Acordei no dia seguinte com o Átila lambendo a minha cara. Fiz carinho dele e fiquei lá por um tempo. Não tinha nada que eu quisesse fazer fora do meu quarto, mais ainda, fora da minha cama. Lembrei da tarde de ontem que começou em perfeita paz e acabou um lixo.Mais tarde ontem, parando para refletir, cheguei a conclusão que o Zack tinha razão em alguns aspectos: Talvez eu tenha mesmo medo dele e por mais que eu negue, não muda o fato. Tudo que eu pensava era que quando ele acordasse ia me matar ou me caçar, mas isso não aconteceu. O que só me deixou mais intrigada. Eu sabia coisas sobre ele, tinha o poder de dedá-lo para os caras que ele devia ou para a polícia e ele não fez nada. Eu o ameacei várias vezes e ele não fez nada. Passou pela minha cabeça que no fundo ele poderia ser só um cara legal que se enfiou em algumas paradas erradas, mas ele disse ontem que não queria me iludir dizendo que era uma pessoa boa. Eu não sei o que pensar, ainda estou bem irritada com tudo que aconteceu, mas dou-lhe razão em pontos específicos, não que isso mude algo ou que me faça pedir desculpas. Talvez a gente nunca mais se fale...
Merda.
Cadê meu celular... Ai, caramba... Cadê meus dois celulares?
Levantei da cama em um pulo.
Como eu não percebi que eu esqueci meu celular no Zack? OS DOIS!
Eu preciso muito ir pegar antes que ele veja alguma coisa que não deve.
-Caramba, Átila, eu sou muito burra! -Ele encostou a cabeça nas patinhas (patonas) e ficou me olhando.
Me arrumei rápido e quando saí de casa não tinha ninguém. O Zé estava distraído então só saí andando pela rua, de caminhada dava uns dez minutos. Já ficou uma noite inteira lá, o que são dez minutos?
Assim que cheguei, apertei a campainha, mas ninguém me atendeu e como eu precisava mesmo do meu celular e estava na minha casa, simplesmente entrei. Sem olhar para nada fui para o lugar que havia deixado... Eles estavam lá, da mesma forma que deixei. Exatamente na mesma posição. Respirei aliviada. Quando passei pela sala vi uma pessoa estirada no chão e como só uma pessoa morava ali, sabia que era o Zack.
Meu coração disparou e a única coisa que consegui pensar foi:
-Não esteja morto. -Ele sussurrou alguma coisa impossível de entender e eu respirei aliviada (de novo).
Coloquei os celulares na bolsa para não esquecer de novo e fui até ele. Seu corpo estava de lado e seu rosto encostado no chão. O virei de barriga para cima e preferia não ter o feito. Dei de cara com um Zack todo quebrado, parecia um replay do dia que voltava da escola.
Seu olho direito estava inchado, seu lábio inferior cortado, supercílo sangrando.
Ele estava sem camisa e dava para ver que além das cicatrizes habituais, haviam roxos recentes espalhados pela sua barriga e o braço direito tinha um corte não muito profundo.
-Não me leva para o hospital. -Ele fez muito esforço para falar e pareceu apagar.
Bufei e esqueci que tínhamos brigado ontem. Eu precisava ajudá-lo, de novo.
Fui para a cozinha e peguei as coisas de remédio que tinha na casa, além de um pote com água e outro com álcool. Espero que ele tenha desmaiado, porque vai doer. Pensei.
Limpei corte por corte com toda calma e cuidado do mundo. Ele não reclamou nenhuma vez e concluí que ele estava apagado, pedi muito para que ele estivesse bem. Tentei levar ele até o quarto dele, mas foi muito difícil e acabei o colocando no primeiro quarto, que por sinal era o meu. Sei que não deveria ter tocado nele, mas como eu acho que ele não apanhou aqui em casa, pois não tinha sinais de luta nem nada parecido, precisou andar de seja lá onde até aqui, então ele não tinha nada tão grave que não pudesse ser movido... Pelo menos foi o que fez sentido na minha cabeça na hora.
Dei alguns remédios de dor para ele, o que foi bem difícil. Deixei ele descansar e fui fazer uma sopa, única coisa que ele vai conseguir comer em alguns dias. Voltei ao quarto para dar uma olhada nele e ele estava de olhos abertos olhando para o meu pôster do Chad Kroeger.
Ignorei.
Ele me olhou.
-O que veio fazer aqui? -Ele perguntou com dificuldade. -Achei que não ia querer me ver nunca mais.
-Esqueci meu celular... Nunca é muito tempo. -Ele tentou dar uma risada, mas falhou. Estava muito machucado para fazer isso sem se doer todo.
-Não foi o que pareceu ontem.
-Quer mesmo lembrar disso? -Ele negou com a cabeça e um silêncio surgiu no ar.
-Obrigado e desculpa. -Ele sussurrou e eu fingi não entender.
-Oi? -Precisava escutar aquelas palavras de novo.

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Um estranho em minha vida
RomanceFernanda é uma menina dedicada e impulsiva. Vem de uma família de atores famosos internacionalmente, mas não se importa com a fama. Como não pode simplesmente ignorá-la, aprende a viver e dar suas escapadas. Um dia, quando está voltando da escola, a...