Um estranho em minha vida

59.

No domingo, como eu tinha expulsado meus amigos o fim de semana inteiro e meus pais não estavam em casa, depois de estudar algumas horas fui para a casa do Zack. 

-O que se leva para uma aula de culinária? -Eu perguntei, enquanto ele arrumava a mochila. Disse que estava meio cedo, afinal ainda nem está de noite e a aula dele é só amanhã, mas ele estava tão animado que nada que eu falasse ia fazer ele mudar de ideia. 

-Eu estou levando o que levaria para a escola. -Disse fechando a mochila. -Vamos ver um filme? -Assenti. -Estava pensando em Moana ou 101 dálmatas. -Revirei os olhos. O Zack ganhou um novo divertimento: fazer piada sobre a minha idade. 

-Eu não sou uma criança, Zack! -Falei meio alterada e ele riu. 

Taquei uma almofada nele. 

-Eu sei, Fernanda. Por isso, que a gente vai ver "O poderoso chefão". 

-Já vimos esse. Que tal "Psicose"? -Perguntei com uma carinha de cachorro pidão. 

-O que você não pede com essa carinha pagando de fofa que eu não faço sorrindo, não é? -Dei um pulinho vitoriosa no sofá. -Coloca que eu faço a pipoca. 

Colocar o filme foi bem mais rápido que esperar o chefe fazer a pipoca. Fiquei mexendo no celular enquanto ele não voltava e vi algumas fotos que meus amigos tinham me enviado. 

-Pronto. -Ele chegou com dois baldes de pipoca: um com doce e outro com salgada. Dei play no filme. 

Depois que cansamos de comer, colocamos o bande na mesinha e eu deitei em seu colo. Não era difícil reparar, através da minha visão periférica, que o Zack revisava seu olhar entre eu e o filme. Uma determinada hora, quando ele olhava o filme, olhei para ele, mas ele acabou me olhando e nossos olhares acabaram se encontrando. 

Esqueci, naquele momento, que o filme existia. Eu não conseguia desviar meu olhar daqueles lindos olhos azuis e ele não parava de me olhar também. O Zack fazia carinho no meu cabelo e eu levei minha mão até seu rosto, tirando uma mecha de seu cabelo preto que caia em seus olhos. A hora que eu ia acariciar seu rosto, foi a hora do filme em antecedia a morte da personagem principal e seu grito me assustou, me fazendo dar um pulo. 

Zack, como boa pessoa que é, não podia perder a oportunidade de me zuar. 

Passei o resto do filme tentando prender minha atenção unicamente a ele, o que não foi muito fácil, pois de tempos em tempos eu queria olhar para ele. 

Assim que o filme acabou, tomamos a mesma decisão de ontem: sair para jantar, só que dessa vez eu escolhi o restaurante. Depois que comemos, ele voltou para casa e eu fui para a minha após reafirmar minha promessa que o apresentaria para meu irmão e amigos. 

Entrei em casa e dei de cara com meu irmão e a Karina na sala, mais se pegando do que vendo o filme que passava na televisão. Bati a porta para anunciar a minha chegada e os dois me olharam levando um susto. 

-Que merda, Fernanda! -Meu irmão falou. 

-Que foi, maninho? -Fui até ele e abrecei seu pescoço. -E ai, Karina. Vai dormir com seu namorado ou sua melhor amiga? -Lancei um olhar assassino para ela. 

-Com você. -Ela respondeu ao mesmo tempo que meu imrão respondeu "Comigo.". 

-Aprende a dividir, Miguel. Já ficou com ela dois dias seguidos. Além do mais, temos assunto para colocar em dia. 

-Ah, então quer dizer que tem coisas para contar para ela que não vai contar para mim. 

-Eu contei para o Zack que eu sou eu. -Soltei de uma vez, fechando os olhos de forma bem apertada como se fosse me impedir de escutar o esporro. 

Soltei o Miguel e sentei no sofá entre os dois, que rapidinho abriram espaço para mim. 

-Você ficou maluca? -Meu irmão perguntou preocupado. -E se esse garoto for um maluco, Fernanda? Você tem ideia da loucura que cometeu? Colocou todo mundo em perigo. -Ele tacava as palavras em cima de mim. 

-Vou te espera no quarto. -A Karina falou. Dei um sorriso de abradecimento para ela, mas sabia que sua atitude não me livraria do sermão que me daria assim que subisse. 

-Miguel, você não o conhece! Não tem ideia do quanto ele é incrível! -Falei tentando não alterar meu tom de voz, afinal, nossos pais estavam em casa. -Você tinha que ver como ele ficou feliz quando disse que ia apresentar vocês a ele. Por favor, Miguel, uma chance! Ele não tem mais ninguém. -Apesar de preocupado comigo, meu irmão era uma pessoa boa, que não fazia julgamentos precipitado dos outros e sei que, no fundo, ele tinha vontade de conhecer o Zack. 

-Tá legal! Mas eu quero conhecer esse garoto.