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Depois de sermos esmagados e quase pisoteados, conseguimos achar um lugar bom para parar e assistir ao show.

-Já me arrependi de não ter ficado com o Miguel. -A Karina reclamou.

-Qual a graça de ir para um show e não enfrentar uma multidão? Não tem graça. -A Júlia falou.

Eu e as meninas continuamos a discutir sobre pontos positivos e negativos de estar no meio do tumulto.

-Acho que as meninas aqui da frente estão falando mal de você. -O Gustavo falou interrompendo a nossa conversa.

-Estão. -O Zack falou. -Mas eu não ia falar nada.

Ficamos quietas rapidinho e começamos ouvir a conversa. Aquilo poderia ser errado, mas qual é? É um lugar público, não?

-Aquela ex do Kauã era tão sem sal que eu não sei como ele fez uma música sobre ela. -Uma disse. -Sem falar que, com certeza, ela traia ele. Ele não podia fazer isso porque teria mil pessoas para julgá-lo, mas ela? Nem famosa é. -Como tem gente no mundo que fala merda, não é mesmo?

-Ah, eu gosto daquela música. -A outra falou.

-A música não é a questão. Eu só não entendo como ele conseguiu ficar com uma garota tão chata como ela. Uma prima minha estuda na mesma escola que ela e disse que é um porre. -Arregalei os olhos e o Gustavo concordou. Dei um tapinha nele.

-Sério que ela estuda na escola do Miguel e é com a irmã sem sal dele que vocês falam?

-Eu não gosto muito dele. O que ele tem de bonito tem de mimado.

-Ah, para. Eu sou apaixonada por ele. Só que ele também namora uma garota tão apagadinha... Qual o problema dessas pessoas? Custa namorar alguém que seja legal?

-Fazer o que se mau gosto reina nesse mundo? Mas que bom que o Kauã terminou com aquela Fernanda, vai que ele me nota algum dia. -As duas ririam.

-Eu so queria que o Miguel terminasse com a... a... Ai, qual é mesmo o nome daquela biscate? -Ela falou pensativa.

-Karina! -Eu jurava que tinha sido outra pessoa a responder, mas foi a própria Karina. Uma coisa é você ouvir a conversa de outra pessoa (que já é feio) outra bem diferente é você se meter nela.

-Isso... Karina... Obrigada. Quem é você? -Ela não parecia irritada por terem se enfiado na conversa.

-A Karina. -Minha amiga respondeu sorrindo e os olhos das meninas se arregalaram.

-Se eu não fosse amigo da Karina, acho que minha vida seria sem sentido e chata. -O Gustavo disse e eu ri.

Sim, a Karina era maluquinha e costumava nos enfiar nas piores e mais malucas situações, mas ela era a causa das nossas maiores risadas e, toda vez que estávamos com ela, era certeza que algo engraçado sairia dali. Não tem como não amar a Karina.

-Sério que você perde tempo escutando a conversa dos outros? -A menina, que falou de mim, disse.

-Não costumo perder meu tempo, mas vocês gritam mais do que falam. Não tem como não ouvir.

-Estou com sede, Flávia. Vamos pegar uma bebida? -Uma puxou a outra e as duas saíram da nossa frente.

-Que loucura. -O Zack e a Júlia falaram ao mesmo tempo. Nós rimos.

O show estava quase começando. As luzes se apagaram e meus amigos passaram a ser contornos.

Vi o contorno do Gustavo abraçando a Júlia e senti o perfume doce e amadeirado do Zack quando ele me abraçou por trás. Virei meu rosto e dei-lhe um beijo na bochecha.

-Obrigada por ter vindo. -Ele sorriu.

-Qualquer coisa por você.

O show começou junto com a gritaria e pessoas acompanhando as músicas.

Um estranho em minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora