Um estranho em minha vida

27.

No domingo, meu irmão enfiou na cabeça que queria ir para praia e não cansou até arrumar companhia que, no caso, foi a Karina, eu e o Kauã. O Gustavo havia inventado uma desculpa idiota para não ir que o Kauã e o Miguel pareceram comprar.

-Eu não acredito que você me arrastou para praia domingo de manhã. -Reclamei. Eu estava tão bem dormindo, quando ele pulou em cima de mim e me obrigou a vir com ele.

-Para de reclamar... O que você estaria fazendo agora se não fosse estar aqui com seu maravilhoso irmão?

-Dormindo?!

-Dormir é para os fracos. -Ele respondeu, mas eu não prestei muita atenção. Ocupei meu tempo olhando para um menino muito igual ao Zack que corria meio longe da gente. Depois de um tempinho observando, concluí que era mesmo ele.

Onde a gente costumava ficar dava uns 20 minutos de caminhada para minha casa, mas parece que ele não se importou de correr esse percurso todo.

-Fernanda! -Alguém gritou meu nome e eu despertei.

-O que foi?

-Nada ué. Você tava ai olhando com uma cara estranha pro menino correndo. Eu sei que odeia correr, mas não precisa condenar todo mundo que gosta. -O Kauã falou rindo. Meu irmão logo concluiu que aquele era o menino misterioso, mas não pôde fazer nada e nem poderia.

-Vamos na água? -O Miguel perguntou desconversando.

-Bora. -O Kauã e a Karina responderam ao mesmo tempo. Os três me olharam.

-Vão vocês dois... Eu preciso falar com o Kauã um minutinho. -Ele me olhou.

Os dois deram de ombros e foram.

-Eu queria ir na água, sabia? -Ele sentou do meu lado.

-Eu também, mas você poderia não ser uma pessoa que só pensa no seu bem estar e deixar seu amigo falar com a Karina. -Ele observou os dois, que corriam um atrás do outro, rindo.

-Você acha que eles ainda podem dar certo? -Ele me perguntou os olhando, assim como eu.

-Eu acho que tudo pode ter um recomeço. -Olhei para ele, que fez o mesmo. Não ia deixar um clima estranho no ar. -Até para eles... -Voltei a olhar os dois. -Eu não sei o que aconteceu com eles, mas dá para ver que isso não mudou o que um sente pelo outro.

-Eu acho que tem muita coisa envolvida na relação deles.

-Como assim?

-Tipo... A Karina é uma menina de momento e muito intensa. Já o Miguel nunca foi bom com lidar com distância e aceitar algumas coisas. Eles são bem parecidos nisso, sem falar que os dois amam demais. Eu só acho que o Miguel tem medo. Medo de fazer a Karina passar o que ele viu você passar todos os dias por minha causa... Ele não quer que ela sofra.

-Isso é ridículo. -Fazia sentindo, mesmo assim ainda era ridículo. -Os dois sofrem igual, só que longe.

-Mas vai tentar falar isso para o cabeça dura do seu irmão? Deve ser de família isso... -Ele disse rindo.

-Eu não sou cabeça dura. -Falei me defendendo.

-Imagina! Eu que sou.

-Como juntamos os dois?

-Não juntamos, Fer... Tem coisas que amigos não devem mexer e muito menos se meter. -Me senti um tiquinho intrigada com sua frase, afinal, ficamos juntos por causa dos nossos amigos.

-Hum... -Levantei da areia um pouco chateada, mas não deixei transparecer. -Eu vou lá com eles. -Caminhei a passos largos.

-Nanda... -Ele me chamou e eu não olhei. -Fer... -Ele chamou um pouco mais alto... -Fernanda... -Na terceira vez ele me segurou no pulso, me impedindo de continuar andando e fazendo-me virar para ele.

-O que foi? -Fui curta e grossa.