25. i told you so

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— michael!

— Michael... — Foi a primeira coisa que saiu da boca de Pandora, conforme ela claramente lutava para recobrar a consciência. — Devil Jr...

A Williams estivera inconsciente durante as últimas duas horas, recuperando a energia perdida após abusar dos seus poderes. Assim como prometera, Michael não ousou deixá-la.

Observar Pandora dormir foi, muito provavelmente, o que conseguiu acalmá-lo. Assim que a menina deitou-se sobre a cama, as palavras cruéis de Tate Langdon tomaram lugar na mente do garoto. Não queria se importar com as opiniões de um fantasma tão desprezível quanto ele, porém ouvir o próprio pai chamá-lo de monstro não seria fácil de esquecer.

— Estou aqui — garantiu, segurando a sua mão.

Pandora abriu os olhos lentamente, piscando algumas vezes. O Langdon mais novo não se cansava de passar horas analisando seu rosto — definitivamente o mais gracioso que já vira —, mas não havia nada que amasse mais que os seus olhos; suas íris brilhavam em um azul intenso e, mesmo que nunca tivesse ido à praia, ele sempre se lembrava do oceano quando os via. Enquanto sua face parecia ter sido esculpida pelos anjos, seu olhar entregava a malícia de um demônio.

— Estou acordada? — ela balbuciou, fitando-o com os olhos semicerrados.

— Sim.

— Então... Tate foi um pesadelo?

Michael negou com a cabeça.

— Infelizmente, não.

A jovem franziu o cenho, tentando se sentar na cama, ainda aparentando estar sonolenta. Logo em seguida, soltou uma fraca risada.

— Para uma criatura poderosa, eu até que sou bem fraquinha — resmungou.

— Você não é fraca — o loiro retrucou. — Não se lembra do que fez?

Ela balançou a cabeça.

— Lembro — respondeu. — E também lembro de ter apagado segundos depois.

— Não seja tão dura consigo mesma — Michael a repreendeu. — Você usou muito do seu poder, é natural que fique assim.

Pandora, no entanto, resmungou; emburrada. Michael sabia o quanto ela odiava a impotência.

— Eu não fiquei assim da primeira vez que os usei, no banheiro da escola — ela contou, umedecendo os lábios. — Nem quando fugi de casa. Por que?

O Langdon, sinceramente, não fazia a menor ideia. Então, tudo o que fez foi dar de ombros.

— Oi — Ben anunciou, chamando a atenção dos dois, que se viraram para vê-lo escorado à porta, segurando um copo d'água e um pacote de bolachas. — Trouxe água e lanche, para repor a energia.

A ruiva aceitou de bom grado o que lhe era entregue, tomando toda a água em um só gole e não tardando em abrir a embalagem de Oreo.

Ofrigafa — agradeceu de boca cheia.

— Se precisarem de mim, é só gritar. — O Hamron lançou-lhes um olhar terno e deixou o quarto, fechando a porta atrás de si.

Pandora sorriu ao passo que comia mais uma bolacha. Olhando-a assim, agindo como uma criança feliz por ter ganhado doce, era deveras difícil ligá-la à figura de horas mais cedo, quando enfrentou o espírito de Tate. Tudo o que ele conseguia pensar era o quão sortudo era por tê-la, mesmo acreditando que não a merecia.

Michael tinha feito tantas coisas ruins, coisas das quais ele se arrependia. Entretanto, seu remorso não o faria voltar no tempo. Não faria com que o seu eu mais novo entendesse que animais mortos não eram a melhor forma de demonstrar carinho. Não faria com que ele deixasse de ter assassinado a sua antiga babá apenas porque ela queimou sua comida. Não faria com que ele não tivesse atormentado sua vó o suficiente para que a levasse ao suicídio.

ME AND THE DEVIL ➸ michael langdonOnde histórias criam vida. Descubra agora