Um estranho em minha vida

52.

-Zack? -O chamei abrindo a porta.

-Aqui atrás. -Ele gritou da varanda.

Fui até ele e vi uma cena muito fofa. O Zack estava sentado ao lado da Milla, fazendo carinho nela e o Eros e a Belinha a cheiravam.

-Meu amor. -Falei me refirindo a Milla. Estava com tanta saudade dela. Seus olhinhos brilharam quando me viu, ela queria levantar, mas o Zack não deixou. Ela ainda estava debilitada.

Depois de brincarmos um pouco com eles, nós entramos e os deixamos quietinhos.

-Já viu que está na internet? -Entreguei meu celular para ele na notícia.

-Uma tartaruga em marte? -Ele perguntou sem entender. -Eu posso ser meio lerdo, mas não estou metamorfoseando. -Ele fez uma referência a um livro de Kafka?

Revirei os olhos.

-Não é essa... Desce. -Ele fez o que eu disse e eu só vi seus olhos arregalarem. -Relaxa, eu já vi em todos os sites, nenhum deles aparece você de frente.

-Você acha que isso que me preocupa, Bianca? -Ele me entregou o celular.

-Não é? Você vive se escondendo, sei que muita gente quer acertar contas com você.

-Eu não fujo das coisas, sei onde me enfiei quando fiz o que fiz.

-O que é então? -Ele me olhou nos olhos antes de falar. Que medo. ( não medo no sentido literal da palavra... ah, vocês entenderam).

-A gente se conhece há algumas semanas já e parece que a gente só briga. Você é o que eu mais tenho próximo de uma família no momento, é a única pessoa que parece se importar comigo de verdade e eu só consigo te afastar de mim.

-Zack, você não me afasta.

-A Fernanda disse que ...

-Quem liga para o que aquela garota disse. -Eu tenho que parar com essa mania de me ofender. Não dá em nada. -A nossa relação só não é comum, não tem nada de errado.

-Bianca, me ajuda.

-Você me pedindo ajuda? -Precisava zuar.

-Não estraga o clima, se não eu vou parar. -Pedi desculpa e ele voltou a falar como se eu não tivesse o interrompido. -Eu nunca tive muitos amigos, só a minha melhor amiga, a Sandy, aquela que gritou contigo, mas... -Ele me contou aquela história toda que eu já sabia. -Eu nunca tive muito tempo para amizades, não sei como não afastar as pessoas de mim.

-Isso tudo que está falando é muito legal, mas você que tomou a atitude ou veio tudo da Fernanda? -Ele hesitou em responder. -Eu a conheço, ela quer sempre salvar o mundo e que todo mundo se dê bem e que se ame.

-Em suma, ela disse que eu estava sendo um cuzão, só que com palavras bonitas. -Soltei uma risada. Não foi bem o que disse, mas era o que eu gostaria. -Mas a vontade de mudar e de querer te conhecer é unicamente minha.

-Por que?

-Porque eu percebi que nem tudo na vida é segredo. Ontem, enquanto eu conversava com a Fernanda, descobri várias coisas sobre ela e ela descobriu coisas sobre mim. Foi divertido, eu nunca tinha feito isso. Nós somos mais que aquilo que guardamos.

Levei semanas para perceber uma coisa sobre o Zack: ele não era fechado porque não gostava de mim ou porque não queria se aproximar, ele apenas não sabia como ser amigável. Eu tenho alguns palpites sobre sua vida, mas não sei se estão certos, mas uma coisa eu sei, ele dedicou muito tempo da infância e adolescência para cuidar dos irmãos, abdicando do próprio tempo em prol deles. Essa era a única explicação para tal fato, eu precisava, e eu ia, dar um desconto e uma relevada.

-Podemos tentar de novo? Dessa vez sem tantas barreiras? -Ele esticou a mão para mim.

Desde que ele acordou, não lembro de ter tocado nele uma vez, sem ser as vezes que foram necessárias. Ele me estendeu a mão, mas não queria apenas sua mão.

Puxei a sua mão e lhe dei um abraço. Ele, no começo resistiu ou estranhou o ato, mas me abraçou também. O medo que eu sentia em estar perto dele ou de me aproximar demais, não existia mais e parecia até idiota eu ter sentido esse medo um dia. Eu gosto do Zack e vou fazer o que estiver ao meu alcance para proporcioná-lo uma vida melhor. Não vou bancá-lo ( nunca), vou apenas o ajudar.

Como uma amiga ajuda um amigo.