Um estranho em minha vida

5.

Na quarta o Kauã me mandou mensagem e na quinta ele estava na porta da minha casa.

Assim que ouvi a campanhia levantei correndo do sofá para abrir a porta e, acreditem, eu levei um susto quando dei de cara com o Kauã, não achei que ele mal chegaria e já estaria atrás do melhor amigo.

-Ah! Oi, Kauã. -Falei meio envergonhada pelo jeito todo alegre que abri a porta. Ele estava ainda mais lindo que quando terminamos ano passado e eu queria poder dizer isso a ele. Não sei dizer o que senti ao vê-lo, mas sei que foi melhor do que achei que seria.

-Fernanda. -Ele sorriu para mim. Um sorriso lindo, cafajeste, que só ele sabe dar.

-Meu irmão não está em casa ainda. Ele foi na gravadora com meus pais hoje cedo e ainda não chegou. -Ele arregalou os olhos.

-O Miguel resolveu cantar? -Ele perguntou quase gritando.

-Não! Deus me livre! -Falei assustada. Meu irmão era um ótimo ator, porém quando abria a boca para cantar, só saindo de perto mesmo. Sério, ele canta muito mal! Muito mesmo.

O Miguel deu uma risada da minha reação.

-Ele e minha mãe estão dublando um filme da Disney qualquer. -Falei sem interesse.

-Parece que esse ano não foi o suficiente para te transformarem na nova estrela das telinhas. -Quando eu e o Kauã nos conhecemos, há uns 5 anos, meus pais ainda tentavam me fazer gostar de praticar qualquer coisa voltada a arte, mas acabaram desistindo para valer um pouco antes dele ir embora.

-Fico agradecida! -Um silêncio estendeu-se entre nós, mas não era desconfortável. Ele me reparou de cima a baixo, bem discretamente, mas eu consegui perceber, sou um pouco observadora (às vezes). -Quer entrar? -Perguntei quebrando o silêncio.

Ele hesitou em responder.

-Acho que volto outra hora... -Falou meio sem jeito.

-Ah, que isso. Eles já devem estar chegando. Entra ai. -Ele pensou um pouco, mas acabou entrando. Queria lhe dar um abraço de boas vindas, mas me contive. Fechei a porta. -Você pode ir para o quarto dele ou ficar vendo um documentário sobre baleias comigo. -Falei enquanto caminhava para sala.

-Se o Miguel ainda for aquele menino organizado, tenho até medo de entrar naquele quarto. -Ele disse com irônia e eu dei uma risada.

-Não entro naquele quarto, sem brincadeira, há uns seis meses. Tenho medo até de passar perto. Coitada da Tita que limpa aquele lugar.

-Como ela está? A Tita. -Ele e meu irmão se conhecem há muitos anos e ele ficava muito aqui em casa quando mais novo e acabou tendo uma boa relação com ela.

-Está ótima! -Falei com um falso ânimo. Ele realmente perguntou se ela estava bem e nem ligou para o fato de não ter me visto? Eu amo a Tita, mas fiquei com um ciúmes muito grande. Admito!

-E você? Está bem? -Como se lesse meus pensamento, ele perguntou.

-Estou bem. Como foi a turnê? -Começamos a conversar e o documentário de baleias pareceu não ter mais importância.

-Foi muito corrida. Eu rodei a Europa e cheguei a fazer uns três shows por semana. Preciso desse tempo em casa e longe disso tudo.

-Você deu uma pausa na sua carreira? -Perguntei espantada. Se tem uma coisa que esse menino ama de paixão, essa coisa é cantar. Fazer shows e apresentações nunca foi um sacrifício para ele, na verdade, era sua válvula de escape do mundo.

Ele soltou uma risada, claramente se perguntando como eu não sabia disso. Com certeza deve ter saído em todos as revistas teens "Febre adolescente, Kauã, diz que quer fazer uma pausa em sua carreira". É querido, infelizmente, eu não ligo para o que vem escrito nessas revistas.

-Sim, Fernanda. Eu preciso de um tempo. Queria voltar para minha casa, família, amigos e, quem sabe, me envolver sério com alguém de novo. -Essa última parte ele falou olhando bem no fundo dos meus olhos, tratei de desviar o olhar bem rápido e meus pais e o Miguel chegaram bem a tempo de não me deixar sem o que falar! Obrigada ! Mas, será que quando ele disse "sério com alguém de novo" era com o mesmo alguém (eu) ou um alguém novo? Merda! Odeio ambiguidade.

-Kauã! -Meu irmão falou com um sorriso no rosto assim que o viu.

Kauã levantou do sofá e foi abraçar meu irmão.