69.

7.1K 626 42
                                    




Antes que eu pudesse pensar em uma estratégia melhor, vi o Zack entrar pela porta e senti meu coração disparar. Ele claramente se assustou em me ver ali, eu ainda estava de uniforme e deveria estar com a cara inchada de tanto chorar, sem comentar no cabelo...

-Hãm... Não achei que te encontraria aqui. -Ele falou sem graça.

-Nem eu. -Fui mais curta e grossa do que poderia. -O que faz aqui?

-Eu esqueci uma coisa no quarto e vim buscar. -Ele fechou a porta atrás de si. -Se eu soubesse que estaria aqui teria pedido.

-Não... Está tudo bem. -Falei ajeitando meu cabelo.

Ficamos sem saber o que falar, apenas olhando um para a cara do outro. Ele parecia o mesmo, só que diferente. Fisicamente, nada havia mudado, não tinha olheiras ou cara inchada. Porém, algo nele não era do Zack de sempre... Ele parecia morto e sem expressão.

-É... Eu vou lá. -Dei uma leve mexida na cabeça e vi o Zack sumir escada a cima. Quando ele voltou, carregava em suas mãos o meu livro "A menina que semeava" que eu dera para ele com uma dedicária dias depois que ele disse que podia me escutar.

Meu corpo me traiu e eu deixei um sorriso escapar. Se ele percebeu, não disse nada.

-Eu vou indo. Tchau, Fernanda. -Ele se virou e não tinha cara de quem se viraria para falar qualquer coisa.

-Zack. -O chamei e ele parou, virando-se para mim.

Eu não podia deixar ele ir embora assim. Não depois de ter passado dias sem conseguir dormir por causa dele, só querendo saber se, pelo menos, ele estava bem e estável em um lugar.

-Arrumou algum lugar para ficar?

-Sim. -Ele respondeu olhando para baixo.

-Que bom, então. -Forcei um sorriso.

Ele virou-se novamente para ir embora. Ele já havia pegado na maçaneta, mas eu tinha que abrir minha boca grande.

-Nenhum tchau? Um eu te odeio? Um obrigado? -Ele se virou para mim segurando o livro com as duas mãos. -Eu só queria umas palavras, qualquer coisa, só queria saber que estava bem! -Uma lágrima desobediente escorreu.

-Eu me senti um lixo e fiquei muito envergonhado para te dizer qualquer coisa. -Ele olhou para mim. -Eu queria poder refazer todo aquele dia e não ter saído de casa. Não tem um dia, desde aquele dia que eu não me arrependa de uma palavra.

-Por que não pediu desculpas? -Minha voz foi se alterando gradativamente. -Por que não voltou e pediu desculpas!? -Gritei e escondi meu rosto em minhas mãos.

Ele fechou os olhos e os apertou, como se minhas palavras fossem como tiros que o acertavam.

-Não tive coragem. -Ele sussurrou. Olhei para ele. -Eu sou um converde, Fernanda. Um merda de um covarde! -Ele cuspiu as palavras e junto com elas, veio uma lágrima.

-Eu fiquei esse tempo todo preocupada, querendo apenas uma notícia que estava bem, mas você foi egoísta. Eu que abdiquei meu tempo livre para ficar com você e onde ficou a sua consideração? Eu não durmo direito a dias! Toda vez que eu acordo ou que eu vou dormir, vem a lembrança daqueles caras batendo em você e eu fico desesperada, Zack! Lembro de você caído no chão dessa sala e fico me perguntando se você está caído em outro lugar enquanto eu estou aqui... Aqui sentindo ódio de você por ter ido embora e me deixado tão abalada! -Limpei as lágrimas, mas eu queria que ele o fizesse. Eu queria um abraço dele, independente de quão puta eu estava eu queria que ele me abraçasse e falasse que tudo ficaria bem.

-Me perdoa, Fernanda. -Ele caminhou em minha direção hesitante, deixando o livro no sofá.

Ficamos próximos um do outro.

-Me... Perdoa... -Ele falou pausadamente olhando no fundo dos meus olhos. -Eu não consigo tirar a imagem de você se afastando de mim da cabeça. Eu sou um merda! Eu fiz a pessoa que mais se importa comigo sentir medo de mim. Você não tem ideia o quanto eu remoou isso na minha cabeça... O jeito que você se afastou de mim com medo dos olhos... Eu falei coisas que eu não acreditava, só porque estava triste com outra coisa. Eu te magoei porque não sei separar meus sentimentos. -Ele leventou mão devagar para limpar minhas lágrimas, mas só o fez quando sentiu que eu lhe daria permissão. -Eu nunca tive porque ter dois sentimentos ao mesmo tempo na vida. Um dia tudo ia bem e eu estava feliz e então, tudo ia mal e eu não tinha um motivo para sorrir... Só me perdoa. Eu posso ir embora depois e nunca mais vol...

-Zack... -Respirei fundo. Como permanecer puta com a pessoa que você tanto gosta? Como não perdoar o Zack? Eu gostava tanto dele que seria capaz de passar por cima de tudo que aconteceu só para ter ele ao meu lado. -Eu te perdoou. -Ele abriu um sorriso de perdão e eu voei em seu pescoço. Que saudade daquele abraço...

Que saudade desse menino...

Um estranho em minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora