão que eu poderia ter tomado. Desde pequena, eu sempre me vi fascinada pelas cores, pelas formas, pela maneira como uma simples pincelada pode capturar um momento, uma emoção. Mas, infelizmente, ainda estou na faculdade, então meu tempo para me dedicar à pintura é limitado. Mesmo assim, sempre encontro algum momento para fazer minhas pinturas aleatórias, aquelas que surgem sem planejamento, apenas pela necessidade de expressar o que sinto ou vejo. Tenho 20 anos e, embora seja bastante tímida, adoro observar tudo ao meu redor. Há algo de mágico em simplesmente parar e absorver o mundo, os detalhes que muitos deixam passar despercebidos.

Hoje, por exemplo, eu estava sentada na praça, encostada em uma árvore, aproveitando o som suave das folhas ao vento. Meu caderno de esboços sempre me acompanha, é como uma extensão de mim. Enquanto observava o movimento ao redor, algo chamou minha atenção: uma moça, sentada em um banco, completamente imersa na leitura de um livro. Ela era linda. Seus cabelos ruivos, que brilhavam sob a luz suave do sol, e seus olhos azuis, que pareciam conter todo um mundo dentro deles, me fizeram pensar que ela poderia ser alemã, ou quem sabe de algum outro país nórdico.

Sem pensar muito, peguei meu caderno e apontei o lápis. O traço inicial foi leve, quase imperceptível, como se eu tivesse medo de capturar aquele momento e ele se desvanecer. Mas, à medida que o esboço tomava forma, eu me sentia mais conectada àquela cena. Havia algo de especial nela, algo que eu precisava eternizar no papel. Seu rosto, sereno e concentrado, parecia refletir uma calma que eu desejava capturar. Cada linha que eu traçava era uma tentativa de entender mais sobre ela, de imaginar o que ela poderia estar pensando, o que a havia levado àquela praça, naquele exato momento.

Eu desenhei sem pressa, deixando que o lápis seguisse seu próprio caminho, guiado pela inspiração do momento. E, enquanto o esboço ganhava vida, eu me perdi naquele processo, quase esquecendo do mundo ao meu redor. Havia algo de íntimo e ao mesmo tempo distante em desenhar alguém que eu não conhecia, mas que, de alguma forma, já fazia parte de mim.

Quando terminei, olhei para o desenho e, por um momento, senti uma mistura de satisfação e inquietação. Eu a havia capturado, mas será que a havia entendido? Será que, em algum nível, ela sabia que havia sido observada, que agora estava imortalizada em meu caderno? Não sei. Mas o que sei é que, naquele instante, eu me senti conectada a ela, a uma estranha que talvez nunca conheça, mas que, por alguns minutos, foi o centro do meu universo.

Eu fiquei olhando para o esboço por alguns minutos, ainda absorvendo cada detalhe que consegui captar. Havia uma suavidade em seu rosto, uma serenidade que eu raramente via nas pessoas ao meu redor. Fiquei curiosa sobre o que ela estava lendo, sobre o que poderia estar passando em sua mente enquanto mergulhava nas páginas daquele livro.

A luz do sol começou a mudar, e as sombras na praça ficaram mais longas. Olhei para o céu e percebi que o tempo havia passado sem que eu me desse conta. Meus dedos estavam um pouco sujos de grafite, e ao perceber isso, dei um sorriso tímido. Sempre me perco nesses momentos, como se o tempo parasse e o mundo ficasse em segundo plano.

Voltei a olhar para a moça no banco, ainda imersa em seu livro. Ela estava tão concentrada que parecia não perceber o mundo ao seu redor. Isso me fez sentir uma certa cumplicidade com ela. Eu a desenhei sem que ela soubesse, enquanto ela, talvez, estava viajando em outra realidade, nas páginas daquele livro.

Eu queria me aproximar, talvez perguntar o que ela estava lendo, ou até mostrar o esboço que fiz dela. Mas a timidez logo me travou, como sempre acontece. As palavras se embaralharam na minha mente, e eu imaginei todos os cenários possíveis: ela poderia se sentir lisonjeada, ou poderia achar estranho alguém desenhá-la sem permissão. E se ela fosse apenas uma turista de passagem? Alguém que eu nunca mais veria, cujo rosto ficaria apenas na memória e no papel?

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