95. breathe like the flames

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— pandora!

Quando chegara em casa, não havia sinal de Michael. Apesar dos pensamentos ruins que gritavam na base de sua mente, ela surpreendentemente conseguira manter a calma. A Angemonium não passara muito tempo em Nova Orleans, portanto era plenamente possível que seu reencontro com Mead estivesse tomando dele mais algumas horas.

Não era seguro que ele estivesse fora da residência protegida, não sem Pandora ou Lilith ao seu lado. Contudo, a híbrida não era capaz nem de imaginar o tamanho conflito que o Anticristo devia ter em sua cabeça: aliar-se às antigas inimigas, mesmo que os eventos passados tivessem sido apagados da realidade; as mesmas inimigas por quem ele acreditara ter sido trocado pela única pessoa viva com quem se importava. Ela não podia negar que ele buscasse pela mulher que acreditava amá-lo tanto, não quando se juntariam àquelas que a tinham tirado dele em uma época perdida no tempo.

Ela atirara-se sobre a escrivaninha, abrindo seu diário e escrevendo seu temor de que algo pudesse ter acontecido a Michael nessa pequena concessão que abrira para que ele pudesse sair sozinho. Estava certa de que sentiria se ele estivesse sequer perto de perigo, porém não conseguia evitar a pontada de preocupação, que parecia uma lâmina pressionada contra seu peito, ainda sem força para de fato atravessá-lo.

Escrevera também sobre sua experiência com as bruxas, como era bom vê-las vivas e o alívio que sentira no momento em que aceitaram lutar ao seu lado, mesmo sabendo da verdade por trás dos acontecimentos originais. Havia corrigido mais um dos milhares de erros que cometera, estava finalmente redimindo-se consigo mesma pelas traições e mentiras que a perseguiram naquela vida fadada ao caos.

E, claro, escrevera sobre Madison. A única amiga — amiga de verdade — que tivera na vida. Era um fardo horrível carregar as lembranças de uma amizade que não poderia ter de volta; uma amizade da qual apenas ela se lembraria. Pandora queria poder abraçar a amiga aos pulos e comemorar o sucesso do plano que elaboraram juntas, queria poder contar a ela exatamente tudo o que acontecera desde o momento que recebera a mensagem de sua versão futura, e irritar-se ao comentar sobre o que fizera com que as coisas não fossem tão bem executadas quanto esperaram. Mas não podia, porque as memórias daquilo destruiriam Madison de uma maneira que nem mesmo a Angemonium poderia reverter.

Então, o que lhe restavam eram lembranças frias de algo que, de certa forma, jamais acontecera.

Depois de conseguir externar todo aquele emaranhado de sentimentos, deixara a caderneta de lado e tomara um bom banho. Não demorara até que estivesse de pijama, apagada sobre a cama que parecia tão aconchegante depois da torrente de nostalgia e ansiedade que recebera naquela noite.

Entretanto, diferente de sua cama, o reino dos sonhos não costumava ser tão gentil com ela depois de dias como aquele.

Ela acordou em um sobressalto, o coração disparado. Estava coberta em suor e lágrimas, a respiração difícil de ser regulada. Seus dedos tremiam como se um maldito terremoto acontecesse debaixo de sua pele.

Aquele pesadelo fora mais intenso que o da noite anterior.

Olhou em volta, alarmada. Seria aquilo mais um sonho? Uma novidade tosca do Inferno para abalá-la ainda mais? Estava em seu quarto, o quarto em que passara sua infância, um quarto com portas e janelas, não aquele cubículo coberto de sangue.

A não ser que fosse uma pegadinha, uma pegadinha infernal muito bem pensada para fazer com que acreditasse ter escapado daquele horror, simplesmente para encontrar um igual — ou pior.

Só havia uma maneira de ter certeza.

Saltou da cama, caminhando até seu banheiro um pouco cambaleante por conta da tremedeira e das lágrimas que atrapalhavam sua visão. Abriu o armário sob a pia, tirando dele a lâmina afiada que costumava usar quase toda noite.

ME AND THE DEVIL ➸ michael langdonOnde histórias criam vida. Descubra agora