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-Como assim você estava na praia até agora, Fernanda? -Minha mãe perguntou retoricamente um pouco desesperada demais.

-Eu precisava pensar e acabei encontrando um amigo por lá. -Omiti algumas coisas do que realmente aconteceu e elevei o patamar do Zack bem lá em cima.

-Que amigo, Fernanda? -Como ela faz isso? Como ela consegue perceber que eu estou mentindo tão facilmente?

-Um da escola, mãe. Por favor, respira e não pira. -Meu pai deu uma risada do jeito que falei e a minha mãe suspirou, rendendo-se.

-Tudo bem, filha. Eu só quero o seu bem. Dá próxima vez, manda mensagem diretamente para mim e não para o Gustavo.

-Pode deixar, mamãe. -Anotei seu pedido na minha mente, mas não tinha dúvidas que esqueceria.

-Filha, eu e o seu pai temos...

-Ih... Já vi tudo. -Quando ela vinha com esse papo, sabia que alguma coisa tinha a ver com ir em festas, aparecer em entrevistas, tirar foto com gente que eu não tenho ideia de quem seja, sorrir e acenar, ou tudo isso junto.

-Você sabe que fazemos o máximo para não te arrastar para essas coisas, mas tem vezes que sua presença é essencial. -Meu pai falou.

Não podia negar esse fato nem negar o sacrifício de congelar um sorriso na cara pelos meus pais. Eles faziam mesmo de tudo para não me envolver nesse meio midiático/problemático/chato/cheio de fofoca que eu não tinha saco para aturar.

-Sexta vai ser a festa de estreia do filme do seu pai.

-Tem mais? -Perguntei de olhos arregalados.

-Sábado tem a inauguração da agência da Tânia. -Quem é Tânia?

Vocês podem achar que eu não amo os meus pais ou que eu não sei nada sobre eles, mas, na real, eu sei muito, apenas não me interesso em saber sobre seus empregos. É tipo ter pais médicos, não acho que os filhos fiquem querendo saber quem os pais operaram ou que instrumento usaram para tirar o apêndice de alguém. Ou pais eletricistas, os filhos não deverem querer saber a casa de quem ou que estabelecimento os pais instalaram fiação. É a mesma coisa, só que... diferente.

-Posso levar alguém para ser torturado comigo? -Meus pais riram. Era tão bom ter eles levando meu sarcásmo na irônia, facilitava muito a nossa vida.

Eu amo tanto os meus pais, amo mais ainda quando eles percebem que eu faço tudo por eles e que eles não abusam da minha vontade de agradá-los.

-Infelizmente na sexta a gente só conseguiu um convite a mais. No sábado pode levar a tropa toda. -Tropa foi o apelido carinhoso que meus pais deram para meus amigos e olha que nem era tanta gente assim. Mas, vai saber? Eles chamam os amigos do Miguel de fãs do Michel Jackson, nisso ai eu concordo, o que o meu irmão tem de amigo, meu cachorro tem de pêlo. Em falar no Átila eu preciso dar comida para ele.

-Vai ser difícil para você escolher? Se for, não leva ninguém. -Meu pai perguntou.

-Não. Já tenho alguém em mente. A Júlia, namorada do Gustavo.

-A Karina não vai se importar? -Foi a vez da minha mãe.

-A Karina só vai nesses lugares pela comida de graça e pelos atores gatos. Agora que ela está quase namorando e entrou em uma vibe de diminuir carboidrato não tem o que a agrade lá. Além do mais, a Júlia quer cursar cinema, acho que vai ser bom para ela.

-Eu amo a Karina. -Minha mãe disse rindo. -Ah, sobre a Júlia, na festa podemos apresentá-la à alguns diretores, roteiristas, editores, ou qual ramo ela tenha mais interesse.

-Ela vai amar! -Falei animada. Estava louca para dar a notícia para ela.

Um estranho em minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora