101. fallen angel

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— michael!

Cada segundo passado era um passo para mais perto daquele precipício de pânico. O vento parecia sussurrar maldições em seus ouvidos e a neblina ameaçava tirar mais ainda de sua visão. As estrelas não eram visíveis no céu acima, cobertas pelas densas nuvens de passagem.

Michael sempre tinha de evitar o impulso de olhar para cima, buscar por qualquer sinal de Pandora. Ela estava muito além do que seus olhos poderiam mostrá-lo, a conexão entre os dois abafada pela diferença de planos; não ganharia nada olhando para o céu, a não ser a desconfiança do arcanjo que tentava enganar.

Ainda assim, continuava tentador.

— Como eu poderia saber que estão falando a verdade? — demandou o arcanjo, preso em um misto de curiosidade e precaução depois de um enorme e ensaiado discurso por parte do Langdon. — Meu irmão caído é muito bem articulado, o que prova que vocês não estão aqui a mando dele?

O Anticristo acreditara que aquilo fosse óbvio.

— Ele matou Pandora — disse, lutando contra a amargura que tomara conta dele com aquelas palavras. — Isso não é prova o suficiente?

— Para esse psicopata, não acho que seja — Lilith murmurou, mantendo intacto seu papel de uma mãe indignada com a dúvida levantada sobre sua lealdade à filha. Michael sabia que a mulher era boa em mascarar suas emoções, o suficiente para que nem ele pudesse lê-la, mas naquele momento ela se forçava a demonstrar mais do que o fazia normalmente, a fim de enganar a percepção dos anjos adiante: desviá-los do que ela verdadeiramente sentia ao presenteá-los com sentimentos falsos.

O arcanjo moveu os ombros levemente, indiferente.

— Ora, sei bem da devoção que aquela criaturinha tola tinha por você, Anticristo, mas não posso garantir que alguém de sua laia possua mesma compaixão. — Era irônico ver aquele anjo, despido de qualquer forma de empatia, falar sobre algo como compaixão. — Na mente dela, eu já estive. Nas suas, não tive o prazer de entrar.

— E jamais irá. — O estômago de Michael borbulhou. Não conseguia imaginar o que Pandora sofrera com aquele energúmeno desestabilizando-a por semanas, ouvi-lo falar daquilo com tanto orgulho o fazia querer ir contra o plano e esganá-lo bem ali.

Uriel deu um passo adiante, procurando auxiliar os demônios em sua tentativa de continuar sob a confiança do Chefe dos Arcanjos.

— Seja razoável, Michael — pediu ao irmão em voz baixa, mas confiante. — Eles não teriam nada a ganhar vindo até aqui a mando de Lúcifer. Lilith perdeu a filha, o Anticristo perdeu a amante. Se estivessem seguindo ordens de nosso irmão caído, estariam mais ocupados causando o Apocalipse de novo, e não procurando sua ajuda.

O arcanjo olhou brevemente Uriel, então voltou-se para Lilith e Michael.

— Sendo assim... — Ele não terminou de falar, os olhos claros lampejando com surpresa e fúria. Atrás, seus três irmãos tiveram reações parecidas.

Phanuel levou a mão ao peito.

— Barachiel...

De imediato, as mãos do Michael original brilharam intensamente, o ar à sua volta tremulando com a alta temperatura de seu poder.

— O que vocês fizeram? — rosnou com brutalidade. Lilith e o Anticristo não perderam tempo, adotando posição defensiva e permitindo que magia escorresse pelos seus dedos.

Michael olhou na direção de Raphael e Uriel, buscando uma direção. Os dois pareciam tão desnorteados quando ele.

Acho que eles conseguiram. — Raphael moveu os lábios, sem emitir som algum.

ME AND THE DEVIL ➸ michael langdonOnde histórias criam vida. Descubra agora