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Não foram só os vinte minutos que a Karina ficou dando chilique. Foi a aula toda e sei que não foi por mal. Ela não é de ficar babando, mas acho que ela estava mais feliz por estar no mesmo lugar que meu irmão do que outra coisa. Já achei rolar algo entre os dois, mas nunca tive certeza ou eles demonstraram algo.
O Gustavo estava mais normal, ficou animado por reencontrar o Kauã, mas nada que me irritasse a aula inteira.

Assim que as aulas acabaram eu agradeci muito. Muito mesmo! Fomos para o pátio e esperei o Miguel e não demorou muito ele apareceu.

-Espero vocês hoje lá, às 3horas. -Ele me abraçou.

-Tchau! -Despedi-me e fui encontrar o Zé, que já nos esperava no carro.

-Oi Zé, boa tarde! Pode leva a gente no mercado? -Ele assentiu e rumamos para o mercado.

Compramos tudo que julgamos necessário e acabou sendo bastante coisa quando descobrimos que na casa do Kauã não tinha nada de comer, só refrigerante e álcool, muito álcool.

Chegamos na casa do Kauã bem em cima do laço para as pessoas chegarem. O Miguel foi correndo para o banheiro e eu fui atrás do Kauã ver se ele precisava de ajuda. Ele estava na cozinha tentando pegar muitos pratos, junto com uma pilha de talher e muitos copos.

-É autossuficiente ou precisa de uma mãozinha? -Perguntei rindo da cena.

-Como os garçons nos restaurantes conseguem fazer isso? É impossível.

-Acho que eles acham impossível e cantar na frente de milhares de pessoas também. -Ele concordou com a cabeça.

-Você sempre tem razão. -Ele falou com um tom mais sério que o necessário para nossa conversa e, de repente, fui transportada para o passado, quando o dia estava maravilhoso e do nada uma conversa que fez tudo ficar mais séria e acabou levando o fim, amigável do nosso relacionamento. Eram dias antes da sua partida e estávamos na piscina de sua casa.

-Eu não acredito que o Miguel caiu na zoeiras de vocês. -Falei rindo muito. Os meninos inventaram que eram produtores de uma novela e precisavam que ele enviasse um vídeo dançando e cantando "Macarena" da forma mais zuada possível. Alegaram que ele seria um menino viciado nessa música que ficaria toda hora sendo um chato querendo dançar e cantar. Mesmo que fosse verdade, eu me recusaria a fazer esse papel, é perder muito o senso do ridículo.

-E você acha que eu acredito? -Ele ria também. -A gente zoou tanto, tanto ele que estou esperando a vingança de pé, pois não vai demorar muito.

-Por que fizeram isso mesmo?

-Verdade ou consequência. Esse foi o que sobrou para ele por ter faltado nossa festinha... Mas você quer mesmo falar disso? -Ele segurou minha cintura e me puxou para ele. -Temos tantas coisas mais legais para fazer. -Ele beijou meu pescoço e me arrepiei.

-Tipo o que? -Perguntei em um suspiro e nos beijamos. Um beijo lento e caloroso. Ah! Como eu amo esse menino. Flashs dos dias que passamos juntos me fizeram ficar triste. Eu estava feliz pela carreira de ter decolado e ele ter conseguido uma turnê fora do Brasil, mas já era difícil demais com a turnê nacional. Senti uma lágrima molhar meu rosto enquanto nos beijávamos e sabia que era minha e ele também. Tentei ser forte para não deixá-lo triste, queria que ele soubesse o quanto fiquei feliz por ele, mas eu estava quebrada por dentro e cada dia que ficava mais perto da partida, eu me quebrava mais.

-Ah, princesa. -Ele repousou as duas mãos em meu rosto. -Eu vou voltar logo. -Ele sabia a mentira que suas palavras carregavam. Um ano é muita coisa, bom, pelo menos para mim.

-Eu não queria ter que ficar sem você. Quem vai me abraçar quando eu estiver com frio? Quem vai me beijar quando eu estiver puta da vida? Quem vai me dar conselhos e falar que eu sou linda, mesmo eu sabendo que é a maior mentira? -Um flash de dor passou em seus olhos.

-Sinto por não poder estar presente. -Ele nunca foi muito de ter o que dizer e ainda mais quando se tratava de expressar seus sentimentos, era bem reservado. Se não fosse por alguns empurrões dos amigos, acho que não teria me chamado para sair. Pode não parecer, mas ele é muito tímido. -E se você achasse outro alguém enquanto eu estiver fora? -Ele sugeriu e eu sabia o que queria dizer, mas não me sentia a vontade. Nunca entendi essa coisa de relacionamento aberto e já foi pauta de algumas de nossas conversas. Sempre voltada para mim, ele queria que eu me sentisse protegida e cuidada e ele tinha receio de não conseguir fazer isso muito bem de longe.

De repente, uma porta se abriu dentro de mim. A porta que faltava para eu tomar a coragem e libertá-lo para vida. Um ano é muita coisa... Não queria que ele passasse todo esse tempo tendo que se dedicar à carreira, viver no exterior, dar atenção para os fãs e precisar falar comigo. Ao mesmo tempo eu não queria ficar acordada esperando uma mensagem, ficando irritada com a agenda cheia e contando os dias para o ano acabar. Tenho um lema que devemos viver um dia de cada vez como se fosse o último e querer que o ano acabe logo é saber que o hoje não será o último.

Apesar da coragem de terminar, faltou-me a coragem para falar. Como dizer para o menino que eu amo que eu não quero mais ficar com ele? Passamos por tantas coisas, enfrentamos cada fofoca e um monte mais de coisas que não me cabe lembrar agora.

Suspirei. Ele percebeu que algo não estava certo.

-Não dá. -Foi tudo que saiu da minha boca. O Kauã pareceu abalado, mas não surpreso.

-Eu te amo. -Foi tudo que ele foi capaz de responder. Apesar de suas palavras bonitas, indicava que compreendia meus motivos.

-Eu te amo também. -Desde então, passei a acreditar que amor não basta para segurar uma relação.

-Fernanda?

Um estranho em minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora