22.

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Sem brincadeira, passamos a tarde toda naquela churrascaria. Pessoas iam e vinha e nós continuávamos ali. 

-Você acha mesmo que o Obama era protegido por um reptiliano? -Perguntei para o Gustavo. Ele estava mesmo fissurado nessa coisa de aliens. 

-Sim, é que... -Parei de prestar atenção no que ele falou assim que sentir o celular da Bianca vibrando na minha bolsa. Só podia ser do hospital, fazia séculos que alguém da dança ou do teatro ligava. 

-Alô! -O Gustavo parou de falar da sua teoria e prestou atenção em mim quando reparou qual celular era. 

-Senhorita Bianca? -Uma voz feminina falou, a mesma voz que tinha conversado comigo ontem e só então percebi que não havia perguntado seu nome. 

-Isso. 

-Estou ligando para informar que seu namorado acordou e diss estar louco para te ver. -Arregalei os olhos e pude sentir meu coração acelerar a infinitas batidas por minuto. Eu estava louca para que ele acordasse, queria isso a cada dia que passava, mas agora que ele acordou eu não sei mais o que fazer. Não sei como agir e o que dizer para ele. Eu vou chegar e falar "Oi, depois que te bateram eu trouxe você para o hospital mais caro da cidade. Me chamo Bianca e sou sua namorada fictícia". -Hãn, a senhorita está ai? 

-Ah... Sim... Oi... Eu to aqui. -Falei meio desconcetada. -Eu estou fora da cidade, mas estou partindo daqui agora para ai. Me dê uma hora. 

-Pois não. -Não podia ver seu rosto, mas sabia que estava sorrindo. 

Desliguei o telefone. 

-Ele acordou. -Falei para os meus dois amigos que me olhavam com olhos arregalados e o Miguel escutou e passou a me olhar também. 

-E o que você vai fazer? -Foi Gustavo quem fez a pergunta do milhão. 

-Quem sabe? Eu disse que estava indo para lá. 

-Você não pode ir sozinha e se ele quiser fazer algo de ruim com você? -Meu irmão perguntou. 

-Ele não vai fazer nada. -Disse sem confiar em minhas próprias palavras. Eu tinha criado uma imagem dele, não era nada perfeita, só que tinha medo de me deparar com algo muito diferente. Para mim, ele é um menino problemático e mal compreendido que perdeu tudo muito cedo e foi para um caminho torto para dar um rumo a sua vida. Não o via como um assassino a sangue frio ou um sem coração que só liga para o que tem materialmente e não o que é. 

-Ah, por favor, Fernanda. Nem você acredita nessas palavras. -O Miguel disse alterado, mas tentando manter a voz baixa. 

-Acredito sim! -Falei mais confiante. -Ele não vai fazer nada. E se eu achar que algo ruim pode acontecer é só eu ir embora, ele ainda deve ter que passar essa noite lá. 

-E quando você não voltar no dia seguinte, o que o povo do hospital vai achar? 

-Que eu tenho um projeto social em algum canto que é muito importante para mim. 

-Meu Deus, você pensa sempre em tudo? -A Karina perguntou. 

-Depois de dar muito furo você acaba aprendendo... Agora eu preciso ir. Disse que chegaria lá em uma hora. 

-Eu sou um péssimo irmão por deixar você fazer isso sozinha. Nossos pais nos matariam se soubesse o que você está fazendo e que eu compactuei com isso. 

-Se eles acham você péssimo, eu acho você incrível. -Dei um beijo nele enquanto levantava da cadeira. 

-Deixa o rastreador do seu celular ligado. -Ele disse. 

Troquei algumas poucas palavras com meus dois amigos, que me apoiaram com um pouco de medo. Inventei uma desculpa para o resto do pessoal e peguei um taxi para casa. 

Um estranho em minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora