20.

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-Não posso. -Ele fechou os olhos.

-Não pode beijar ou me beijar? -Ele deu risadinha com a minha pergunta.

-Por quê? Que diferença faz?

-Quero saber se você está me dando um fora ou em todas. 

-Ah, Fernanda... Eu nunca te daria um fora, mas você me ensinou se amar antes de amar os outros. Eu falho um pouco nisso de vez enquando, mas eu estou tentando. -Dei uma risada sem humor. Várias foram as vezes que eu falei para o Kauã se amar antes de amar os outros, mas ele parecia nunca me dar atenção e agora ele usa esse argumento contra mim? Que genial! 

-Fico feliz que depois de alguns anos você valorizou o que eu sempre te falei. -Me aproximei e dei um beijo na bochecha dele. 

-Eu sempre valorizei, Fernanda, tudo que você sempre me falou. Só não deixava transparecer. -Ele sorriu. -Seu ego consegue ser maior que do seu irmão e quando consegue alguma coisa, fica se achando até não poder mais. -Ele caiu na risada, provavelmente lembrando de alguma coisa.

-Isso é calúnia! -Disse tentando prender o riso, pois sabia que era verdade. Nos afastamos um do outro e voltamos a caminhar.

-Posso dizer uma coisa que eu penso?

-Sinsa-se a vontade. 

-Você nunca me escuta mesmo, mas só pelo prazer de te fazer pensar por um segundo já vale a pena. 

-Para de ser assim, Kauã. -Dei um tapinha de leve no braço dele. 

-Eu acho você a pessoa mais voltada para arte da sua casa. -Ele me olhou esperando uma reação e eu só consegui franzir a sobrancelha esperando o resto do que ele falaria. -Um dos seus escritores favoritos é Shakespeare que escreveu várias peças. Você curte escutar clássico, jazz, ópera e canto gregoriano. Canto gregoriano, Fernanda? Você tem que amar muito música para gostar disso. Sem mencionar que você canta bem demais e que me fazia te levar em vários concertos e apresentações de dança. Se me permite um palpite, sua dança preferida é o ballet, mas também gosta muito de danças de salão em geral. Nas artes plásticas, você ficava constantemente fugindo da biblioteca para os museus e nem pense em negar... 

-Você me reparou bem. -Não discordei e nem concordei. Sendo verdade ou não, a ideia estava bem fixada na cabeça dele. 

-Depois de anos de convivência com você, aprendi algumas coisas. 

-Certeza? Então se diz que eu amo tanto a arte, por que fugiria dela? 

-Por que você é rebelde e não gosta de ser pressionada a fazer alguma coisa... Seus pais e seu irmão passaram anos tentando te fazer sentir aptidão para alguma delas, que te fez criar uma repulsa pela arte e buscar outras coisas que te divertisse como discutir e ajudar as pessoas... Você será uma boa advogada um dia.

-Devo dizer que você aprendeu bem. -Sim, ele tinha razão. Eu não detesto tanto arte quanto eu falo e um dos motivos que me fez criar a Bianca, foi que eu poderia fazer essas coisas sem ninguém encher meu saco. Tanto que deu certo por um tempo, eu fiz uns 4 anos de teatro e 3 anos de dança de salão. Depois acabei dando outro significado para ela e ela passou a ser meu ponto de fulga do mundo. 

-Mas e você, heim? Seu sonho sempre foi ser um ator e não cantor. 

-Como voc... 

-Isso é bem estampado na sua cara. -Falei rindo. Nunca havíamos conversado sobre isso, mas desde pequena sou boa em ler pessoas. 

-Ah. Questão de oportunidades. -Ele me olhou. -Mas hoje eu amo o que faço e não trocaria por nada. Já até recebi umas propostas para atuar em uns filmes, mas recusei todos. Atuar e cantar são duas coisas que requerem muito tempo e eu só tenho para um. 

-Escolha inteligente. É melhor ser bom em uma coisa do que mais ou menos nas duas. 


Um estranho em minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora