Um estranho em minha vida

14.

Acordei no sábado em um pulo, mas não sei porque. Olhei meu celular e vi se tinha recebido alguma mensagem falando que algo ruim aconteceu, mas nada tinha. Levantei da cama, coloquei uma roupinha bonitinha e saí do quarto. Fui para a cozinha e não achei ninguém em casa. Por favor, alguém me explica o que está acontecendo.

-Tita? Zé? Mãe? Pai? Miguel? -Chamei todo mundo que poderia estar em casa e ninguém me respondeu. Voltei para o meu quarto e peguei meu celular. Liguei para o Miguel, mas ele não atendeu. Tentei todos os nomes que eu chamei ainda agora e nada. Olhei para o relógio e já eram 12:00, tinha que ter alguém em casa, pelo menos a Tita e o Zé. Cheguei a uma conclusão que eu não podia me desesperar e tentei ficar calma. A última vez que eles sumiram assim, foi... Merda, meu aniversário... Que dia é hoje?

Olhei a data.

Não! Falta muito tempo ainda.

Liguei para o Kauã e ele me atendeu bem rápido.

-Oi Nanda, está tudo bem? -Ele perguntou preocupado.

-Comigo sim, mas minha família inteira sumiu. -Ele deu uma risada. -Você sabe onde eles estão?

-Sei. Eles estão aqui.

-Por que ninguém me avisou nada.

-Estamos trabalhando, você iria querer vir?

-Não, mas ser avida eu gostaria.

-Desculpa, Fer. Foi minha culpa.

-Tudo bem. Até mais tarde então. Bom trabalho nessa tarde de sábado que eu vou fazer vários nadas.

-Obrigado, Fernanda. Por ser tão motivadora. Beijos. -Dei uma risada e depois deu retribuir o beijo ele desligou.

Fui para o meu quarto, aproveitando que não tinha ninguém, peguei uma mochila e coloquei as coisas da Bianca lá dentro. Saí de casa, peguei minha bicicleta e fui para o shopping que não era tão longe dali. Entrei no banheiro, fiquei um tempo lá dentro me trocando e fazendo hora. Depois de umas meia hora saí normalmente e fui para o hospital. Larguei a bicicleta uns dois quarteirões atrás e fui caminhando até lá.

-Boa tarde, gostaria de visitar o quarto 106, por favor. -Falei para recepcionista.

-Só um momento. -Ela mexeu no computador. -Vou chamar o médico.

-Está tudo bem? -Perguntei realmente preocupada. Ela não me respondeu, apenas saiu e quando voltou, um médico estava ao seu lado.

-Bianca? -Ele perguntou direcionado a mim.

-Eu. Está tudo bem com ele?

-Fizemos alguns exames para saber por que ele ainda não havia acordado e não descobrimos nada anormal. Você já pode vê-lo.

-E é só isso? Não vão tentar fazer outras coisas para descobrir?

-Sim, mas precisávamos falar com a senhorita primeiro. Como vi na fixa dele, ele não tem plano de saúde e alguns exames são bem caros e precisávamos saber se...

-Sim. Só faça os exames e me mande a conta.

-Não quer saber quanto custa? -Ele me estudava de cima a baixo e aquilo me deixou com uma raiva enorme.

-Eu disse que quero que faça os exames. -Disse forçando um sorriso.

-Como quiser. -Ele disse curto e grosso.

-Com licença. -Passei por ele fui para o quarto que ele estava.

-Ai Zack, estamos aqui, eu e você, mais um dia. Daqui a umas noites vai fazer uma semana que você está apagado e os médicos não têm ideia por que. Eu só queria entender o que está acontecendo com você, mas mais ainda queria entender o que está acontecendo na minha vida. Eu vou mesmo bancar a tagarela com você e espero de verdade que antes de me matar ou me expulsar daqui me responda se conseguia me ouvir esse tempo todo. Às vezes espero que não, pois sinto pena de você se puder... Você ai, em coma sem poder me mandar calar a boca e eu aqui, reclamando da minha vida. Acredita que hoje eu acordei e toda minha família resolveu ir para casa do meu ex, que é amigo meu, trabalhar? Por favor, né? É um sábado à tarde, quem quer ficar resolvendo coisas que podem ser resolvidas dia de semana? Eu entendo que pessoas precisam trabalhar aos sábados, e eu acho isso bem triste, de verdade, mas tem gente que só quer enfiar mais trabalho na própria vida... Enfim, minha vida não te interessa, então pensei em trazer algo mais legal, já que penso em passar a tarde toda aqui. -Vasculhei a minha mochila. -Eu trouxe o meu livro preferido "A menina que semeava", é meio real e meio fantasia e uns babacas até considerariam livro infantil, mas acho que ele tem uma puta mensagem.

Comecei a ler, parei por poucos minutos para mandar uma mensagem para meu irmão dando sinal de vida, mas, logo em seguida, voltei a ler. Quando olhei a hora, já eram quase sete da noite e já havia passado da metade do livro, faltavam pouco mais que 50 páginas para acabar e como amanhã não tinha que acordar cedo, resolvi terminar.

Exatamente 20:03 eu terminei o livro, com lágrimas nos olhos e um sorriso estampado.

-É Zack, a imaginação cria coisas infinitas... E, pode ter certeza, que tem infinitas coisas que eu imagino que vão acontecer quando você acordar, a maior parte do tempo quero que esse dia chegue logo, às vezes tenho um pouco de medo. -Levantei da cadeira para ir embora. -Amanhã eu trago algo com mais ação e um pouco menor. -Que tal uns HQ do Flash? É... Acho que vai ser isso...

-Até mais.