26.

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Acordei no dia seguinte bem cedo. Passei no mercado e comprei algumas coisas de comer e para limpar a casa. Fui para minha casa, tirei tudo que pudesse me ligar a Fernanda e coloquei no porta-malas do carro para o Zé levar para a casa dos meus pais. Deixei a mala com as roupas lá também e só levei para o hospital uma muda para que ele pudesse trocar.

-Bom dia. -Falei entrando no quarto e dei de cara com um Zack saindo do banheiro enrolado na toalha. Seu corpo não estava definido, mas para quem ficou em coma por muito tempo, estava bem. Agora, em pé, suas cicatrizes estavam mais aparentes, embora eu não tenha ficado reparando, dava para saber que eram muitas.

-Bom dia. -Ele disse sem se importar deu ter visto ele naquele estado. Tirei a muda de roupa e taquei nele.

-Se arruma e vamos logo. Comprei umas coisas para tomar café.

-Você é muito rica, né? -Ele olhou bem para cada peça de roupa que eu tinha tacado nele.

-Não. Eu só sei o que fazer com o dinheiro que tenho. Agora anda.

-Quantos anos você tem? -Ele perguntou colocando a roupa.

17.

-Minha identidade diz que eu tenho 19.

-Com o que você trabalha? -Ele parecia muito mais comunicativo que ontem.

-Eu ajudo alguns projetos sociais por ai.

-Tudo bem, saquei. Você não pergunta sobre mim e eu não pergunto sobre você.

-Isso.

-Acho que eu não sou o único com coisas a esconder por aqui.

-Nunca disse que era.

-Vamos? -Ele perguntou.

Assenti. Eu havia chamado o Zé para nos levar e fomos direto para o carro. Sem muita conversa, só com simples apresentações, ele nos deixou na minha casa e ficou parado na rua mais a frente, pois de acordo com ele não ia me deixar com um garoto estranho.

Assim que entramos na minha casa, o Zack olhou para o lugar.

-Isso que você chama de poeira? -O lugar estava bem empoeirado para pessoas que costumam, pelo menos, limpar a casa uma vez por mês. Aquilo para mim estava muito sujo, mas o fato de para ele não estar fez eu me perguntar como era o lugar que ele morava.

-Sim e uma condição de você morar aqui é deixar isso limpo e não deixar minhas plantinhas morrerem. -Ele me olhou. -É sério, se deixar minhas plantas morrerem eu te mato. -Ele arregalou os olhos e eu também. Ele começou a rir e deu de ombros.

Caminhou pela sala até chegar na cozinha, onde eu já havia arrumado a mesa.

-O que prefere? Leite? Café?

-Eu posso me virar? -Seu tom não era de "sai daqui eu não preciso de você", mas sim um pedido diferenciado de "Licença".

-Claro. -Com muito esforço contive um sorriso.

Comemos no silêncio.

-Eu te mostro o lugar. -Falei assim que acabamos de guardar as coisas do café.

-Preciso calçar meu tênis de caminhada para isso? -Revirei os olhos.

-Vamos... Aqui é a sala... Sala de jantar... Hall... Banheiro... Lá embaixo tem a sala de jogos... Aqui em cima tem três quartos e o trancado é o meu, tirando esse pode escolher um dos dois... Outra sala... Aqui fora tem a piscina, que pode usar quando quiser... Churrasqueira... Sauna e é isso. -A cada cômodo que passávamos eu fazia um breve comentário. -Regras... São poucas, mas importantes. Primeiro, não quebre nada. Segundo, não deixe minhas plantas morrerem. Terceiro, não quero ninguém perigoso na minha casa, de estranho já basta você. Quarto, minha casa não é um puteiro. Quinto, nada de drogas ou armas. Sexto, não deixe esse lugar virar um lixo. Sétimo, arrume um emprego.

-Entendido. Mais alguma coisa? -Expliquei que havia deixado umas roupas e comida e disse que quando acabasse era bom ele já ter conseguido um emprego, pois não iria comprar mais. No mais, eu entreguei um celular velho que eu tinha e salvei meu número nos contatos.

-Qualquer coisa só ligar.

Um estranho em minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora