Um estranho em minha vida

16.

-Não. Eu amo estar com ele e conversar com ele, mas eu não tenho certeza de nada. 

-Olha, posso ser sincera? -Assenti. -Você não tem nada a perder e também não tem nenhuma outra pessoa em mente. Por que não aproveita a vida? Tentem de novo e vai que dar certo? Você fica nessa incerteza do incerto sem tentar. Tenta e se não der certo terminem. Não importa quantas vezes vocês resolvam namorar e terminar, já foi provado que a amizade de vocês é mais forte que qualquer coisa e, pelo anjo, está para nascer uma pessoa mais passiva para brigas que você e mais compreensiva que o Kauã. 

-Eu tenho medo de o machucar. 

-Você o machuca todo dia, Fernanda. -A professora entrou na sala na hora que eu ia responder, o que foi bom, pois eu não tinha palavras para rebater esse tiro verbal que ela havia me dado. E com toda razão. Eu sabia o quanto ele gostava de mim e o quanto lutava para não passar dos limites que ele havia imposto para si próprio. Por mais que eu ache que não sinta o mesmo que eu sentia, por que não tentar de novo? Talvez eu ainda o ame e só tenha amadurecido meus sentimentos, afinal, não acho que seria saudável eu pensar nele 24 horas por dia pelo resto da minha vida... 

Parei de pensar nesse assunto e me concentrei no que a professora começou a falar. As aulas voaram e logo eu me vi em casa com a Karina e o Gustavo. 

-Vamos na piscina? -A Karina perguntou. 

-Eu fiquei de dar uma passada no hospital. 

-Você não acha que se apegou demais a esse garoto, não? -O Gustavo perguntou sem nenhuma maldade. 

-Como se apegar a alguém que não mantém nenhum contato com você? -A Karina perguntou. 

-Eu quando nasci, já tinha meu avô em estado vegetativo e sempre amei passar tempo com ele em seu quarto. Eu lhe contava altas histórias e ele parecia gostar. 

-Ele é seu avô, claro que ia amá-lo. -O mundo da Karina sempre foi o de um conto de fadas. Ela nunca teve que aturar um parente escroto ou essas coisas que muitas pessoas passam com a família.

-Errado. Ele é um ser humano. Nem todo mundo que tem seu sangue você considera família. Família é mais que sangue, é sentimento, compaixão e amor. Família você escolhe. "Família é questão de segurar sua mão quando você mais precisa". Meu avô me escutava e eu fazia companhia a ele. 

-Mas é diferente, o menino está em coma e pelo que parece tem uma ficha bem limpa. -Ela me olhou. -Por que nunca procurou a ficha dele? 

-Todo mundo tem direito a segredos, Karina. -Respondi paciente. -E sim, Gu, eu acho que me apeguei, mas não a ele diretamente, mas sim a imagem que eu criei dele. Sei que isso é péssimo, mas não deu para evitar. Agora, chega desse papo filosófico que eu preciso ir. Não quebrem minha casa. Volto umas 5 horas para me arrumar. 

-Beijos. -Os dois falaram ao mesmo tempo e eu saí. Passei no shopping como da outra vez e fui para o hospital. 

Assim que entrei no quarto, dei de cara com uma enfermeira trocando o soro. 

-Oi. -Cumprimentei sorrindo. Ela levou um pequeno susto e deu uma risada.