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Eu estava sentada no sofá da sala, a luz do abajur criando sombras suaves no ambiente, enquanto meu olhar ia e voltava para o relógio na parede. Já eram duas da manhã, e Gabi ainda não tinha chegado. Meu coração estava apertado, e embora eu tentasse manter a calma, o incômodo era inegável. Há dias eu sabia que algo estava errado. A ex dela tinha reaparecido, sempre com aquele discurso de que só queria ser amiga, mas eu sabia que Gabi estava confusa, e isso me matava aos poucos.
Deslizei o dedo pelo celular mais uma vez, vendo a foto no Instagram da ex de Gabi, com as duas juntas, rindo, como se fosse um reencontro inocente. Respirei fundo. Brigar não iria adiantar nada, eu sabia disso. Só queria que Gabi chegasse bem para que eu pudesse, pelo menos, dormir em paz.
Ouvi o barulho da chave girando na porta. Gabi entrou, e nossos olhares se encontraram brevemente. Ela parecia cansada, mas estava bem, como eu esperava.
— Você tá bem? — perguntei, quebrando o silêncio de forma simples, sem confrontação.
Ela hesitou, parando por um momento para me encarar, como se tentasse ler meus pensamentos antes de responder.
— Tô... tô bem, sim — ela respondeu, a voz baixa, quase culpada.
Assenti, me levantando do sofá com calma.
— Que bom — murmurei, sem mais palavras, e me virei para o quarto.
Eu podia sentir o peso do olhar de Gabi em minhas costas, mas segui em silêncio. Não queria discutir, só queria o conforto do meu travesseiro. Entrei no quarto, me deitei e puxei o cobertor, tentando me convencer de que aquilo não deveria me atingir como estava atingindo.
Alguns minutos depois, ouvi a porta do quarto abrir e Gabi se aproximar da cama. Ela se sentou ao meu lado, e a tensão no ar parecia palpável.
— Você não vai dizer nada? — ela perguntou, a voz dela soando frágil, como se esperasse uma explosão que não viria.
— O que você quer que eu diga, Gabi? — minha voz saiu mais calma do que eu esperava. — Já tá tarde, e eu só quero dormir. Você tá bem, e isso é o que importa agora.
Ela ficou em silêncio por alguns segundos, como se estivesse processando minhas palavras.
— Eu... Eu sei que as coisas estão complicadas — começou ela, com um suspiro profundo. — Mas eu juro que não aconteceu nada. Ela só quer ser amiga, e eu... eu estou tentando lidar com isso da melhor forma.
Virei meu rosto, encarando o teto.
— Eu confio em você, Gabi — falei, e era verdade. — Mas eu preciso que você decida o que realmente quer. Não é sobre ela, é sobre nós.
Ela abaixou a cabeça, claramente incomodada com a situação.
— Eu odeio te deixar assim, eu só... — Gabi começou, mas sua voz falhou. — Eu só preciso de um tempo pra processar tudo.
— E eu preciso de você presente aqui, Gabi, não só fisicamente — completei, ainda olhando para o teto. — Você pode sair com quem quiser, mas se a cada encontro com ela, você volta confusa, isso vai acabar nos destruindo.
Ela suspirou, e pude sentir o peso em seus ombros, como se carregasse uma culpa que não sabia como resolver.
— Desculpa... — Gabi sussurrou.