6.

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Depois de toda troca calorosa de abraços com o Kauã, consegui falar com meus pais e quando fui falar com o Miguel, sussurrei em seu ouvido. 

-Se perguntarem diz que estou na biblioteca lendo para criancinhas. -Meus pais já não estavam mais na sala.

-A gente vai conversar mais sobre isso mais tarde. Ainda não gosto dessa ideia. -Ele sussurrou de volta. Discutir com ele ali na frente de todo mundo não daria em nada e nem quando estivéssemos sozinhos também. Ele não me escutaria, mas não posso dar para trás agora, posso? 

Saí de casa e com a carona do Zé, fui para o hospital. Fiquei tão ocupada na terça e ontem que não tive tempo de ir para o hospital ver o Zack, mas liguei todos os dias em busca de informações ou que alguém me falasse que ele estava bem e acordado. 

Não demorei muito para colocar a peruca e o piercing no nariz. Às vezes me sentia bem retardada por fazer coisas assim e me pergunto se outras pessoas também se escondem atrás de máscaras quando não querem ser reconhecidas. Nunca cheguei a uma resposta, pois nunca encontrei alguém que fizesse isso além de mim, mas existem muitas pessoas no mundo para dizer que NINGUÉM mais faz isso. Dei de ombros, era algo inútil de se pensar. Eu não detesto a minha vida ou a "fama" que tenho, só que, de vez em quando, sinto como se fosse espionada o tempo todo. 

O Zé parou na rua atrás do hospital, afinal, ele era só um homem no lugar certo, na hora certa. 

-Não se preocupe em me esperar, vou pegar um táxi para voltar. 

-Certeza? -Assenti com a cabeça e saí do carro. 

Passei rápido na recepção e fui direto para o quarto dele. 

Entrei. 

Ele estava sozinho, deitado do mesmo jeito que na segunda-feira. O tubo ainda colocado em seu nariz e os machucados bem feios. Reprimi uma careta ao olhar. 

-Como pode existir pessoas no mundo capazes de machucar umas as outras? E por quê? Dinheiro? Fama? Mulher? Homem? -Larguei minha bolsa no canto do sofá e sentei na cadeira, perto dele. Analisei o seu rosto e sua expressão de nada. Um sono profundo o vencia. 

-Meu irmão acha que eu sou maluca. -Dei uma risada, em partes pelo Miguel, mas a outra parte era por eu estar desabafando com um estranho e, mais, um estranho em coma. Não que eu não acredite que ele não possa escutar, acho que seja possível, mas nunca tive ninguém que me provasse ser verdade. -Ele acha que quando acordar a primeira coisa que vai querer fazer é me matar. Nossa, falando desse jeito torna tudo mais real, afinal, o que te impede? Sem querer ofender, não sei nem se está ouvindo, mas vamos lá, né? Os socos que recebeu foram bem direcionados, nem se deram ao trabalho de verem se tinha mais alguém na rua ou, até mesmo, de levarem seus pertences caros... Caramba, eu sou uma maluca! Isso está 100% comprovado. Você me acha maluca? Acho que agora não acha nada, mas, tenho certeza que, quando acordar vai ser a primeira coisa que vai pensar como: Quem é essa maluca e o que eu estou fazendo aqui... Pera, cadê meu celular? Olha, nesse lugar, todos pensam que eu sou sua namorada e espero que não desminta isso quando acordar, pois se o fizer, eu estou lascada e você estará pior que eu. Em falar em acordar, você bem que podia, né? Abrir os olhos. Estou curiosa. Seus olhos são castanhos? Azuis? Ai, meu Deus! Ignora isso. Ignora toda essa última parte que eu falei dos seus olhos e que bom que não falei que queria saber como é sua voz... Ai, merda! Eu sou tão tagarela. Agora não sei se quero que você esteja escutando tudo isso. 

O médico entrou no quarto e eu levantei rápido da cadeira. 

-Boa tarde. -Ele disse olhando da prancheta para mim. 

-Boa tarde. Como ele está? -

-Seu quadro continua o mesmo, mas vamos fazer outros exames em sua cabeça para ver se prejudicou alguma coisa. Ele já deveria ter acordado ou dado algum sinal de melhora. 

-Ele está na mesma? Quando ele vai acordar? E como assim prejudicou alguma coisa? -Taquei sim uma pergunta atrás da outra. 

Acho que as pessoas têm razão quando falam que eu falo demais. 

-Ele bateu a cabeça no chão, bem forte, pelo que parece. Um turbilhão de coisas podem ter acontecido, mas estou rezando para que tudo fiquei bem. E não posso te dar uma previsão de quando ele vai acordar, mas minha resposta ainda é a mesma: ele vai acordar e estamos só na questão de quando. 

-Obrigada. -Ele sorriu com solidariedade e foi embora. 

Fiquei ali tagarelando mais um pouco antes de ir embora. 


Um estranho em minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora