-Tenho. –Eu tinha mesmo? –Eu o vi apanhando, foi tamanha covardia. Ele era só um e eles estavam em, sei lá, muitos! Não posso ser indiferente a isso, foi bem na minha frente... Você está dentro ou não? –Perguntei.
-O que eu não faço por você, Fernanda. O que eu não faço? Mas me responde uma coisa, como vai pagar tudo isso sem seus pais perceberem?
-Minha mesada é bem guardada e eu aplico algumas coisas na bolsa. Não eu diretamente, mas uns amigos. Meus pais não checam em que eu constumo gastar dinheiro -Dei de ombros. Não era nada demais.
-Você é muito arteira!
-E eu não sei? –Dei um sorriso sarcástico e o ajudei a tirá-lo do carro assim que chegamos no hospital.
-Bianca. Namorada. 19 anos. Estranho. Lugar certo, hora certa. –Ele repassava as coisas e eu chorava. Não de verdade, mas eu sendo namorada deveria estar um pouquinho desesperada, não? Tá, talvez eu tenha mentido sobre não ter o dom para artes e eu só não gostasse mesmo.
Entramos correndo no hospital e eu fui logo indo para a recepção.
-Por favor, ajudem o meu namorado! –Logo dois médicos correram para pegá-lo do colo do Zé e o levaram para não sei onde.
-Ele será atendido. Pode me ver a carteirinha do plano e a identidade. –Tremendo um pouco, peguei a identidade na bolsa, mas o plano de saúde não tinha. Seria dinheiro mesmo. Falei isso para a recepcionista que me olhou de cima a baixo avaliando se eu teria dinheiro para pagar ou não. Como se aparência dissesse alguma coisa.
Depois de resolver tudo com a mulher "Te julgo pelo que veste", sentei na sala de espera junto com o Zé para... Bom, o nome já é bem alto explicativo. Com o passar do tempo, fui parando de chorar e conversava com o Zé sobre série e escondia as risadas que tinha vontade de dar. Afinal, eu era uma namorada preocupada.
O médico entrou e eu prontamente me levantei para ouvi-lo.
-E então, doutor? Como está meu namorado?
-É... Será que não tem um parente mais próximo que eu posso falar? –Ele olhava para prancheta enquanto falava.
-Os pais dele morreram já faz alguns anos e sua família não mora aqui. São filipinos e italianos. –Me preocupei com cada palavra que disse, não queria mentir, caso quando ele acordasse resolvesse ter uma conversa com o médico. Tudo que falei, deixei uma incerteza, podendo dizer que me confundi caso algo fugisse do controle.
-Tudo bem. –Ele suspirou. –Como tudo aconteceu? –Ele perguntou intrigado, mas, mais ainda, desconfiado.
-Uns caras pararam o carro do nosso lado e saíram. Eles me mandaram correr, eu não queria, mas o Zack me implorou para correr. Temos um lance que é quase telepatia, conseguimos entender olhares. Eu corri, o mais rápido que pude e me escondi. Assim que vi o carro indo embora, estava com tanto medo de terem o levado, mas ele estava ali estirado no chão todo ensanguentado. Aquele bom homem apareceu e ajudou a gente. –Algumas falsas lágrimas escorreram pelos meus olhos e, bingo, médico convencido.
-Sinto muito pela situação. Mas você acha que eles o conheciam?
-Não. Acho que era um assalto mesmo. O Zack gosta de andar com coisas caras, sério ele deve valer o preço de umas cinco televisões smart. –O Zack poderia não ter dinheiro, mas a Bianca tinha. Não tanto quanto eu, eu... Mas dava para bancar um namorado. Minhas mentiras estavam tão escrotas que eu não sei como o médico acreditava. Acho que ele estava tão cansado de trabalhar no plantão pare se dar ao luxo de perceber.
-Você tem que dar queixa. –Quem ele é para dizer o que eu devo fazer? Queria revirar os olhos, mas não o fiz, ele tentava ajudar.
-Eu estou no meio de um projeto social, não posso ter meu nome envolvido em uma coisa dessa. Sei que fomos as vítimas, mas o que não fazemos pela imagem, não é mesmo? –Dei um sorrisinho triste e torto. Era tão boa atriz que fiquei com vontade de sorrir de orgulho de mim. Logo afastei meu pensamentos, não podia colocar boa e atriz na mesma frase, é perigoso.
-Tudo bem. –Ele pareceu espantado com minhas palavras. Droga, eu preferia muito mais a justiça que a imagem, mas precisava ajudar esse estranho. –Bom, seu namorado levou alguns pontos no supercílio e teve uma perna quebrada. A cabeça já foi um pouquinho mais sério, ele teve um leve trauma devido à forte pancada que sofreu, deve acordar em alguns dias ou semanas.
-Semanas? –Perguntei verdadeiramente assustada. Será que ele estava bem? Apesar deu não conhecê-lo e achá-lo um tanto misterioso, não queria seu mal, pelo contrário, queria ele bem.
-Não sabemos como o corpo dele lidará com o ocorrido. Só o tempo dirá, mas uma coisa é certa, ele não teve nenhum dano sério e vai acordar.
-Eu posso vê-lo?
-Sim. É o quarto 106. –Ele disse e se retirou.
-Você pensa em ir para casa, querida? –Perguntou carinhosamente.
-Sim. Eu só vou dar uma passada lá e ver qual estado dele. Uns dez minutos, no máximo. –Ele assentiu e eu fui. Entrei no quarto assim que a enfermeira estava saindo. Ela me cumprimentou com a cabeça e eu retribui.
Olhá-lo ali, deitado e sedado foi triste. Era tão estranho pensar que o menino que andava ao meu lado na rua de repente estava em uma cama totalmente indefeso e dormindo profundamente. Havia um tubo em seu nariz que o ajudava a respirar. Seu pé estava engessado, o supercílio com pontos e a cabeça enfaixada. Ele estava tão sereno que o olhando assim era impossível imaginá-lo como alguém que poderia ser perigoso. Suas feições e traços o deixavam com um rosto bonito, tendo um grande nível de abstração para retirar todas as feridas de seu rosto, algumas outras cicatrizes habitavam seu rosto e braços, mas não as considerava feias.
-Fique bem, Zack.
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Um estranho em minha vida
RomanceFernanda é uma menina dedicada e impulsiva. Vem de uma família de atores famosos internacionalmente, mas não se importa com a fama. Como não pode simplesmente ignorá-la, aprende a viver e dar suas escapadas. Um dia, quando está voltando da escola, a...