Um estranho em minha vida

25.

Ele devorou o hamburguer em poucas mordidas e eu fiquei assustada.

-Parece que alguém estava morrendo de fome.

-Experimenta ficar um mês e pouco tomando só soro.

-Não, obrigada... -Um silência estranho cresceu entre nós. -Você para onde ir? -Perguntei quebrando o silêncio.

-O que? -Olhei para ele.

-Você tem para onde ir? Algum lugar seguro onde pessoas não queiram te matar? -Ele não respondeu. Revirei os olhos. -Se quiser eu tenho um lugar para emprestar até você resolver sua vida. -Ele continuou sem responder. -Bom, ok então. Foi um prazer enorme te conhecer. Fico feliz que tenha acordado. Amanhã quando você acordar não vai precisar se preocupar com a conta do hospital. Vou pedir para um amigo trazer seu celular e uma roupa para você. Adeus. -Quando estava quase chegando na porta ele falou:

-Por que? -Virei para ele. -O que ganha com isso? Vaga no céu?

-Eu não ganho nada, Zack. Só acho que se eu posso ajudar uma pessoa, o que me impede?

-Então você é a nova Madre Teresa?

-Eu estou muito longe de ser um terço do que aquela mulher era, mas não vejo que mal faz ajudar alguém.

Voc...

-Você não pode simplesmente só agradecer? Ou me mandar embora? -Ele assentiu.

-Obrigado. -Deixei um sorriso escapar.

-De nada. E então... Tem um lugar para ficar? -Ele negou com a cabeça, dava para ver que estava envergonhado demais para responder com a boca. -Eu tenho uma casa perto da praia e não vou muito nela, pode ficar lá por uns tempos.

Sim, eu tinha uma casa. Não eu Bianca, eu Fernanda. Comprei uns dois anos com o dinheiro dos investimentos.

-Amanhã de manhã eu venho aqui e eu te levo. Talvez esteja um pouco empoeirada, mas acho que você sabe passar pano e varrer uma casa.

-Obrigado.

-De nada. -Saí do quarto e depois do hospital. Chamei o Zé e fui direto para casa. No caminho contei que ele tinha acordado e que o levaria para minha casa na praia, só para ele ficar a par das coisas, caso eu precisasse dele por lá.

Entrei em casa e fui direto para o quarto do Miguel. Deus me ajude entrar nessa bagunça e sair viva.

-Miguel.

-Entra. -Ele disse do outro lado da porta. Entrei no quarto e, por incrível que pareça, tudo estava no lugar.

-Quando esse lugar passou a ter chão?

-Quando a Tita me deu uma lição de moral de duas horas. -Ele sentou na cama. -Mas me conta... E o menino lá? -Falei tudo que tinha acontecido até a parte que ele ia ficar na minha casa (o que ele não gostou muito, mas acabou não brigando muito comigo).

-Tem algumas roupas que você não queira mais? -Ele assentiu.

-Quantas você quer?

-Quanto mais você me der, menos eu compro. -Ele riu e começou a tacar um monte de roupa em cima de mim. -Obrigada, irmãozinho querido.

Peguei o bolo de roupa e fui para o meu quarto. Arrumei tudo em uma mala, coloquei umas outras coisas de higiene pessoal e me taquei na cama. Em poucos minutos já estava dormindo.